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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A vida, por Woody Allen

*A minha próxima vida*

Na minha próxima vida, quero viver de trás pra frente. Começar morto, para despachar logo o assunto. Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia. Trabalhar 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável, até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo. E depois, estar pronto para o secundário e para o primário, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades. Aí torno-me um bébé inocente até nascer. Por fim, passo nove meses flutuando num "spa" de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto a disposiçao e com um espaço maior por cada dia que passa, e depois - "Voila!" - desapareço num orgasmo.

Woody Allen

A mentira‏


Tenho um amigo que gosta de contar vantagem.  Um autêntico contador de lorotas de fazer inveja aos novelistas e romancistas de plantão. Tomado pelo delicioso anestésico da mentira, ele está sempre se preparando e ensinando para sacar mais uma; se lançando totalmente à cena do escopo da mentira de ocasião – espécie de pecado capital.
            O ato mórbido da mentira, a chamada mitomania, é mais comum do que se pensa. Pelo menos, a margem que separa a mentirinha de todo dia do mentiroso convicto parece estar cada vez mais estreito. Muitas vezes, o vício é justificado por nenhum motivo, ao menos aparente. É cada vez mais comum indivíduos que mentem pelo simples prazer de fantasiar.
            Na história e na literatura, há muitos famosos com distúrbio de mitomania. Quem não se lembra da dupla João Grilo e Chicó, de o Auto da Compadecida, e do Barão de Münchhausen que se vangloriava de ter atravessado uma linha de inimigos montado em uma bala de canhão.
            Pensando bem, nem toda mentira tem perna curta (como se assevera). Em alguns casos, pode prevalecer o provérbio chinês “Um homem inventa uma mentira e dezenas de outros a propaga como verdade, às vezes, durante século”. Ressalta-se, ainda, a sua prática no desenvolvimento da criatividade: “Qualquer um sabe dizer a verdade, mas é preciso inteligência para mentir”.
            Vejam, só. Raramente as pessoas admitem ser mentirosos. O indefectível Tim Maia foi uma exceção, quando afirmou, fanfarronando: “Não fumo, não bebo, não jogo, não cheiro; só minto um pouquinho”.
            Alguém declarou que “Deus não é contra a mentira se a causa é nobre”. Graças a isso, estão perdoados: Advogado – Esse processo é rápido; Ambulante – Qualquer coisa volte aqui que eu troco; Anfitrião – Já vai? Ainda é cedo!;  Aniversariante – Presente? Sua presença é mais importante; Bêbado – Sei perfeitamente o que estou dizendo; Delegado – Tomaremos providências; Desiludida – Não quero mais saber de homem; Devedor – Amanhã, sem falta!; Encanador – É muita pressão que vem da rua; Ladrão – Isso aqui foi o homem que me deu; Mecânico – É o carburador; Muambeiro – Tem garantia de fábrica; Namorada – Pra dizer a verdade, nem beijar eu sei...; Namorado – Você realmente é a única mulher que eu amei; Orador – Apenas duas palavras; Sapateiro – Depois alarga no pé; Vagabundo – Há três anos que procuro trabalho e não encontro.
            Afinal de contas, tudo isso somado e misturado, o que é a mentira? Como diria Mário Quintana: “É só uma verdade que esqueceu de acontecer”.

                                                                  LINCOLN CARTAXO DE LIRA
                                                                   (lincolnconsultoria@hotmail.com)