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sábado, 30 de janeiro de 2010

Rainha da floresta

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Em 1949, o naturalista mineiro Frederico Carlos Hoehne (1882-1959), fundador do Jardim Botânico de São Paulo, publicava o livro Iconografia de Orchidaceas do Brasil, que viria a ser um dos maiores clássicos da botânica no país. Mais de seis décadas depois, a obra de 640 páginas acaba de ser relançada pelo Instituto de Botânica de São Paulo (IBt).
De acordo com Fábio de Barros, pesquisador do IBt que atua na Seção de Orquidário do Jardim Botânico desde 1981, a nova edição é praticamente uma reimpressão do original, com o acréscimo de apenas um prefácio. Se o livro não recebeu uma atualização, do ponto de vista taxonômico, por outro lado manteve integralmente seu valor histórico.
“Trata-se de um livro que marcou época. Foi o primeiro livro abrangente sobre o tema a ser de fato publicado no país. A ideia de Hoehne era fazer um apanhado sobre as orquídeas do Brasil, com uma organização sistemática, ilustrando pelo menos uma espécie de cada um dos gêneros. Foi um trabalho de extrema importância”, disse Barros à Agência FAPESP.
Segundo Barros, a edição original está fora de catálogo desde o início da década de 1980. Em sebos de São Paulo ou em sites de vendas de objetos usados na internet, a rara obra pode ser adquirida por valores que vão de R$ 900 a R$ 1.700 reais. A nova impressão custa R$ 200 e pode ser adquirida pelo correio, ou diretamente no IBt.
No livro, Hoehne se dirige a colecionadores de orquídeas, explicando em detalhes como identificar, cultivar, colher, embalar e transportar as plantas. Segundo Barros, o botânico era fascinado pelas orquídeas, às quais se referia como “rainhas da floresta”.
“Ele procura traduzir para os orquidófilos – e não necessariamente para especialistas – múltiplos aspectos do conhecimento sobre as orquídeas. Por causa dessa abordagem, o livro se tornou uma referência para orquídeas no Brasil. Hoehne alcançou seu objetivo, que era facilitar o reconhecimento dos gêneros e popularizar as orquídeas”, declarou.
Antes da obra de Hoehne, o botânico João Barbosa Rodrigues (1848-1909) havia concebido uma iconografia das orquídeas, que seria editada em francês, de acordo com Barros. Mas Rodrigues nunca conseguiu publicar a obra, que foi lançada apenas em 1996, por iniciativa de uma editora da Suíça.
O livro de Hoehne, que segundo Barros tem um caráter mais técnico que propriamente científico, tem o diferencial de abordar o tema por vários aspectos. “Ele teve o cuidado de não se limitar à taxonomia vegetal e à identificação e descrição das plantas. Há um capítulo, por exemplo, sobre a distribuição das orquídeas no país. E ele faz isso em um tom interessante, descrevendo as espécies como se estivesse fazendo uma viagem por várias regiões”, disse Barros.
Outra característica especial do livro, segundo Barros, é que Hoehne procura popularizar o uso das orquídeas em esferas que fogem ao convencional. Um dos capítulos discorre sobre o uso das orquídeas em ornamentação. “Mas ele não trata do uso da planta em si como ornamento e sim das aplicações de seus formatos e cores em design de objetos. Ele faz, por exemplo, propostas de azulejos, pisos e enfeites com ornamentação inspirada nos padrões das orquídeas”, explicou.

Pioneirismo ambiental
De todos os aspectos inovadores da obra, um chama a atenção pela atualidade: em várias partes do livro, segundo Barros, o autor faz comentários sobre a destruição das matas e sobre a necessidade de preservação ambiental. “Isso não era algo trivial no meio do século 20. Hoehne foi verdadeiramente um pioneiro em relação à preocupação com a conservação do meio ambiente”, disse Barros.
Outra preocupação pioneira de Hoehne, segundo Barros, era a divulgação da ciência para o grande público. Isso fica evidente no livro, em várias referências feitas às excursões que o botânico organizava para atrair o público e transmitir conhecimento sobre as orquídeas. Hoehne também publicou um número imenso de artigos de divulgação em jornais.
“Quando foi convidado pelo governo paulista, em 1928, para implantar o horto botânico que viria a ser o embrião do atual Jardim Botânico, sua primeira iniciativa foi o estabelecimento de uma estrutura para um orquidário. Ele justificava isso dizendo que as orquídeas eram plantas que chamavam a atenção do público e que o orquidário atrairia pessoas para visitação – o que revela uma visão muito moderna”, declarou Barros.
De acordo com Barros, a Iconografia de Orchidaceas do Brasil é uma expansão do Álbum das Orchidaceas Brasileiras e o Orchidário do Estado de São Paulo, lançado em 1930, na ocasião da fundação oficial do orquidário paulistano, para ser distribuído entre os visitantes.
“Em grande parte, esses dois livros são responsáveis pela popularização das orquídeas. Hoje, só a cidade de São Paulo tem quatro associações de orquidófilos diferentes. Desenvolveu-se uma cultura em torno da planta, que é bastante atraente, pois a maioria das espécies cultivadas é muito extravagante”, afirmou.
Nascido em Juiz de Fora (MG) em 1882, Hoehne foi autodidata e começou a trabalhar no Rio de Janeiro como jardineiro. Profundamente dedicado a estudos de botânica, atuou no Museu Nacional, na capital fluminense, e na Comissão Rondon, com a qual excursionou pelo Brasil, responsabilizando-se pelas coleções de plantas.
Em 1917, Hoehne foi convidado pelo diretor do Instituto Butantan, Vital Brazil (1865-1950), para criar um horto botânico para estudos de plantas medicinais em São Paulo, onde se instalou. Em 1928 responsabilizou-se pela implantação de um novo horto botânico na Zona Sul da capital paulista. Ali nasceu o Jardim Botânico de São Paulo, fruto de um projeto de sua autoria.
Entre 1938 e 1941, Hoehne foi diretor-superintendente do Departamento de Botânica do Estado de São Paulo. Em 1942 , tornou-se o primeiro diretor do Instituto de Botânica, cargo que manteve até 1952.
Em sua trajetória, Hoehne publicou cerca de 117 trabalhos científicos, 478 artigos em jornais e revistas e proferiu inúmeras palestras, conferências e cursos nas diversas áreas de botânica, além de editar quatro livros infantis.

• Iconografia de Orchidaceas do Brasil
Autor: Frederico Carlos Hoehne
Lançamento: 2010
Preço: R$ 200
Páginas: 640 Mais informações: (11) 5073-6300 – Ramal 313.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Em busca da computação quântica

Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – Velocidade de processamento maior do que o mais avançado computador atual – exponencialmente maior. Isso é uma das vantagens que se espera do sistema computacional baseado nos conceitos da física quântica, que atualmente ainda se encontra na teoria.
Mas pesquisas feitas em diversos países têm avançado o conhecimento na área de forma constante, como um trabalho feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que acaba de dar um passo importante para a construção do computador quântico em um futuro próximo.
A pesquisa, desenvolvida pelo Professor Walter Carnielli, do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência e do Departamento de Filosofia, e por seu orientando de doutorado, com Bolsa da FAPESP, o colombiano Juan Carlos Agudelo, dá pistas para o avanço da informática quântica ao utilizar a lógica paraconsistente como fundamento para a elaboração de algoritmos voltados a esse modelo.
O trabalho foi realizado no âmbito do Projeto Temático “Logical Consequence and Combinations of Logics – Fundaments and Efficient Applications”, apoiado pela Fundação e coordenado por Carnielli.
A computação quântica é fundamentada em conceitos criados pela física quântica como o da superposição (quando uma partícula está em diferentes condições contraditórias simultaneamente) e do entrelaçamento (quando a alteração em uma partícula provoca o mesmo efeito em outra que se encontra distante).
Segundo Carnielli, assim como a física clássica não apresenta resposta para situações de contradição em sistemas físicos, tampouco a lógica booleana, na qual os computadores atuais se baseiam, consegue responder a configurações em que as cláusulas sejam contraditórias.
A solução encontrada pelos pesquisadores foi utilizar a chamada “lógica paraconsistente”, capaz de obter resultados racionais mesmo nos casos em que duas ou mais condições não possam ocorrer (na lógica clássica) ao mesmo tempo.
Por exemplo, um comando que indique virar à esquerda e à direita simultaneamente. “Ou, mais dramaticamente, a transmissão de informações contraditórias de velocidade ao computador de bordo, como no caso da queda do voo 447 da Air France. A falta de controle racional da contradição tem como consequência, num caso desses, o desligamento do piloto automático, obrigando o comandante a pilotar sem nenhum instrumento, o que é extremamente difícil”, disse Carnielli.
Em sua tese de doutorado, intitulada “Computação Paraconsistente: Uma Abordagem Lógica à Computação Quântica”, Agudelo criou um modelo teórico que pode inspirar a criação de softwares para os computadores quânticos. “Ao elaborar circuitos paraconsistentes, simulamos uma proposta de circuitos quânticos”, disse Agudelo.
O pesquisador idealizou um computador que funciona com a lógica paraconsistente. Utilizando o esquema idealizado pelo matemático britânico Alan Turing (1912-1954), o cientista da computação esboçou uma máquina na qual corre uma fita dividida em células. A cabeça de leitura lê apenas uma célula por vez, a qual contém um sinal gráfico e um comando que corresponde a correr para a direita ou para a esquerda.
Na versão quântica, essa concepção moderna da máquina de Turing admite não um, mas um conjunto de posições que seriam inconcebíveis para a lógica clássica, como, por exemplo, um comando que faça a fita correr para a esquerda e para a direita simultaneamente. “Na lógica paraconsistente esses estados são superpostos, como se fossem empilhados”, explicou Agudelo.
Criptografia quântica
Segundo Carnielli, a originalidade do trabalho está na associação da lógica paraconsistente à computação quântica. Mesmo traçando modelos iniciais básicos, eles poderão abrir caminhos para uma produção de softwares quânticos.
A mera expectativa da computação quântica já tem aquecido o mercado de software, ressalta o professor da Unicamp. Universidades já começam a esboçar programas quânticos e empresas já anunciam sistemas de criptografia nesse novo paradigma.
“Os sistemas de criptografia atuais se baseiam em um código formado por um número grande que, para ser quebrado, deve ser decomposto em números primos”, explicou. Quanto maior forem esses fatores primos, mais difícil será a descoberta do código.
No entanto, com o advento do modelo de processamento quântico essa criptografia tradicional será atacada com muita facilidade, estima Carnielli. “O esquema criptográfico conhecido como RSA, largamente utilizado no comércio digital, em bancos e compras com cartões de crédito pela internet, baseia-se no fato de que é computacionalmente muito difícil conseguir fatorar um número grande no produto de dois números primos”, disse.
“O tempo estimado, por exemplo, para se conseguir fatorar um número de 2048 bits (chave de uma criptografia RSA) ultrapassaria a idade da Terra. Um algoritmo quântico, no entanto, realizaria essa tarefa em menos de 6 horas. Dessa forma, com os computadores quânticos as chaves RSA perderiam completamente sua eficácia. Esse problema motivou a criação da criptografia quântica. Nessa tendência, crescem os investimentos feitos em pesquisas de criptografia quântica a fim de fazer frente aos futuros computadores e apresentar um sistema de codificação praticamente inexpugnável”, disse.
Para o professor da Unicamp, as máquinas quânticas devem começar pequenas. “Antes do computador quântico, devem surgir estruturas mais simples, como o chip e o mouse quântico”, indicou.
Para tanto, é fundamental uma engenharia de software que contemple o novo paradigma. Por conta disso, o trabalho feito na Unicamp tem chamado a atenção da comunidade internacional.
A tese de Agudelo gerou um artigo produzido em parceria com Carnielli (Paraconsistent Machines and their Relation to Quantum Computing –odoi:10.1093/logcom/exp072k), publicado em 2009 no Journal of Logic and Computation, publicação da editora da Universidade de Oxford, e está sob avaliação de outros periódicos especializados.
Carnielli ressalta que a computação quântica é uma nova fronteira a ser explorada do ponto de vista científico, industrial e comercial. “Aspectos essenciais a serem explorados são as correlações não-clássicas e a grande variedade de graus de liberdade em alto grau de desempenho computacional. A questão é estratégica a ponto de não poder ser negligenciada em nenhum aspecto da computação, ainda mais quando se têm presentes as limitações impostas pela chamada Lei de Moore”, disse.
Um projeto ambicioso envolvendo um time de especialistas e parceiros estratégicos, liderado por Waldyr Alves Rodrigues Jr. (Steriwave Quantum Computing UK-Brazil e Unicamp), Dario Sassi Thober (Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun, de Campinas) e Carnielli pretende atacar a questão sob vários aspectos, incluindo matemática, física, lógica, engenharia de processos e e-comércio, focando em especial as áreas de lógica quântica e criptografia quântica e suas aplicações comerciais e industriais.
“O projeto, que envolve alto custo e considerável complexidade, encontra-se em fase de negociação para financiamento por parte de empresas estrangeiras, prevendo um prazo de implantação inicial de dois anos e a criação de empresas incubadas”, explicou Carnielli.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ludwig e os Morcegos Preguiçosos

Um comentário a uma resposta dada pelo Ludwig.

Mais uma forma de vida que se recusou a evoluir durante os mitológicos "milhões de anos".
O fóssil mais antigo de morcego é classificado como morcego porque, se fosse classificado como outra coisa qualquer, já não seria o mais antigo fóssil de morcego. Isto só mostra que tudo o que classificamos como fóssil de morcego é considerado um fóssil de morcego.“
O Ludwig está a tentar fazer um jogo de palavras muito subtil, mas que é manifestamente enganador.
O que o post diz é que a primeira vez que o morcego aparece na interpretação darwinista do registo fóssil (sempre fiável, como nós sabemos), ele está essencialmente igual ao morcego de hoje. Onde está a evolução?
Dito de outra forma, onde está o proto-morcego que evoluiu para o morcego actual? Não deveria o morcego primordial ser menos evoluído que o actual? (Bem, esta até uma pergunta fácil de responder, porque os evolucionistas provavelmente dirão que os animais mais antigos eram mais simples, excepto aqueles que não eram mais simples).
O malabarismo semântico de Ludwig é apenas uma forma de esconder o padrão não-evolutivo do registo fóssil.
Sim, o primeiro morcego que se sabe é um morcego normal, mas isto, diz o Ludwig, é porque nós resolvemos dar a essa forma de vida o nome de "morcego". Pois bem, mas onde está o o animal a partir do qual o morcego evoluiu?
O Ludwig não tem resposta porque a ciência não confirma a evolução do morcego (nem a evolução de qualquer outra forma de vida).
O Ludwig sabe disso, e por isso ele redefine evolução apenas como "variação das características herdadas".
Desta forma, basta mostrar um exemplo de variação" (fenómeno não controverso entre cientistas criacionistas e cientistas evolucionistas), e com isso concluir que a evolução "é um facto".
Como os evolucionistas não conseguem oferecer evidências para a evolução que eles usam contra Deus (peixes-para-pescadores), eles oferecem evidências exclusivas para a evolução algo com a qual toda a comunidade científica criacionista está de acordo (gatos-para-gatos, cães-para-cães, etc).

“Mats”

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Leitores de formas

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – As propriedades dos objetos são frequentemente determinadas por suas características geométricas. Por isso, a chamada análise e classificação de formas, quando empregada no contexto computacional, gerando algoritmos, tem inúmeras aplicações científicas e tecnológicas.
O objetivo do livro Shape Analysis and Classification: Theory and Practice, cuja segunda edição acaba de ser lançada, é consolidar o conhecimento internacional na área e apontar os rumos das pesquisas contemporâneas sobre a análise de formas.
Os autores da obra, que teve sua primeira edição lançada em 2001 e hoje é adotada em universidades do Brasil e do exterior, são dois professores da Universidade de São Paulo (USP): Luciano da Fontoura Costa, do departamento de Física e Informática do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), e Roberto Marcondes Cesar Junior, do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME).
De acordo com Cesar Junior, a nova edição foi totalmente revista e ampliada, incluindo um capítulo inédito sobre reconhecimento estrutural, fruto de novas pesquisas desenvolvidas no âmbito do Projeto Temático “Modelagem por redes e técnicas de reconhecimento de padrões: estrutura, dinâmica e aplicações”, coordenado por ele e apoiado pela FAPESP.
“A área de análise de formas tem o intuito de criar métodos matemáticos e computacionais capazes de analisar formas a partir de imagens. O principal objetivo é criar algoritmos e softwares que fazem análises automatizadas”, explicou.
Segundo o pesquisador, existem bons livros na área de reconhecimento de padrões, mas a análise de formas propriamente dita só havia sido abordada até agora de forma limitada, em obras de matemática e biologia que tratam de técnicas de morfometria, por exemplo.
“Sentíamos falta de um livro que agregasse o conhecimento acumulado na área, com uma visão computacional. Por isso, procuramos oferecer, no livro, uma visão ampla, apresentando todas as fases da análise de formas, desde o processamento da imagem e da criação de algoritmos até a classificação de formas, que é conclusão do processo”, afirmou.
A análise de formas, de acordo com Cesar Junior, é utilizada em aplicações que já fazem parte do cotidiano, como os scanners capazes de analisar uma imagem, reconhecer os caracteres pela forma e gerar um arquivo de texto.
“Para desenvolver o software capaz de reconhecer as fontes, é preciso analisar a forma dos caracteres. Essa é uma aplicação bem-sucedida e já bastante corriqueira da análise de formas. Outra aplicação mais complexa é o reconhecimento de caracteres manuscritos, como assinaturas. A variação de formas é muito maior, mas os algoritmos estão cada vez mais aprimorados”, disse.
Ouro exemplo de aplicação são os dispositivos de reconhecimento por biometria. “Vários edifícios já utilizam controle de acesso por meio de aparelhos que reconhecem a forma das impressões digitais ou da mão. O algoritmo desenvolvido para isso também é fruto da análise de formas”, disse.

Softwares e algoritmos
O livro apresenta as técnicas de reconhecimento de formas não apenas para alunos de computação, mas também para os interessados em aplicações em inúmeras outras áreas.
“Trabalhamos em pesquisa multidisciplinar, mas as aplicações são especialmente úteis para a área de biologia, por exemplo, na análise de formas de neurônios, de vasos sanguíneos, de ossos e do fundo da retina, no caso de exames oftalmológicos”, disse o professor do IME-USP.
Além da pesquisa realizada há quase 20 anos pelos autores, a obra também faz uma revisão da literatura internacional sobre o tema. “A ideia é que o livro fosse uma referência na área, por isso ele contém nossas pesquisas e é também uma revisão. Além disso, agregamos bastante da nossa própria experiência ministrando aulas sobre análise de formas”, contou Cesar Junior.
Uma das preocupações centrais dos autores era tratar do tema do ponto de vista computacional, remetendo às bases matemáticas da análise de forma. “Quisemos apresentar detalhadamente todo o processo de análise de formas, desde o fundamento matemático até a produção de algoritmos propriamente dita”, afirmou.
A obra, segundo Cesar Junior, apresenta diversos softwares livres desenvolvidos pelos autores. “Esses programas estão disponíveis na internet para que os leitores possam utilizá-los para aprender e para aplicação prática”, disse.
O último capítulo do livro, que não fazia parte da primeira edição, trata de reconhecimento estrutural, apresentando algoritmos desenvolvidos em pesquisas do Projeto Temático, cuja conclusão está prevista para meados de 2011. Cesar Junior conta que há vários alunos de doutorado, com bolsas da FAPESP, trabalhando na área de reconhecimento estrutural, explorada pelo projeto.
“Uma parte da técnica de análise de formas se fundamenta nas medidas globais do objeto. Mas podemos também fazer a análise com base na divisão do objeto em partes. Para reconhecer se um tumor é maligno, por exemplo, podemos calcular seu tamanho em relação às estruturas à sua volta”, disse.
“A caracterização passa a ser feita, então, em função das partes, o que é uma grande diferença. É uma abordagem baseada em decomposição: a divisão em partes e a organização espacial são os elementos fundamentais do reconhecimento estrutural”, completou.

• Shape Analysis and Classification: Theory and Practice
Autores: Luciano da Fontoura Costa e Roberto Marcondes Cesar Junior
Lançamento: 2009
Páginas: 685
Preço: US$ 103,96
Mais informações: www.amazon.com

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Produtividade e economia

Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – Produzir leite de cabra em criações confinadas garante uma produção 60% maior em comparação com um rebanho criado no pasto. Em contrapartida, a manutenção dos animais soltos é pelo menos 50% mais econômica.
Essa foi uma das conclusões da pesquisa coordenada pelo professor Heraldo César Gonçalves, do Departamento de Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu.
Durante quase dois anos, o grupo fez experimentos na Fazenda Lageado, pertencente à faculdade, com apoio da FAPESP na categoria Auxílio à Pesquisa – Regular para o projeto “Sistema de produção de caprinos de leite e carne a pasto”.
Segundo Gonçalves, o trabalho é importante para o produtor ter mais informações na hora de escolher o melhor modo de criação, de acordo com suas possibilidades e objetivos. “Não há um modo ideal para se criar os rebanhos, ambos apresentam vantagens e desvantagens”, afirmou.
As diferenças não estão somente na quantidade e no custo do leite, mas também na qualidade. A equipe averiguou que o leite dos animais de pasto contém mais matéria seca. Isso significa maiores teores de proteínas, gordura e lactose. Já os animais confinados produzem leite menos concentrado, devido à produção maior promovida pelo confinamento.
Entre as raças analisadas, a alpina foi a que apresentou maior produção, fornecendo entre 2 e 2,5 litros por dia. Em compensação, os exemplares dessa raça exigem uma dieta com suplementos e, portanto, mais cara, além de serem menos tolerantes ao calor, por causa de sua origem europeia.
Outro grupo racial analisado, fruto do cruzamento da alpina com a raça boer, apresentou leite com maior teor de lactose e de extrato seco desengordurado. Os animais desse grupo também têm carne de melhor qualidade além de maior potencial de ganho de peso durante a fase final da engorda em sistema de confinamento.
Outro foco da pesquisa foi a comparação entre dois períodos de desmame: aos 120 dias e sem suplementação alimentar e aos 60 dias com suplementação. Os pesquisadores concluíram que a dieta suplementar compensa o estresse do desmame e da falta da mãe e do leite. Os cabritos desse grupo também tiveram maior desenvolvimento muscular e distribuição de gordura mais adequada.
Diferenças na carne
A produção de animais para o abate também foi particularmente analisada. De acordo com a pesquisa, as cabras confinadas apresentaram carne de melhor qualidade. “A carcaça tem melhor distribuição de gordura, o que resulta numa aparência melhor na hora da comercialização”, disse Gonçalves.
Os animais soltos apresentaram carcaças mais magras, com menor volume de carne e gordura. O pesquisador esclarece que a principal vantagem dessa distribuição física está na aparência da carne. “O consumidor tende a comprar carnes que considera mais bonitas”, indicou. Por esse motivo, a criação em confinamento de caprinos de corte é mais lucrativa ao produtor.
A despeito dos resultados da pesquisa, Gonçalves aconselha o produtor a analisar o seu próprio caso e optar pelo tipo de criação que se adaptar melhor aos seus objetivos e às suas condições de manejo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Requiem da Ginjinha

Perdemos a ginjinha do Rossio
E as bolas-de-berlim ao sol de Agosto.
Os pés hão-de deixar de fazer mosto
E o medronho de dar combate ao frio.
A varina, coitada, está sem pio.
A fruta unificada não tem gosto.
O jornal das castanhas foi deposto,
Mas Portugal ganhou o desafio.
Não temos quem nos ponha em risco a vida.
E se nos pesa muito qualquer carga,
Basta alijá-la logo na subida.
Já ninguém usa lança nem adarga,
Os burros são espécie protegida,
E a escola de Medrões tem banda larga.
In Aspirina B

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PARA TODOS OS QUE TÊM DE LIDAR COM CLIENTES IRRITANTES, OU COM PESSOAS QUE SE ACHAM SUPERIORES AOS OUTROS...

Aprendamos com uma funcionária da TAP!!!

'Destruamos' um ignorante, de forma original... É tão simples!... Vale a pena ler...

Uma funcionária da TAP, em Lisboa, deveria ganhar um prémio por ter sido esperta,
divertida e ter atingido o seu objectivo, quando teve que lidar com um passageiro que
o que merecia mesmo, era voar no porão da bagagem!

Um voo sobrelotado da TAP foi cancelado (por razões óbvias!).
Uma única funcionária, atendia e tentava resolver o problema de uma longa fila de passageiros.
De repente, um indivíduo irritado passou por toda a fila, atirou o bilhete para cima do balcão e disse:
- Eu tenho que ir neste voo, e tem que ser em Primeira Classe.
A funcionária respondeu:
- O Sr. desculpe, terei todo o prazer em ajudá-lo, mas tenho que atender estas pessoas primeiro,
pois estão pacientemente na fila, há algum tempo. Quando chegar a sua vez, farei tudo para poder satisfazê-lo.
O passageiro, irredutível, disse bastante alto para que todos na fila ouvissem:
- Você por acaso, faz alguma ideia de quem eu sou?
Sem hesitar, a funcionária sorriu, pediu licença, pegou no microfone e anunciou:
- Atenção, atenção, por favor!!!
A sua voz ecoou por todo o terminal, e ela continuou:
- Encontra-se junto deste balcão, um passageiro que não sabe quem é, devendo estar perdido!
Se alguém for parente, responsável pelo mesmo, ou puder ajudá-lo a descobrir a sua identidade
solicitamos que compareça no balcão da TAP. Muito obrigada!
Com as pessoas atrás dele, rindo desalmadamente, o homem olhou furiosamente
para a funcionária, rangeu os dentes e disse, gritando:

- Vou-te f*der!!!
Sem pestanejar, ela sorriu e disse:

- Desculpe, meu caro senhor, mas, mesmo para isso, vai ter que esperar na fila

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sabe se Lisboa é perto de Lisbon?

Pensar que o Algarve é uma cidade portuguesa, que Lisboa e Lisbon são coisas diferentes e que os sinais de trânsito em Portugal não são iguais aos dos outros países, são erros que os turistas fazem quando nos visitam.
E, ainda, há quem pense que há uma vidente em cada esquina ou que pode esconder a mulher num qualquer cantinho português. A recolha destas e outras "perguntas estranhas", um eufemismo para "disparates" dos visitantes, foi feita pelo site de reservas hotel.com, em postos de turismo de várias cidades europeias. E conclui que, "quando somos turistas, não temos medo de perguntar nada, como se o espírito das férias nos tornasse imunes à vergonha!"
O que os turistas não tiveram vergonha de perguntar…
ITÁLIA
- Desculpe, a que horas são as corridas de carroças no Coliseu?

- Quando é que os gladiadores começam a lutar no Coliseu?
- Posso dormir nas catacumbas?
- (numa exposição do Museu Egípcio) Esta múmia é uma pessoa morta?
- (num resort montanhoso) Que montanhas lindas! A neve é real ou artificial?

- (num resort montanhoso) Olá, onde é que fica a praia?
PORTUGAL

- Importa-se que eu me esconda aqui até a minha mulher se ir embora?
- Disseram-me que a vidente era aqui…
- As pegadas de dinossauros são verdadeiras?
- Quem foi o homem que fez estas pedras? (referindo-se às grutas)
- É aqui a casa de banho pública?
- (no Algarve) Onde é que fica aquela cidade bonita chamada Algarve?
- (no Algarve, perguntado por uma idosa com bengala) É possível ir a pé até Espanha?
- Sabe se Lisboa é perto de Lisbon?
- Os sinais de trânsito em Portugal são iguais aos de Inglaterra?
REINO UNIDO
- Pode dizer-me por onde passa a ”Tour Mistério”?
- Onde é que encontramos casas com chapéus de palha?
PAÍSES BAIXOS
- Onde é que encontro esta vila de vacas? (apontando para uma foto de uma vaca num mapa)
- Onde é que posso ir para ver a maratona de patinagem no gelo? (durante o Verão)
- Onde é que posso encontrar o centro histórico de Roterdão? (perguntado por alemães, sendo que o Exército Alemão destruiu a cidade durante a II Guerra Mundial)
- Onde é que encontro um soutien, tamanho de copa G?
- Qual é a razão para tantas caixas de pássaros à beira da estrada? (referindo-se às caixas de correio)
IRLANDA

- Onde é a floresta de duendes?
- Não acredito que vocês também têm telemóveis cá!
- Porque é que não aceitam dólares?
- Todas as pessoas falam inglês neste Posto de Turismo?
FRANÇA

- Qual é a diferença entre Paris e o resto da França?
- Os barcos do Sena mexem-se mesmo ou ficam só atracados?
- Onde é que encontro a senhora com o sorriso? (referindo-se à Mona Lisa)

- Os esgotos de Paris são debaixo de terra?
- O Hotel Gay Lussac é só para homossexuais?
ESPANHA

- A que horas fecha a Puerta del Sol?
- Onde é a praia? (em Madrid)
SUÉCIA

- Podemos levar o nosso porquinho-da-índia de férias para a Suécia?
- Até que distância de Estocolmo é que temos que viajar para ver ursos, alces e lobos na floresta? Há autocarros para lá?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Você é Livre?

Acordo na hora que eu quero, trabalho na hora que eu quero. Divirto-me na hora que "dá na telha" e faço uma boquinha quando tenho fome. Vou ao banheiro apenas quando meu corpo pede (e se não for uma ordem, espero acabar aquilo que estou fazendo).

Acontece que, de vez em quando, o telefone toca. Devo atendê-lo? É certo que este ato não está determinado pela minha fisiologia, por isso a pergunta final:

"Posso exercer a minha pseudo-liberdade FAZENDO aquilo que eu NÃO QUERO só pelo simples fato de ter consciência que eu poderia não tê-lo feito?"

Aprendi que estou preso pela minha ilusão de liberdade, e ainda que as minhas escolhas foram determinadas pelo meio. Bom, mas não ótimo.

Cito Balada do Louco (Ney Matogrosso na época dos Secos e Molhados) e Raul Seixas, a metarmofose ambulante recebeu uma boa dose de osmose social ao decidir cantar "Plunct Plact Zum" na Rede Globo. Para entender, leia "O Livro da Lei" da besta do apocalipse.

Acho que a liberdade existe para aqueles que se pensam livres. A resposta para a minha pergunta poderia ser: sim. Fazer aquilo do telefone sabendo-se não obrigado é uma mostra de liberdade, pelo menos para nós, pobres e iludidos felizes.

Quero dizer que não importa o fato (ser ou não ser livre), mas como você se sente - ou melhor - se você é ou não feliz sendo aquilo que pensa que é.


by Lupo, primeira publicação em 18/08/2004

Do cérebro ao coração

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – O doutorando Fernando Vagner Lobo Ladd, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ganhou o prêmio José Carlos Prates 2009, concedido pela instituição aos melhores trabalhos apresentados durante o 12º Congresso do Programa de Pós-graduação em Morfologia.
O trabalho, intitulado “Cardiomiopatia induzida por ácido 3-nitropropiônico (3-NP) em camundongos – possível modelo de estudo para a doença de Huntington (DH)”, foi escolhido o melhor pôster de doutorado nas categorias Anatomia, Biologia Celular, Biologia do Desenvolvimento, Histologia e Genética, entre 83 trabalhos inscritos.
O estudo tem apoio da FAPESP na modalidade Bolsa de Doutorado e está sendo desenvolvido sob orientação do professor Antonio Augusto Coppi, responsável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP).
A doença de Huntington (DH) é uma desordem neurodegenerativa hereditária que afeta principalmente o sistema nervoso central e atinge cerca de 50% dos filhos de pais e mães portadores da doença.
A pesquisa associa o estudo estereológico (morfológico) em três dimensões a uma abordagem multidisciplinar que envolve análise comportamental, funcional e bioquímica. O objetivo é caracterizar um modelo para se estudar os mecanismos pelos quais a DH ocasiona cardiomiopatias.
Para obter resultados preliminares, os pesquisadores injetaram em camundongos o ácido 3-nitropropiônico (3-NP), que é o modelo químico estabelecido para provocar a doença.
“Induzimos em animais o ácido nitropropiônico para quantificar o tamanho e o número total de neurônios cardíacos e de fibras musculares do miocárdio e ver se existe atrofia ou hipertrofia e, ao mesmo tempo, investigar se há redução de neurônios no sistema nervoso central”, disse Coppi à Agência FAPESP.
“Nos camundongos que receberam a droga, observamos principalmente uma hipertrofia no ventrículo esquerdo do coração, seguida de um aumento na frequência e na desnervação cardíaca vagal”, contou.
De acordo com o professor associado da FMVZ-USP, a ideia é tentar investigar se a droga causa alteração no coração e, simultaneamente, no encéfalo. “O objetivo é ver se esse pode ser um bom modelo para estudar a doença de Huntington”, disse.
A DH é considerada uma doença neurológica – causada por uma mutação em um gene do cromossomo 4 – cujos sintomas mais frequentes são perda de células em uma parte do cérebro denominada gânglios da base (núcleo estriado), que afeta a capacidade cognitiva.
O mais marcante dos sintomas são os movimentos descoordenados do tronco e dos membros, seguidos por deficiências cognitivas (demência) e um amplo espectro de distúrbios psiquiátricos, notadamente depressão e alucinações.
“Mas estudos epidemiológicos mostram também que os problemas cardíacos são uma importante causa de morte entre os pacientes portadores da doença, estando relacionados a 30% dos óbitos entre os pacientes com DH”, disse.

Abordagem multidisciplinar
Coppi ressalta que os mecanismos de comprometimento cardíaco em relação à doença permanecem desconhecidos e pouco estudados tanto clínica como morfologicamente.
Os principais achados na literatura identificam a disfunção autonômica em 44% dos pacientes portadores da DH, ou seja, um prejuízo nas atividades involuntárias do sistema nervoso periférico, envolvendo tanto o sistema simpático (excitatório) como o parassimpático (inibitório).
Segundo o pesquisador, nos pacientes com DH detecta-se um desequilíbrio na inervação cardíaca. Essa relação, aponta, estaria associada ao fato de que a destruição primária dos neurônios do núcleo estriado afeta – direta ou indiretamente – os centros autonômicos onde se origina a inervação cardíaca.
“Contudo, não se destaca uma ação direta da DH em destruir primariamente os neurônios de dentro do coração sem qualquer dependência das lesões do sistema nervoso central”, disse. Neurônios não estão presentes apenas no cérebro, mas também no coração e em outros órgãos, como, por exemplo, bexiga urinária, estômago e intestinos (neurônios entéricos), entre outros.
De acordo com a Associação Brasil Huntington, atualmente cerca de 30 mil pessoas têm DH nos Estados Unidos e outras 150 mil estão em risco, mas não há dados sobre a incidência da doença no Brasil.
O próximo passo, segundo Coppi, será utilizar animais geneticamente modificados, ou seja, que já têm o gene da doença. “Vamos analisar o que acontecerá com o coração e com o encéfalo do animal e avaliar se haverá similaridade com o que esperamos encontrar com o modelo químico”, disse.
O professor destaca o caráter inovador do projeto, que pretende contribuir para a explicação dos mecanismos pelos quais a DH ocasiona as cardiomiopatias.
“Os poucos trabalhos publicados na literatura médica que tentam explicar os efeitos da DH no coração realçam a importância de pesquisas experimentais que possam elucidar esses mecanismos por meio de uma abordagem multidisciplinar”, disse, ao destacar a participação de outros colaboradores no estudo, entre os quais docentes da FMVZ-USP, Unifesp e da EEFE-USP.
Mais detalhes sobre a pesquisa podem ser obtidos com o professor Coppi por e-mail (guto@usp.br, skype (antonio.augusto.stereo) ou visitando o site do LSSCA (www2.fmvz.usp.br/lssca).

A lógica do engodo

Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – Uma pessoa é abordada na rua por um vendedor que oferece a assinatura de uma revista por três meses grátis. Animada, preenche o formulário e, no quarto mês, nota um desconto na fatura do cartão de crédito. Liga para reclamar e argumenta que pensou que só receberia durante três meses. O representante da revista responde: “Em nenhum momento demos essa informação. É você que deveria cancelar a assinatura para não ser descontado”.
A situação ilustra um tipo de truque que utiliza a nossa própria maneira de pensar, e até o nosso conhecimento, para nos enganar. Estabelecer um modelo lógico para essa relação é um dos trabalhos desenvolvidos pelo professor Walter Carnielli, do Departamento de Filosofia e do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Carnielli apresentou essa pesquisa no seminário “Raciocínio Baseado em Modelo em Ciência e Tecnologia”, realizado na Unicamp entre os dias 17 e 19 de dezembro no âmbito do Projeto Temático “Logical Consequence and Combinations of Logics – Fundaments and Efficient Applications”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Carnielli. O evento teve parceria das universidades italianas de Pavia e de Siena.
O estudo é uma continuação do trabalho sobre lógica e argumentação que gerou o livro Pensamento crítico: o poder da lógica e da argumentação, lançado este ano por Carnielli em parceria com Richard Epstein, diretor do Advanced Reasoning Fórum no Novo México, Estados Unidos.
O exemplo da assinatura de revistas é usado pelo professor para ilustrar o problema. “Quero mostrar como alguém se torna vítima da própria inteligência ao ser enganado dessa forma”, contou. Segundo ele, o enganador acaba se munindo de argumentos lógicos ao não contar toda a verdade e o enganado é guiado por suas próprias inferências que não são incorretas, mas beneficiam quem pratica o engodo.
Carnielli explica que isso ocorre porque nas discussões e nos argumentos em geral se é chamado a utilizar o chamado Princípio da Discussão Racional ou Princípio da Caridade. “Para melhor levar adiante uma discussão ou um argumento temos de supor sempre o melhor dos outros, e acabamos concedendo ao nosso oponente a chamada racionalidade máxima.”
O processo não termina por aí. Depois de supor que o interlocutor tem pontos positivos e quer fazer o melhor, esse pensamento é amplicado por meio de um processo lógico chamado de consistência maximal.
Como exemplo, de volta à cena inicial. “Após acreditar no vendedor, nós tomamos a empresa que está oferecendo a revista como conceituada e de grande porte, portanto incapaz de querer nos prejudicar”, disse o professor da Unicamp.
O lado irônico da pesquisa é que esse tipo de golpe costuma atingir as pessoas mais racionais e mais bem preparadas intelectualmente. “Cair no truque não é burrice, mas uma resposta racional a uma manobra maliciosa”, ressaltou. Por terem um entendimento restrito da proposta, segundo aponta, indivíduos com menor escolaridade assumiriam menos suposições e, por consequência, menos riscos nesse caso.
Falácias desse gênero são utilizadas frequentemente para fazer consumidores adquirirem produtos que não querem, pagar por itens adicionais que não foram solicitados e arcar com ônus que não foram explicitados em uma contratação.
Por isso, Carnielli acha que esse tipo de truque deveria ser previsto na legislação. “Isso é pior do que mentira. O mentiroso deve se preocupar com a verdade para tentar escondê-la, enquanto os embrulhões criam uma ‘situação pirata’ que se afasta da lógica, mas nos forçam a usá-la a seu favor”, destacou.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Erupção profunda

Agência FAPESP – A mais profunda erupção vulcânica de que se tem notícia foi descoberta no Oceano Pacífico, próximo aos arquipélagos de Fiji e Samoa, a 1,2 mil metros abaixo da superfície. Indícios da existência do vulcão submarino, denominado West Mata, foram encontrados no fim do ano passado, mas confirmados apenas em maio último.
Agora, os cientistas responsáveis pela descoberta, em missão financiada pela National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e pela National Science Foundation (NSF), divulgaram vídeos e fotos da erupção. É o primeiro vulcão submarino filmado em plena atividade, algo que os cientistas tentam fazer há mais de 25 anos.
O resultado, segundo os autores, é “espetacular”. As imagens produzidas incluem grandes bolhas de lavas com cerca de 1 metro de largura que são lançadas na fria água do mar e jatos vermelhos brilhantes de lava ejetada.
Outra novidade conseguida foi a obtenção de imagens de lava avançando pelo fundo oceânico. Sons da erupção foram gravados por um hidrofone e depois montados junto às imagens.
“Encontramos um tipo de lava que nunca havia sido vista durante a erupção de um vulcão ativo”, disse o cientista-chefe da missão Joseph Resing, da Universidade de Washington.
As imagens foram produzidas pelo robô submarino Jason, que os cientistas conseguiram levar a poucos metros da erupção. “Em terra, ou mesmo em águas mais rasas, não seria possível chegar tão perto e conseguir registrar tantos detalhes”, disse Bob Embley, da NOAA, outro integrante da missão.
Os vídeos foram apresentados no dia 17, em San Francisco, na conferência anual da União Geofísica Norte-Americana.
O vulcão West Mata está produzindo lavas do tipo boninite, que estão entre as mais quentes das erupções ocorridas em tempos modernos. Segundo os cientistas, registros de lavas semelhantes às do vulcão submarino foram encontradas apenas em vulcões extintos há mais de 1 milhão de anos.
“O resultado é que, pela primeira vez, podemos examinar, com bastante proximidade, a maneira com que as ilhas oceânicas e os vulcões submarinos são formados”, disse Barbara Ranson, diretora da Divisão de Ciências Oceânicas da NSF.
Os pesquisadores estimam que 80% da atividade vulcânica terrestre ocorra nos oceanos, com a maioria dos vulcões localizada em grandes profundidades. Até esta descoberta, a NOAA e a NSF vinham financiando pesquisa em vulcões submarinos há 25 anos, sem conseguir registrar uma erupção profunda.
Vídeos e fotos da erupção podem ser vistos em: www.noaanews.noaa.gov/stories2009/20091217_volcano2.html