Total de visualizações de página

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Por que a água é o desafio do século XXI? - Por Prof. Marciano Dantas


Nem petróleo, nem política, nem religião. Segundo relatório do Banco Mundial, “as guerras do próximo século serão por causa de água”.
Cada vez mais rara, a água tem se tornado um elemento de disputa entre nações. Atualmente, sua escassez já é um problema crônico enfrentado por cerca de 500 milhões de pessoas em 2 países. Em 30 anos, o número de pessoas saltará para 3 bilhões em 52 países.
Estima-se que, nesse período, a quantidade da água disponível por pessoa em países do Oriente Médio e do Norte da África estará reduzida a 80%. A população mundial estará na faixa dos 8 bilhões de pessoas em 2030, a maioria concentrada nas grandes cidades. Será necessário produzir mais alimentos e mais energia, aumentando assim o consumo doméstico e industrial de água. Essas perspectivas fazem da água uma questão internacional e motivo de guerra entre países.
A luta pela água faz parte da história de países como Israel e China. Em 1967, um dos motivos da guerra entre Israel e seus vizinhos, na chamada “Guerra dos Seis Dias”, foi a ameaça, por parte dos árabes, de desviar o fluxo do rio Jordão, cuja nascente fica nas montanhas do sul do Líbano. O rio Jordão e seus afluentes fornecem 60% da água necessária à Jordânia e também abastece a Síria. A China, país mais populoso do mundo, sofre com a escassez de água. A grande população e a demanda agroindustrial estão esgotando o suprimento de água do país. Todos os dias mais de 80 milhões de chineses andam mais 1,5 km para conseguir água.
O Brasil, por sua vez, é um país privilegiado no que diz respeito aos recursos hídricos. Sua distribuição, entretanto, não é uniforme em todo território nacional.
A Amazônia detém a maior bacia fluvial do mundo. O amazonas, rio com maior volume de água, é considerado um rio essencial ao planeta. Apesar da abundância de água, a região amazônica é uma das menos habitadas do Brasil.
Em contrapartida, é nas capitais, distante dos grandes rios, que se encontram as maiores concentrações populacionais. Há ainda o Nordeste, onde as secas prolongadas obrigam as pessoas a abandonarem suas terras e partir para as cidades em busca de melhores oportunidades de trabalho e educação. A migração dessas pessoas agrava o problema da escassez de água nas cidades. Em muitas cidades, a água de rios e lagos está contaminada em virtude do despejo de resíduos domiciliares e industriais.
Como então, preservar esse recurso natural essencial á manutenção da vida? Qual o papel de cada cidadão nesse processo?
Um levantamento da ONU aponta duas sugestões básicas: aumentar a disponibilidade de água e utilizá-la mais eficazmente. Uma das alternativas seria o aproveitamento das geleiras; outra a dessalinização da água do mar. É possível, também, intensificar o uso das reservas subterrâneas profundas. Esses processos, no entanto, implicam na utilização de tecnologias de alto custo, o que encareceria o preço da água.
A proteção dos mananciais e a recuperação daqueles que já estão prejudicados são maneiras de conservar a água que ainda resta. Mas só isso não basta. É preciso fazer muito mais: tomar um banho de consciência e evitar o desperdício.
Na agricultura, o desperdício de água é muito grande. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), apenas 40% da água desviada é efetivamente utilizada na irrigação. Os outros 60% são desperdiçados: aplica-se água em excesso nas plantações; usa-se água fora do período de necessidade da planta, em horários de maior evaporação; aplicam-se técnicas inadequadas de irrigação, entre outros problemas.
Na indústria, é possível implantar a recirculação ou reuso, forma mais econômica de utilizar a água. A água reciclada pode ser usada na produção primária de metal, nos curtumes, nas indústrias químicas e de papel.
Nas residências, a água usada para lavar roupa, pode ser reaproveitada para lavar o quintal ou as calçadas; evitar vazamentos; regar jardins plantas somente pela manhã ou no final da tarde; lavar os carros com balde, sem o uso da mangueira; instalar caixas de descarga no lugar de válvulas, dentre outras medidas.
O crescente agravamento da falta de água tem levado as pessoas a estabelecer uma nova forma de pensar e agir. É preciso mudar hábitos, usos e costumes para respeitar os recursos do meio ambiente.
A conscientização e a educação do povo são fundamentais nessa luta. Racionalizar o uso da água não significa ficar sem ela periodicamente. Significa usá-la sem desperdício e considerá-la uma prioridade social e ambiental para que a água tratada, saudável, nunca falte em nossas torneiras.
Professor Marciano Dantas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Amo-te, querida acção

"Não te quero sequer ver. Amo-te muito. Não há nada que se possa fazer. Tudo é a mesma coisa que nada e nada me apetece senão estar assim contigo. Sem te ver. "
 (in "Muito, meu amor", Pedro Paixão)
Um grande amor pode ser entusiasmante e dar um novo sentido à vida de qualquer pessoa, mas apaixonarmo-nos por uma acção pode ser extremamente penalizador para o investidor e comprometer o seu sucesso nos mercados financeiros.
Por mais estranho que possa parecer, frequentemente, os investidores criam relações sentimentais com as acções. Este género de sentimentos geralmente acaba por lhes trazer sérios dissabores pois, por instantes, perdem a noção de qual é o primordial objectivo de um investimento no mercado de capitais: Ganhar dinheiro.
Ou porque adoram os serviços que a empresa lhe presta ou porque no passado essa acção lhe proporcionou chorudos ganhos, alguns investidores apaixonam-se por uma determinada acção. Isto leva-os a tomarem as suas decisões de investimento, relativamente a esse título, mais com o coração do que com a cabeça, o que costuma levar a tomar decisões precipitadas.
Um dos erros geralmente cometidos por quem se apaixona por uma acção é não a vender na altura certa. Muitas vezes, racionalmente, o investidor acredita que chegou a altura certa para vender a acção, mas a sua ligação sentimental com esse título impede-o de vender, desrespeitando o seu método, o que costuma produzir maus resultados.
Há alguns anos atrás recebi um e-mail de um leitor que abordava essa questão e do qual vou transcrever parte do conteúdo pois ilustra bem como pode ser doentia e prejudicial esta relação de enamoramento por uma acção: " Adoro a Sonae.com. É uma acção que me tem dado muito dinheiro e que penso ser uma das melhores do nosso país. Comprei-a a 5,2 euros e mantive-a em carteira durante um mês até a vender a 6,2 euros pois achei que a acção iria cair. O meu raciocínio estava certo pois, depois de uma subida rápida, passado umas sessões começou a cair, só que acredite que não me estava a dar prazer nenhum estar a olhar para as cotações sem a ter em carteira. Estava impaciente e recomprei-a a 6 euros. Agora já caiu cerca de 30% desde aí que era o valor que eu achava que iria corrigir."
Penso que este e-mail reflecte bem o perigo de nos apaixonarmos por uma acção. Tal como no amor entre humanos, há a possibilidade de tal se tornar uma obsessão que nos faz fechar os olhos numa cegueira total, impedindo-nos de ver a realidade tal como ela é.
Obviamente, o inverso também é perigoso, ou seja, criar uma relação de ódio com um determinado papel - ou porque tem razões de queixa da empresa ou porque no passado teve fortes prejuízos com a acção - costuma levar alguns investidores a perderem excelentes oportunidades de negócio, por se recusarem a comprar uma determinada acção. Alguns chegam inclusivamente a abrir posições curtas sobre a acção (tentando ganhar dinheiro com a queda do título mas podendo perder dinheiro caso ele suba) quase numa atitude de vingança.
Separar as emoções dos investimentos é um princípio fundamental nos mercados financeiros. Como sempre gosto de frisar, mais do que a tendência dos mercados, a sua volatilidade ou o seu carácter imprevisível, aquilo que verdadeiramente dificulta o sucesso dos investidores em Bolsa é a capacidade para controlarem as suas próprias emoções.
Recordo-me, há muitos anos atrás, ter sido pessimamente atendido num dos maiores bancos da nossa praça e depois ter ganho uma aversão tal ao título que nunca mais fez parte da minha carteira, fazendo com que eu desperdiçasse óbvias oportunidades de negócio. Penso que são estas lições que nos fazem repensar a nossa forma de estar no mercado e se conseguirmos aprender com os nossos erros estamos a dar passos em frente rumo ao sucesso neste fascinante mundo dos mercados financeiros.
Paixões e amores podem dar histórias muito interessantes e fazerem os seres humanos muito felizes mas nunca no mundo da Bolsa.
Feliz Dia dos Namorados! Que a pessoa de quem gosta esteja sempre em máximos históricos.
Ulisses Pereira 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Na linguagem do amor, o mais importante é como se fala

Por que as pessoas se atraem?
As pessoas tendem a sentir atração, namorar e se casar com outras pessoas que se assemelham a elas em termos de personalidade, valores e até aparência física.
No entanto, esses elementos apenas resvalam sobre a superfície daquilo que realmente faz um relacionamento dar certo.
A forma como as pessoas conversam, por exemplo, também é importante.
Um novo estudo publicado na revista Psychological Science revela que pessoas que têm estilos similares de falar são mais compatíveis, tendem a dar mais certo e a ter relacionamentos mais duradouros.
Palavras de função
O estudo se concentrou nas palavras chamadas "palavras de função." Não são substantivos e verbos, são as palavras que mostram como substantivos e verbos se relacionam.
Palavras de função são difíceis de definir explicitamente, mas nós as usamos o tempo todo - um, ser, qualquer coisa, que, vontade, seu e e.
O modo como usamos estas palavras constitui nosso estilo não apenas de falar, mas também de escrever.
"As palavras de função são altamente sociais e necessitam de habilidades sociais para serem usadas," explica James Pennebaker, da Universidade do Texas em Austin.
"Por exemplo, se eu estou falando sobre um artigo que foi publicado e, em poucos minutos, eu faço alguma referência do tipo 'o artigo', você e eu sabemos o que artigo quer dizer," continua.
Mas alguém que não fazia parte da conversa inicial não iria entender.
Estilos de falar e escrever
Pennebaker e seus colegas examinaram se os estilos de falar e escrever que os casais adotam quando conversam um com o outro conseguem prever o comportamento futuro - amizade ou namoro - e também a força dos relacionamentos de longa duração.
Eles fizeram dois experimentos nos quais um programa de computador foi usado para comparar os estilos de linguagem dos parceiros.
No primeiro experimento, todas as conversas soavam mais ou menos iguais para um ouvido destreinado, mas a análise do texto revelou diferenças acentuadas na sincronia da linguagem.
Os pares cujos escores de correspondência no estilo de linguagem ficaram acima da média mostraram-se quatro vezes mais propensos a querer um contato futuro do que os pares cujos estilos de linguagem estavam fora de sincronia.
Um segundo experimento revelou o mesmo padrão em bate-papos online entre casais de namorados ao longo de 10 dias.
Quase 80 por cento dos casais com estilos de escrita equivalentes continuavam namorando três meses depois, em comparação com cerca de 54 por cento dos casais cujos estilos não se equivaliam tão bem.
O que e como falar
A conclusão é que o que as pessoas dizem umas às outras é importante, mas como elas dizem pode ser ainda mais significativo.
Segundo Pennebaker, as pessoas não ficam sincronizando conscientemente seu discurso: "O que é maravilhoso sobre isso é que nós realmente não tomamos essa decisão; o estilo sai naturalmente de nossas bocas."
Os cientistas disponibilizaram seu teste de compatibilidade de estilo de linguagem gratuitamente na Internet. Infelizmente, o programa só consegue entender textos em inglês - www.utpsyc.org/synch.

O "May Be Man" - Mia Couto‏

O texto diz respeito à realidade moçambicana. Mas, vendo bem, existirão assim tantas diferenças relativamente a Portugal e ao Brasil?

"Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.
O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Sim­plesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.
A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.
Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniên­cia. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideolo­gia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma na­ção muito gaseificada.
Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enqua­dra-se no combate contra a pobreza.
Mas a corrupção, em Moçambique, tem uma dificuldade: o corrup­tor não sabe exactamente a quem subornar. Devia haver um manual, com organograma orientador. Ou como se diz em workshopês: os guidelines. Para evitar que o suborno seja improdutivo. Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opi­nião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.
O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao portu­guês, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.
O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen­te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrup­to: em nome da lei, assalta o cidadão.
Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele e sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cau­tela, os do chefe do chefe.
O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigen­te: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem no­meá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.
Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma for­tuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.
O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de- conta. Para um país a sério não serve."

"Mia Couto"

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A NOVA LÍNGUA PORTUGUESA

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!
Em Portugal chamam-se aos
pretos 'afro-lusitanos'.  Até na música já temos a 'Mariza Jackson'!
As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .
De igual modo, extinguiram-se nas escolas os '
contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa'.
Os
vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.
E pelo mesmo processo transmudaram-se os
caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas '.
O
aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';
Os
gangs étnicos são 'grupos de jovens'
Os
operários fizeram-se de repente 'colaboradores';
As
fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas'e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.
O
analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante.
Desapareceram dos comboios as
1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.
A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou
mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.
Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes
crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo'
Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.
Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)
As
putas passaram a ser 'senhoras de alterne'.
Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em '
implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.
E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.
Estamos lixados com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.
E falta ainda esclarecer que os tradicionais "anões" estão em vias de passar a "cidadãos verticalmente desfavorecidos"...
Os idiotas e imbecis passam a designar-se por "indivíduos com atitude não vinculativa"
Os pretos passaram a ser pessoas de cor ou afro-lusitanos.
O mongolismo passou a designar-se síndroma do cromossoma 21.
Os gordos e os magros passaram a ser pessoas com disfunção alimentar.
Os mentirosos passam a ser "pessoas com muita imaginação"
Os que fazem desfalques nas empresas e são descobertos são "pessoas com grande visão empresarial mas que estão rodeados de invejosos"
Para autarcas e políticos, afirmar que "eu tenho impunidade judicial", foi substituído por "estar de consciência tranquila".
O conceito de corrupção organizada foi substituído pela palavra "sistema".
Difícil, dramático, desastroso, congestionado, problemático, etc.,  passou a ser sinónimo de complicado.