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sexta-feira, 2 de maio de 2008

CONCEITO DA MORALIDADE DOS COSTUMES

Se compararmos a nossa maneira de viver com aquela da humanidade durante milhares de anos, constataremos que nós, homens de hoje, vivemos num época muito imoral: o poder dos costumes enfraqueceu de uma forma surpreendente e o sentido moral sutilizou e se elevou de tal modo que podemos muito bem dizer que se volatilizou. É por isso que nós, homens tardios, tão dificilmente penetramos nas idéias fundamentais que presidiram à formação moral e, se chegarmos descobri-las, rejeitamos ainda em publicá-las, tanto nos parecem grosseiras! Tanto aparentam caluniar a moralidade! Veja-se, por exemplo, a proposição principal: a moralidade não é outra coisa (portanto, antes de tudo, nada mais) senão a obediência aos costumes sejam eles quais forem; ora, os costumes são a maneira tradicional de agir e de avaliar. Em toda a parte onde os costumes não mandam, não há moralidade; e quanto menos a vida é determinada pelos costumes, menos é o cerco da moralidade. O homem livre é imoral, porque em todas as coisas quer depender de si mesmo e não de uma tradição estabelecida: em todos os estados primitivos da humanidade, “mal” é sinônimo de “individual”, “livre”, “arbitrário”, “inabitual”, “imprevisto”, “imprevisível”. Nesses mesmos estados primitivos da humanidade, sempre segundo a mesma avaliação: se a ação é executada, não porque a tradição assim o exija, mas por outros motivos (por exemplo, por causa da sua utilidade individual) e mesmo pelas razoes que outrora estabeleceram o costume, a ação é classificada como imoral e considerada como tal até mesmo por aquele que a executa: pois este não se inspirou na obediência para com a tradição. E o que é a tradição? Uma autoridade superior à qual se obedece, não porque ordene o útil, mas porque ordena. – Em que esse sentimento da tradição se distingue de um sentimento geral do medo? É o temor de uma inteligência superior que ordena, de um poder incompreensível e indefinido, de alguma coisa que é mais que pessoal – há superstição nesse temor – Na origem, toda a educação e os cuidados do corpo, o casamento, a medicina, a agricultura, a guerra, a palavra e o silencio, as relações entre os homens e as relações com os deuses, pertenciam ao domínio da moralidade: esta exigia que prescrições fossem observadas sem pensar em si mesmo como individuo. Nos tempos primitivos, tudo dependia, portanto, do costume e aquele que quisesse se elevar acima dos costumes devia tornar-se legislador, curandeiro e algo como um semi-deus: isto é deveria criar costumes – coisa espantosa e algo perigosa! – Qual é o homem mais moral? Em primeiro lugar, aquele que cumpre a lei com mais freqüência: por conseguinte, aquele que, semelhante ao brâmame, em toda a parte e em cada instante conserva a lei presente no espírito de tal maneira que inventa constantemente ocasiões de obedecer a essa lei. Em seguida, aquele que cumpre a lei também nos casos mais difíceis. O mais moral é aquele que mais se sacrifica aos costumes; mas quais são os maiores sacrifícios? Respondendo a esta pergunta, chega-se a desenvolver várias morais distintas; contudo, a diferença essencial continua sendo aquela que separa a moralidade do cumprimento mais freqüente da moralidade do cumprimento mais difícil. Não nos enganemos acerca dos motivos dessa moral que exige como sinal da moralidade o cumprimento de um costume nos casos mais difíceis! A vitória sobre si próprio não é exigida por causa das conseqüências úteis que tem para o individuo, mas para que os costumes, a tradição apareçam como dominantes, apesar de todas as veleidades contrarias e todas as vantagens individuais; o individuo deve se sacrificar – assim o exige a moralidade dos costumes. Em compensação, esses moralistas que, semelhantes aos sucessores de Sócrates, recomendam ao individuo o domínio de si e a sobriedade, como suas vantagens mais especificas, como a chave mais pessoal da sua felicidade, esses moralistas constituem a exceção – e se vemos as coisas de outro modo é porque simplesmente fomos criados sob a influencia deles: todos seguem uma via nova que lhes vale a mais severa reprovação dos representantes da moralidade dos costumes – eles se excluem da comunidade, uma vez que são imorais, e são, na acepção mais profunda do termo, maus. Da mesma forma que um romano virtuoso da velha escola considerava como um mau todo o cristão que “aspirava, acima de tudo, à sua própria salvação”. – Em toda a parte onde existe comunidade e, por conseguinte, moralidade dos costumes, reina a idéia de que a punição pela violação dos costumes recai em primeiro lugar sobre a própria comunidade: esta pena é uma punição sobrenatural, cuja manifestação e limites são to difíceis de captar para o espírito, que os analisa como um medo supersticioso. A comunidade pode obrigar o individuo a reparar, em relação a outro individuo ou à própria comunidade, o dano imediato que é a conseqüência do seu ato. Pode igualmente exercer uma espécie de vingança sobre o individuo porque, por causa dele – como uma pretensa conseqüência do seu ato – as nuvens divinas e as explosões de cólera divina se acumularam sobre a comunidade – mas ela considera, no entanto, acima de tudo, a culpabilidade do individuo como culpabilidade própria dela e suporta a sua punição como sua própria punição: “os costumes estão relaxados”, assim geme a alma de cada um, “uma vez que tais atos se tornaram possíveis”. Toda ação individual, toda a maneira de pensar individual fazem tremer; é totalmente impossível determinar o que os espíritos raros, escolhidos, originais tiveram de sofrer no curso dos tempos por serem assim sempre considerados como maus e perigosos, mais ainda, por se terem sempre eles próprios considerado assim. Sob o domínio da moralidade dos costumes, toda a forma de originalidade tinha má consciência; o horizonte dos melhores tornou-se ainda mais sombrio do que deveria ter sido.

Friedrich Wilhelm Nietzsche

A Morte, Moralidade, Costumes e Cultura...

A moralidade dos costumes parece numa primeira abordagem, que não entronca diretamente com a importância da Cultura, com as mais diversas, possíveis e imaginarias formas de Cultura existentes no Mundo de hoje. E que sempre assim foi. No entanto, na minha, opinião, nada mais errada essa forma de pensamento, pois que costumes e cultura é uma visão muitas vezes radical e exata da origem do pensamento e ação de cada comunidade.
Veja-se, por exemplos, varias situações, por mim próprio; já observadas, e que considero como mero costume cultural, mesmo que eu a titulo pessoal possa ou não entender, que são moralmente consideradas como boas, obviamente aos meus olhos, que são produto de uma determinada moral, de uma determinada relação fixa de costumes, no fundo de uma determinada Cultura de formação de matriz genética.
Passei pela Guiné-Bissau, á alguns anos, numa incursão ao norte daquele País africano, com múltiplas etnias e religiões, ex-colônia ultramarina portuguesa. No meio de uma picada perdida no meio do mato, um conjunto de casas de adobe cobertas de colmo, e uma festa enorme de homens, mulheres e crianças, com um corpo de alguém, enrolado em tecidos garridos, voando sobre as suas cabeças, passando de mão em mão. Para um europeu, parecia o festejo de algum titulo desportivo, com o treinador a ser festejado, atirado ao ar. Nada mais errado. Era um funeral. Alguém importante, já idoso na pequena comunidade tinha falecido, e estavam a festejar a sua partida para, o que consideravam a imortalidade, junto dos seus deuses, e antepassados que tinham merecido o mesmo destino. Pois podia, como pude ficar perplexo, com tamanha manifestação, mas tive que de acordo com a minha moralidade, os meus costumes e a minha cultura, acabar por aceitar que aquela era a forma de celebrar a Morte, para eles claro. Eles que tem uma formação moralista diferente da minha, para eles que tem uma formação cultural diferente da minha, para eles que tem costumes tão diferentes dos meus, e nalguns casos tão próximos.
Uma vala estava aberta na porta da casa, e seria lá que iria ser finalmente depositado. o corpo, após o ritual que para aqueles moralistas era fundamental ser cumprido na totalidade, com todas as honras, que eles entendiam como necessárias. Mais uma imoralidade aos meus olhos, enterrar alguém junto da porta de casa, onde todos os dias, a todas as horas alguém que queira entrar em casa, tem que pisar o local, que a uns quantos palmos de terra abaixo tem os restos mortais de alguém.
Mas será assim tão imoral?
Pos para nós pode realmente ser, mas para eles seria imoral enterrar o seu ente querido num cemitério, ou cremar o corpo.
Informaram-me, que até poderia ter sido enterrado no meio da sala da casa da família, dependia da sua importância, na hierarquia familiar.
E daí?
Ë um corpo, só mais um corpo, de alguém, que por uma questão de moralidade cultural, é depositado, onde a formação cultural especifica, determina.
Parar para pensar!
A cultura no meio da qual geneticamente nasci tem como decisão tida por moral, que após a morte o corpo seja depositado, sete palmos abaixo do chão, num local apropriado para isso, a que chamam de cemitério. Mas essa mesma cultura não pensou sempre assim, pois á algumas dezenas de anos, fazia questão de enterrar os seus mortos no interior das igrejas, ou depor os corpos em criptas, e também nem sempre foi assim, pois que muito mais para trás no tempo, quase que era ponto de honra enterrar os mortos debaixo de pedras levantadas ao alto, a que chamavam antas, e antes... antes, e antes...
E agora pergunto; e depois?
É a evolução. É a tal criação de costumes de que fala Nietzsche, que leva anos e anos a consolidar...
Eu por exemplo quero ser cremado!
E daí?
Os Indianos também assim gostam de partir, mas eu nem sou Indiano!
E daí?
Opções pessoais. Para mim moralmente esse deve ser o meu destino, no momento de transformação e assim abreviar transformações que levariam muito mais tempo, e com outros destinos finais da minha matéria orgânica.
O meu pai decidiu não ser enterrado, nem cremado, nem nada que lhes possa, passar agora facilmente pela cabeça, neste preciso momento. Ou seja; simplesmente, em vida, determinou doar o seu corpo á Faculdade de Ciências Medicas de Lisboa, e assim foi feito, no momento próprio, no ido ano de 1994.
Faleceu, e o seu corpo foi entregue. O destino dado ao mesmo, não me perguntem, pois que não sei.
Como não tenho o culto dos mortos, para mim, o seu destino foi aquele que escolheu, ou seja; ajudar a ciência. Ponto final!
Alguns vão dizer: mas que imoralidade!
E eu pergunto: Isso é imoralidade uma decisão cultural?
É imoralidade respeitar a vontade de alguém em vida?
Nada disso. É até muito moral, pois essa era a sua vontade, tal como a minha de ser cremado, ou a sua de ser enterrado...
E á alguns anos, se no alto mar, um marinheiro, ou outro tripulante morria, no meio de uma viagem, o seu corpo, não era devidamente preparado, e lançado ao mar?!
Este assunto da moralidade, mesmo que a moralidade fúnebre é algo tão grandioso de se discutir, que ficaria aqui horas e horas a teclar origens e superstições sobre o assunto, para se tentar chegar a uma decisão, que nunca será unânime, pois cultura e moralidade, dão como resultado final os tais de costumes, de que tanto Nietzsche fala como sendo a razão, das razoes múltiplas de se analisar a moralidade e a imoralidade das mais variadas formas.
O combate com o que hoje é imoral, com a criação de costumes, que o transformam em algo moralmente aceite, é assim como a história das saias curtas, a mostra o joelho, ou até muito mais, e dos jeans. São culturas que nascem de costumes que se enraízam...
Num outro relato de desafio entre moralidade ou costumes, sendo que no fundo é simplesmente algo cultural, e aproveitando os bons e variados exemplos, que podemos constatar em África, onde existem os mais variados costumes, moralismos e culturas; dizer que nos idos anos 70 passei uma temporada em Moçambique, mais ao sul geograficamente do que a Guiné-Bissau, e que não muito longe do Songo, próximo de Tete, existia um importante representante de uma comunidade que tinha mais de 80 mulheres, ninguém conseguia contabilizar quantos filhos, e já até netos, e por ai fora, atendendo já á sua proveta idade. Toda aquela gente vivia um redor da sua casa, e ele em vez de alimentar aquela gente toda, era sim, alimentado e sustentado por toda aquela gente, pois que as mulheres serviam para sustentar a casa e a família. Nenhuma tinha aparentemente ciúmes da outra, e todas viviam para o mesmo objetivo, manter a comunidade viva, e atuante, e claro alimentar o “Soba”.
Um dia visitei essa comunidade, e em sinal de amizade, o cavalheiro, mesmo atendendo á minha ainda juvenil idade, disse para eu escolher uma das suas filhas ou netas, que ela seria minha.
Dirão vocês: Mas que grande promiscuidade, que grande imoralidade!
Direi eu, mas que grande demonstração cultural, que para eles é tão normal, como para nós ocidentais, o fato de só estar culturalmente e moralmente enraizado ter uma única mulher, com quem se casa, procria, etc.
Agora o espanto pode ainda ser maior, para alguns, pois que no meio da própria sociedade ocidental, vive um respeitável e culturalmente importante povo, chamado de “Ciganos”. E não são eles que têm como ponto de honra que um cigano deve casar com uma cigana, e vice versa, para manter a raça, e até por questões econômicas, para que a riqueza não se espalhe para fora da sua gente. E que quando isso não acontece, podem chegar ao ponto de matar o contaminador da sua moralidade, ou no melhor dos casos; excomungar o mesmo da família “Cigana”?
Não são eles também que exigem que uma viúva, não volte mais a casar, e vista roupas de cor negra para o resto da vida, para além de não mostrar o cabelo, e ter que andar de lenço, e outras exigências, que cada ramo da grande família Cigana toma como lei?
Não são eles também que, á sua maneira choram os mortos de modo especial, e que fazem ponto de honra, se possível, colocar os mesmos em Jazigos fúnebres, e passar ali muitos dos dias da sua existência, chegando ao incrível, de até fazerem ali refeições, como se fora a nova casa do ente querido falecido?
Não são eles também que comprovam publicamente se uma noiva, esta pura no momento de contrair matrimonio?
E se isso não se comprovar, pela prova da virgindade, com o sangue no momento do ato, ela será definitivamente desprezada?
E isso é exigência de moralidade, ou pura e simplesmente fazer cumprir uma tradição, um conjunto de tradições, que vem a ser transmitidas e preservadas de geração em geração?
Agora algo que vai mesmo mexer com a sensibilidade de alguns, e os deixar a pensar, sobre moralidade, cultura e costumes.
Como muitos sabem, no decorrer da IIª Guerra Mundial, uma das idéias força, entre muitas outras para dominar o Mundo, do ditador Adolfo Hitler, era o apuramento da raça Ariana. Para o efeito deu meios para que se desenvolvessem inúmeras experiências, e até chegou ao ponto extremo de proceder a procriação especifica, de militares com mulheres do norte da Europa, como se as mulheres fossem simples galinhas para serem chocadas para darem á luz varões com determinada cor e crista. Ao mesmo tempo tentou exterminar os Judeus, e outras determinadas castas, como homossexuais, e outros cidadãos que considerava nefastos para o seu projeto de purificação.
Tudo isto, é na realidade a lógica que Nietzshe nos tenta colocar como caminho, para entender a boa e má moralidade.
E dirão vocês, mas isso era uma questão de moralização, feita á sua imagem, á imagem do Adolfo.
Na realidade isto sim era aos olhos de qualquer um, uma imoral serie de atitudes, que como bem podem ver, nada tinham de cultural, ou de costume.
No entanto, veja-se, seguindo o raciocínio de Nietzsche, Hitler tentou á sua maneira criar costumes, que a maioria não autorizou que se tornassem como moralmente normais, e tiveram o fim de todos nós conhecido.
Agora imagine que; a IIª Guerra Mundial, não tivesse terminado com a vitória das Forças Aliadas. Imagine que Adolfo Hitler tinha vencido a guerra e levado avante, esse seu projeto de criação de uma serie de costumes, entre os quais o de apuramento da raça, como se o humano fosse um cachorro.
Imagine só, que Nietzshe teria toda a razão do mundo, e alguém teria criado costumes, muito diferentes daqueles com que vivemos nos dias de hoje.
Ou seja: Hoje passados todos estes anos, por certo a humanidade seria compota simplesmente de Brancos Arianos.
Agora eu ainda lhe pergunto:
A história, esta escrita assim desta forma, porque foi assim que realmente acabou por acontecer, mas ao longo da humanidade, quantas e quantas vezes já se criaram costumes, afinal aqueles com que a humanidade vive, em cada canto, nos dias de hoje. Uns homens a viver com dezenas de mulheres, outros a sepultar os seus mortos no meio da sala de casa, outros a casar com uma única mulher, uns a comer carne de cão, ou de gato, e outros a comer lagosta ou carne de suíno, e tantos outros costumes que realmente são; moralistas aos olhos de uns e profundamente imorais aos olhos de outros, dependendo de quem observa cada costume.
Digo eu: cada Cultura...
Diria Nietzsche que depende do moralismo e dos costumes...
Mas não será rigorosamente a mesma coisa???

João Massapina

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