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sábado, 26 de setembro de 2009

Pensamentos

As calorias são pequenos animais que moram nos roupeiros e que durante a noite apertam a roupa das pessoas.


Os problemas do nosso país são essencialmente agrícolas: excesso de nabos; falta de tomates e muito grelo abandonado.


O trabalho fascina-me tanto que às vezes, fico parado a olhar para ele.


O Casamento é um relacionamento a dois, no qual uma das pessoas está sempre certa e a outra é o marido.


A mulher está sempre ao lado do homem, para o que der e vier;
Já o homem, está sempre ao lado da mulher que vier e der.




Se fores chata as tuas amigas, perdoam;
Se fores agressiva as tuas amigas, perdoam;
Se fores egoísta as tuas amigas, perdoam;
Agora experimenta ser magra e linda!
Tás tramada!


O amor é como a gripe, apanha-se na rua, resolve-se na cama!


A falta de sexo, provoca amnésia e outras merdas que agora não me lembro...

Portugal é um país geométrico: é rectangular e tem problemas bicudos discutidos em mesas redondas, por bestas quadradas!



A diferença entre Portugal e a República Checa é que esta tem o governo em Praga e Portugal tem a praga no governo.


Não procures o príncipe encantado. Procura, antes, o lobo mau: ouve-te melhor; vê-te melhor e ainda te come.



Toda a gente se queixa de assédio sexual no local de trabalho.
Ou isto começa a ser verdade ou então despeço-me!!!



A mulher do amigo, é como a bota da tropa;
também marcha!



O cérebro é um órgão maravilhoso.
Começa a trabalhar logo que acordamos e só pára quando chegamos ao serviço.


O teu computador é como uma carroça: tem sempre um burro à frente!!!


Os trabalhadores mais incapazes são sistematicamente promovidos para o lugar onde possam causar menos danos: a chefia.



Qual a diferença entre uma dissolução e uma solução?
Uma dissolução seria meter um político num tanque de ácido para que se dissolva.
Uma solução seria metê-los a todos.


Chocolate não engorda, quem engorda é você.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

PARTIDO PIRATA - Contra uma Democracia de Simuladores

Partido Pirata está espalhado já em 32 países; Em Portugal e no Brasil ainda não se encontram institucionalizados. Em Portugal há o movimento para a criação do Partido Pirata Português (PPP).



O Partido Pirata é um partido actual, um partido filho da Internet. A sua mãe pátria é a Suécia. Aqui, atingiu 7,1% dos eleitores, conseguindo um mandato para o Parlamento Europeu.



Na Alemanha o Partido Pirata foi fundado em 2006. Nas últimas eleições europeias atingiu 0,9% dos votos. Um deputado do PSD passou para os Piratas. Começaram por se insurgir contra a instrução de processos de direito penal contra a “pirataria” de ficheiros de música e de filmes na Internet. Na Alemanha a média das idades dos membros do partido é de 29 anos.



Os Partidos Piratas manifestam-se contra a ingerência da política e dos partidos na Internet e contra toda a forma de censura, contra a espiral do controlo. Encaram os políticos como intrusos. Preocupam-se com a defesa dos direitos do cidadão e contra a violação dos direitos de privacidade na Era Digital e têm medo dum Estado vigilante. Não se identificam com as estruturas hierárquicas dos outros partidos. Consideram a Internet não apenas como meio de informação, mas como espaço vital.



Lutam pela liberdade num mundo que, em nome da liberdade, os domina. Querem ser um partido que expresse o sentimento da vida segundo o princípio “move o que te move”.



A defesa da liberdade de informação, cada vez mais subornada por políticos e multinacionais da informação, faz surgir, no espectro político a necessidade dum partido à maneira do Partido Pirata. Rebelam-se contra políticas que alcançam os seus objectivos à custa da sociedade civil. Para eles o futuro e o presente são demasiado importantes para estarem entregues nas mãos dos partidos.



Este movimento em curso pela Europa inteira é expressão duma consciência digital, diria mesmo integral, contra a velha consciência mecanicista e determinista de carácter analógico. Neste partido não há esquerda nem direita. Procura ultrapassar-se as dicotomias respirando talvez os fulgores duma nova era baseada na complementaridade, como acontece a nível científico com a física quântica e a nível religioso com o mistério da Trindade.



Muita gente nova está farta duma democracia longínqua, de “simuladores” que parecem ter-se apoderado da república. Estranha, insurge-se veementemente contra a recolha de dados pelos serviços públicos e empresas. A asfixia que o cidadão da classe média reduzido a contribuinte vive, sente-a, a outro nível, a camada jovem no seu mundo e no seu medium de convivências. O Estado manifesta uma sede insaciável de recolha de dados atemorizadora. Este é um perigo muito latente numa Europa que está a ser construída, não a partir da base mas a partir de elites empenhadas no controlo do cidadão através da burocracia.



Assiste-se a um conflito de interesses entre defensores do poder e defensores da liberdade. O Estado, com os seus “ocupantes” quer controlar e reduzir os cidadãos a súbditos. Para manter o satus quo considera a Internet um espaço à margem do direito. Toda a liberdade de opinião e de expressão, até à era da Internet reduzida à opinião pública publicada, torna-se agora, com a Internet, num monstro ameaçador, para um sistema de pensar e de agir muito estruturado. A vanguarda do progresso revela-se desestabilizante do sistema quer socialista quer capitalista.



Os partidos estabelecidos têm medo da concorrência de eleitores jovens. Os políticos tendem para o extremismo de reduzirem tudo à esfera do direito e das finanças, arranjando todos os pretextos para intervirem num espaço da sociedade que ainda não dominam. A conquista da Internet deu-se primeiramente pelas pessoas, passando depois à mão de companhias económicas e, agora, também a política quer entrar nela. Torna-se quase um contra-senso ao quererem regular um mundo virtual pelas regras dum mundo real já tão triste e injusto.



Enquanto os defensores da liberdade na Internet proporcionam uma liberdade individual desconsiderada; os contrários defendem a liberdade dos grupos mais fortes até agora instalados na sociedade.



O perigo dos defensores da liberdade desenfreada está em fomentarem um liberalismo puro que ao fim e ao cabo vem servir os mais fortes.



Quem pretende “civilizar” a Internet, subjugando-a à lei e à ordem tem de se subjugar também a uma nova ordem que se descortina já no horizonte e à dignidade humana. Trata-se naturalmente de introduzir o direito no mundo virtual; a questão será: o direito de quem?



Certamente que não há liberdade incondicional. Decerto que o protesto democrático na Net pode ser impedido pela censura. Facto consumado é que a política vive da expressão da opinião.



O Partido Pirata tornou-se numa nova forma de oposição à margem dos acampamentos políticos. Mais que ter medo deles ou difamá-los trata-se de os tomar a sério para iniciarmos uma renovação mais que óbvia numa sociedade cada vez mais ocupada.


António da Cunha Duarte Justo

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A ENTREVISTA "CENSURADA" AOS GATOS FEDORENTOS

RAP - "Nosso" 1º, agradeço a sua presença neste programa e aproveito para o saudar pelo conhecimento que revelou ter de todos os programas eleitorais da oposição.
Face às suas prestações fiquei apenas com uma dúvida:
Leu o programa eleitoral do PS?
JS - Bem que me avisaram. Sabe Ricardo. Não se preparou.
Não estudou. No passado existiram programas muito prometedores que não foram cumpridos. Eu não vou por aí.
O programa do PS para 2009-2013 é muito claro. Continuar a politica do que NÃO FEZ o PS, elogiar o que EU FIZ e lançar O MEU TGV!
RAP - "Nosso" 1º, anunciou 2009 como o ano do "Cabo das Tormentas". Como apela sempre a um discurso optimista em vez do pessimista, estava a referir-se ao País ou ao PS?
JS - Não, não, não. Foi uma interpretação errada dos amigos jornalistas. Todos perceberam que eu disse "Cabo da Boa Esperança". Ora essa!
RAP - "Nosso" 1º, no 2º semestre de 2008 desceu a taxa do IVA
em 1%. Subiu o ordenado minimo e aumentou a função pública em
2,9%. Bem sei que rectificou o orçamento mas diga-me:
Saíu o EURO MILHÕES ao Estado ou a pior crise dos últimos 100
anos foi só um "abalozinho"?
JS - Sabe Ricardo. EU FIZ. Não cruzei os braços. Pergunta-me
se estou satisfeito. Não, não estou. Vamos continuar o que
NÃO FEZ a politica do PS, elogiar o que EU FIZ, e lançar o
MEU TGV. Sabe. Eu não jogo em jogos de azar. Só de fortuna!
RAP - Um intervalo rapidinho. Até já!!
RAP - "Nosso" 1º, bem vindo de novo a este programa fedorento
e começo onde ficamos. Quando Salazar faleceu tinha 13 anos! Como se lembra muito bem desses tempos, incomoda-o a coincidência de, como ele, ficar conhecido por ter posto as contas públicas em ordem?
JS - Por amor de Deus. Outra vez o passado. Já expliquei que
em 2001 não era 1º ministro. Era o "outro senhor" engenheiro que não sabia fazer as contas do PIB. E já agora! Quem lhe disse que as contas públicas estavam em ordem?
O INE? O Banco de Portugal? O Victor? Xiça!
RAP - "Nosso" 1º, na Cimeira "A Europa e África" recebeu Mugabe, Kadhafi, Berlosconi, Eduardo dos Santos e não convidou João Jardim. Foi esquecimento ou "Asfixia"?
JS - Já cá faltava a falta de ar democrático. Não Ricardo, não me esqueci. Eu sei que os camaradas madeirenses não gostaram que eu não fizesse campanha na Madeira quando houve eleições antecipadas para o Governo Regional. Mas a Madeira não é um País, sabe disso? O camarada Jaime, 2ª figura do Estado, já disse tudo sobre a Madeira. No PS só há uma voz!
Porque não me pergunta pela Cimeira Ibero-Americana onde fui um êxito a oferecer o "Magalhães" aos Chefes de Estado?
RAP - "Nosso" 1º, sei que deixou de fumar após ter pago a multa a ASAE, por fumar com Manuel Pinho, numa viagem de avião descapotável. Sim? O quê? Jorge Jesus chegou ao aeroporto. Vai falar? Um breve intervalo!!
RAP - Obrigado por continuar neste programa fedorento e agradeço que não tenha ido embora...
JS - Sabe Ricardo. Nós no PS adoramos o futebol. Fui eu que em 1999 ganhei a candidatura de Portugal ao Euro 2004.
Bem sei que fomos embora naquela noite pantanosa mas ficou o investimento de 10 estádios que muita riqueza e progresso trouxeram ao País! O nosso vizinho espanhol solicitou parceria no evento mas eu não quis nada com Aznar! Ah, e já agora não esqueça o Totonegócio!
RAP - Voltando ao fumo! "Nosso" 1º, admite voltar ao "vicio" e fumar o "Cachimbo da Paz" com os professores?
JS - Os meus filhos, bem que me avisaram! Eu confesso.
Dei umas "passas". Sim. É Verdade! Este tema exige delicadeza
tranquilidade e muita doçura verbal. Eu tive professores bons, assim assim, maus e alguns nunca os vi. Veja onde eu
cheguei! Sou 1º ministro! Quer melhor exemplo da urgência e necessidade de haver um sistema de avaliação? Quem eliminou o
"chumbo" das escolas? Esse metal tóxico que contamina e prejudica os nossos jovens e familia! Já agora aproveito para lhe anunciar uma nova medida para a próxima legislatura
que vai de encontro à satisfação de muitas familias e do senhor Albino da Confap. Vamos alargar o horário escolar para
os sábados. Em 2008 perderam-se milhões com as manifestações
dos professores aos sábados!
RAP - Dizem que não há duas sem três, mas o nosso lema é não
há três sem quatro. Um xixi rapidinho...
RAP - Ops! Nem deu tempo para sacudir...
"Nosso" 1º, quando no Parlamento disse não saber, nem ter que
saber, e no dia seguinte vetou a compra da TVI pela PT, enrolou a língua ou estava a fazer um "Boca a Boca" à Manuela Moura Guedes?
JS - Ainda bem que vou ter a oportunidade de desmontar essa calúnia e boato mentiroso. Um acessor qualquer mostrou-me um estudo em que o jornal de sexta custava ao PS 1% nas intenções de voto por programa. A polémica e discussão da sua eliminação 0,5%. Estava eu a calcular, como sabe sou engenheiro e não economista, quando começo a transpirar abundantemente. Como eram 2 da tarde e eu adoro a Júlia, grito não sei para quem: Desliguem o termóstato. Liguem a televisão na TVI. Preciso de uma brisa...
Diga-me lá, que é que eu tenho a ver com a mensagem:
"Eliminem o emplastro e a Direcção da TVI. Liguem à Prisa!"
RAP - "Nosso" 1º, a familia ainda é o melhor que um homem tem na vida ou o ideal é mesmo um "primo" em casa continente?
JS - Não percebi a pergunta mas sempre lhe digo que o diploma da "separação" de facto foi vetada pelo presidente.
RAP - Para terminar "Nosso" 1º, uma palete de curtas questões
para breves respostas. Uns não gostam dos Angolanos, dos Espanhóis, dos Ciganos e outros dos Americanos. O "Nosso" 1º
gosta dos Portugueses? Respeitou o código laboral quando despediu colectivamente os seus ministros? Que trunfos guarda para a campanha eleitoral?!!!

Está aqui o meu programa

- Agora há matéria em barda, diz a minha amiga, é por isso que os “Gatos” estão a ter tanta saída. Fartam-se de esgatanhar.

- Não tenho visto.

- Mas tem perdido. Que eles têm muita graça.

- Pois! Mas a TV Memória agora repete “Uma família às direitas” e eu faço por não perder, apetecendo o humor sem as zagunchadas venenosas do nosso humor sombrio.

- Mas o deles é sempre elegante.

- De facto é, e o Ricardo até tem resposta pronta, defende-se bem da mordacidade dos outros, por vezes, nas respostas à sua. Mas tudo isto existe e é triste e é fado. Prefiro o humor americano. Há muita gente entre nós assanhada contra a Ferreira Leite, o Cavaco não sei se a tramou, o que é certo é que o Sócrates vai à frente nas sondagens, e o Paulo Portas, apesar do seu dinamismo confiante, fica sempre no fim, basta-lhe afirmar-se da direita. Que este país cada vez está mais virado à esquerda.

A minha amiga tenta criar ilusão:

- Essa questão das percentagens pode ser uma boa treta, um sofisma manipulador da opinião. Eu não acredito. Cada um mente por seu lado. Pode ser que seja verdade, mas é uma coincidência.

- Quem dera que fosse verdade isso que diz! Mas eu acredito nas sondagens. Com o desejo secreto, é certo, de que sejam falsas, e que o Santo António continue a ajudar-nos, meninos que somos, no seu colo protector.

- O que vale é que a semana está a acabar. Estas passeatas, estes sacrifícios... já não devia ser assim! Basta haver uma televisão. Explicar bem o que querem fazer e chega. “Está aqui o meu programa”. Isto era o bastante. Eles esgotam-se, trovejam, injuriam-se, no pó das estradas. E ficamos na mesma. Só que, mais empobrecidos, por causa dos gastos. A televisão bastava.

- Não, nós queremos testar resistências, adoramos o espectáculo, não dispensamos a garraiada, nem que a vaca tussa.

- E agora mais a greve da Tap! Já viu o oportunismo, a dois dias das eleições?

- É verdade! Mais desemprego, talvez, em perspectiva. Mas quem se importa com a nação?

- Sim, ninguém se importa, nem políticos, nem sindicatos, nem pilotos aviadores que até têm vencimentos e regalias q.b....

- E as greves, é geralmente a esquerda que as fomenta. Querem lá saber do país? Mas a esquerda vai ganhar.

- Pois! A esquerda é que defende os interesses dos trabalhadores. Pelo menos é o que ela diz.

- Trouxe-lhe um texto que li hoje, no blog “A bem da Nação” . É de Luís Soares de Oliveira, muito expressivo sobre esse conflito social entre o capital e o trabalho, concluindo que não era necessário acabar com uma das classes, da proposta de Karl Marx. Vou transcrever este excerto:

“Já nos anos 90, quando estudei o fenómeno do desenvolvimento económico sul-coreano, constatei que os preconizadores do modelo tiveram o cuidado de provocar artificialmente uma luta de classes. Foi criada uma classe capitalista, arrebanhando os especuladores que tinham conseguido fazer fortuna durante a guerra de 1950. Exigiu-se-lhes que criassem as indústrias constantes do programa oficial. Se o não fizessem, os seus bens ser-lhes-iam confiscados ao abrigo de uma lei do enriquecimento ilícito então promulgada. As greves e outros processos de luta pacíficos – ainda que por vezes violentos – foram consentidos. Tais actividades não podiam, contudo, colidir ou reduzir o horário laboral (48 horas por semana). E assim, em 30 anos, a Coreia do Sul passou de um dos países mais pobres do mundo para um dos dez países com mais elevado rendimento per capita.”

- É caso para dizer como o Fernando Pessoa “E esta hein!” E também para levarmos os nossos donos do capital fraudulento a utilizá-lo nas indústrias nacionais.

- Pois! Mas quem é que vai nisso? Aqui são protegidos, os donos dos capitais ilícitos. E mesmo a esquerda, se viesse a governar, entrava nos mesmos conluios que a direita. Aqui quem manda é o capital, tenha a origem que tiver. E, bons e sensíveis como somos, também não estou a ver o governo a impor regras tão duras ao povo trabalhador. Isso está bem para os Coreanos, e os Chineses, etc, etc, habituados a trabalhar muito e a ganhar pouco. E vê-se bem que é para bem da nação. Creio que têm cultura para isso. Nós não sabemos o que significa essa palavra – Nação.

Berta Brás

sábado, 19 de setembro de 2009

Cerco e tomada de Olivença

20 [de Abril]. 6ª feira pela manhã mandou o governador cortar o arvoredo das hortas do Vale da Corna, assim por que nos fazia dano, como por que o inimigo se não aproveitasse dele para faxina. Enquanto se cortou esteve um bom troço de infantaria fora e a cavalaria que tínhamos dando segurança aos que estavam e traziam a rama. O governador e eu estivémos no baluarte da Corna vigiando os movimentos do inimigo, ele para a parte do Vale das Éguas e Santa Catarina e eu com um óculo vendo se do olival de João Cabelos e o mais que há, até o posto de Elvas, saía alguma cavalaria a impedir o corte, porém não saíra e os nossos se recolheram à praça.

Neste dia amanheceu uma bateria feita pelo inimigo no outeiro de São Bartolomeu e para ele mudou as peças grossas que tinha na outra parte do Espinhaço de Cabra. Desta que ficava mais perto demos a metade do que a outra. Começou o inimigo a fortificar as casas da vila, entre as mais peças que aí pôs foi uma de 48 libras, e foi este o primeiro dia que vimos na praça balas de calibre.

O governador mandou logo fazer contrabateria para aquela parte, o que obrou o capitão Manuel Rodrigues Pigaço, mandando fazer esplanadas no baluarte de São Francisco, e aí pôs três peças grossas; no de São Brás havia duas, e no da Rainha três, que todas atiravam contra aquela bateria, mas não foi bastante para que não arruinassem o mosteiro aos frades e muitas outras casas da vila que ficavam vendo-se daquela parte.

Na noite deste dia trabucou o inimigo e lançou algumas bombas dentro da praça. eram estas feitas de metal e tinham de calibre 130 libras, afora o enchimento; em qualquer parte em que davam faziam um poço grande, porque entravam muito pela terra e em tomando fogo faziam uma notável ruína, porém muito maior quando davam em alguma casa, porque afora de voarem todo o telhado e sobrados, arruinavam as paredes.

Neste dia caiu uma bomba na igreja de Santa Maria que estava cheia de mulheres e meninos, mas foi Deus servido que o primeiro golpe desse em um friso da igreja, com o que, quando caiu sobre a abóbada a não rompeu, só quando arrebentou voou um pedaço grande do telhado.

Por estes dias se acabou de fazer a coroa de que falei na relação de 13 deste mês, assistindo sempre nele nove companhias de guarnição e trabalhadores, afora gente da terra e pedreiros, governava esta gente até então o sargento-mor Manuel de Magalhães.

Logo que o inimigo deu vista da praça em 12 do presente, mandou o governador ao sargento-mor da vila Gil Lourenço Cabeça com o capitão Gonçalo Mendes Homem e grande quantidade de gastadores, todos da vila, que fossem cortar a rama dos olivais mais vizinhos à praça, o que fizeram, e trazendo-a os soldados e gastadores serviu que fora o inimigo se afastar mais longe, por estar descoberto de faxina para esta obra e outras.

21. Sábado pela manhã entrou na praça o alferes do capitão Diogo Rodrigues de Sousa, do terço de João Álvares de Barbuda, o qual ao tempo em que o inimigo veio estava no Algarve, donde era natural, e filho de um sargento-mor; veio com ele outro soldado infante que o guiou. Os nossos tomaram língua [isto é, capturaram um soldado inimigo] e se informou o governador do poder do inimigo, que sempre os castelhanos souberam engrandecer com palavras e encarecimentos.

Caminhava o inimigo com as suas linhas exteriores e obras dos seus quartéis, de uma e outra coisa tinha já feito muito, principalmente no da circunvalação.

Muitos soldados castelhanos aventureiros vinham de pé fazer tiros aos nossos, e os nossos saíam a eles. Neste dia veio um galego, natural que disse ser da Corunha, que se chamava Sanchez de Taivo; este chegou até perto da Cruz de São Pedro e aí lhe deu um balaço por um olho, de que caiu, mas não morto, se bem desacordado. As suas sentinelas de cavalo o quiseram retirar, porém Domingos do Prado, filho do sargento-mor Gil Lourenço Galego, chegando pegou ao ferido por um pé e o trouxe a rasto até à estrada coberta, e aí se confessou, e o levaram ao hospital. Nunca quis dizer quem era, de que qualidade e que posto tinha. Viveu ainda cinco dias.

Na algibeira se lhe achou uma relação de algumas companhias de infantaria, entre outros papéis, e uma memória de dinheiro cobrado de contribuição de alguns lugares e um rol de prata lavrada, que de pouco tempo tinha comprado.

[22 de Abril - Está, por lapso, indicado no original com o nº 23; nota introduzida por Horácio Madureira dos Santos na sua transcrição] - Domingo se viram mui avante as linhas do inimigo que, como trabalhavam nelas de noite, apareciam pela manhã crescidas; pela tarde deu uma bala grossa na rua das Flores, e na chapeleta que fez matou um alferes auxiliar, foi este o primeiro homem que o inimigo nos matou.

Desde este dia se deu carga contínua de mosquetaria de dia e de noite pelas partes em que o inimigo trabalhava, para lhe impedirem o seu serviço.

23 - 2ª feira amanheceu uma nova plataforma no mosteiro de São Bartolomeu, mas por baixo, coisa de trezentos passos, e para ela passou o inimigo as peças que na outra tinha; ficava esta menos de tiro de mosquete da praça.

[24] - 3ª feira ao amanhecer entrou na praça Diogo Soares, soldado honrado, o qual estava fora dela ao tempo que chegou o inimigo. Neste dia amanheceu outra bateria, posta por baixo da Cruz de São Pedro; nesta havia três peças grossas, duas faziam tiro aos baluartes da Rainha e uma à Torre d'El-Rei, e esta lhe quebraram algumas pedras junto às obras mortas. Um auxiliar de Évora falou da praça, entendeu-se que se passara ao inimigo.

[25] - 4ª feira esforçou muito o inimigo as suas baterias, e as balas, que davam no muro, tornavam para trás, estas nos mataram cinco soldados, e as que saltavam para dentro da vila fazendo chapeletas mataram cinco bois; as primeiras três bombardas arruinaram três moradas de casas.

As sentinelas da ronda tocaram arma ao inimigo, e enquanto durou, largaram todos o trabalho, e todos andavam com tanta confusão que os não podiam os cabos reduzir à forma. Nesta noite escreveu o governador [da praça, Manuel de Saldanha] ao Conde [de São Lourenço] e a Câmara [de Olivença] lhe escreveu o seguinte:

Presente é a Vossa Senhoria quantos dias há que o inimigo nos tem sitiados, e com não serem muitos nos tem cortado os olivais, destruindo os pães [ou seja, as culturas], e comida da sua cavalaria e bagagens; com a artilharia e bombas nos vai arruinando as casas, com o que nos não deixa fora de toda a pobreza e miséria. Nós somos e fomos sempre bons e fiéis vassalos a Sua Majestade, e como tais merecemos ser socorridos, o que temos por muito certo, confiados na grande mercê que Vossa Majestadefez sempre aos moradores desta vila. este socorro ficamos esperando, e pedindo a Deus que nele dê a Vossa Senhoria os bons sucessos que desejamos.

Esta carta cifrou [ou seja, pôs em cifra, em código] Gilot, e creio que fielmente, se bem me disse o que escreveu a cifra que lhe acrescentou ou cortou, mas ele passou, e a levou o Franco. Neste dia se tomou língua, e uma das balas que faziam tiro à torre fez em pedaços um sino que estava nela e servia de tocar a rebate.

26 - Quinta-feira pela manhã teve a nossa cavalaria uma escaramuça com a companhia da guarda do inimigo junto das hortas, no Ferragial do Azoche; durou um bom espaço e foi bem travada. Os nossos se recolheram sem dano, o inimigo algum recebeu, e eu soube do tenente Pantoja [oficial espanhol], [n]o dia em que saímos rendidos, que lhe morreram quatro e foram feridos quinze, e muitos cavalos. Neste dia fez o governador repartição dos homens nobres para estarem nos baluartes, três em cada um, mandando na artilharia e vendo como se pelejava por aquelas partes, para que, parecendo-lhes necessário, o advertissem [no sentido de "avisassem"] aos capitães, e a ele.

Por noite um soldado de D. Tomás Geraldino se passou para o inimigo, um mosquete que rebentou matou um soldado e levou a outro uma mão. Uma bala grossa quebrou pela jóia um sacre que estava na torre, com a qual e outra peça de três libras se fez grande dano ao inimigo.

[27] - Sexta feira se começou de ver uma linha que de novo fazia o inimigo; começava no quartel do olival de João Cabelo e ia caminhando ao redor da praça, a tiro de arcabuz da estrada encoberta para a parte da Corna. O governador mandou com grande cuidado segar os pães [ceifar o trigo e outros cereais] que estavam ao redor da vila, por estarem tão crescidos que se não viam as obras do inimigo senão quando eram já mais altas que eles; isto cometeu ao sargento-mor da terra Gil Vaz cabeça, o qual o fez com os moradores dela.

Neste dia acabou o inimigo de fazer a outra linha de comunicação de uma bateria para a outra, e ambas guarnecia do quartel de Vale Mimoso. Daquela linha saíam soldados a tomar alfaces nas hortas do Ral, que ficavam entre nós e eles, e lhe mataram os nossos alguns com tiros, da estrada encoberta. Acabou-se uma meia lua que o governador mandou fazer entre os baluartes da Corna e do Calvário, e se guarneceu e começou de se trabalhar em outra, que mandou fazer defronte da porta do Calvário.

O inimigo, desenganado com o pouco efeito que a sua artilharia fazia no baluarte da Rainha, deu mais elevação às peças e meteu os tiros por dentro da vila, com o que fez grande dano nas casas daqueles bairros; deixou de atirar à torre e algumas vezes atirou à estacada da estrada encoberta, com o que nos matou e feriu alguns soldados.

28 - Sábado pela manhã apareceu um quartel escrito em meia folha de papel perto da nossa estrada encoberta, em um pau que parecia cabo de enxada; trouxeram-no ao governador e ele o recolheu.

Também apareceu mui avante a linha que fazia pela parte do campo de [espaço em branco no texto original; nota de HMS]. A artilharia do inimigo arruinou muitas casas na rua grande de S. Bartolomeu, e entre estas as em que eu vivia. Trabucou e lançou esta noite vinte e uma bombas, que arruinaram algumas casas.

Pôs o governador fachos em a torre e sucedeu que estando ele com muita gente na abóbada da porta do Calvário, dos quais todos dormiam, senão João Mendes Mexia, Fernão Gomes de Cabreira e Gilot, que passeavam, se disparou uma arma, e o pelouro dela deu em Salvador Machado, sargento-mor dos auxiliares de Beja, e lhe quebrou uma perna, de que morreu em três dias. Como era noite em que se trabucava, com o ruído do tiro saíram todos fugindo desacordados, cuidando que era bomba que ali caíra, com o que se não pôde fazer averiguação certa do caso, mas sempre se teve que foi desastre.

Duravam as baterias, e de uma e outra plataforma atiravam furiosamente. Em tanto que houve dia em que se contaram setecentos tiros, segundo me afirmaram soldados curiosos e de verdade. Domingo [dia 29] pela manhã se passou para a praça um soldado do exército, era português, deu algumas notícias do poder do inimigo, mas pouco certas. de tarde saíram a tomar língua dois soldados nossos que foram Gonçalo Vaz e outro, o inimigo os carregou com muitos, contra os quais sustentaram uma escaramuça por muito tempo, e se retiraram sem dano.

À noite começámos de ver fogos por junto de Juromenha, tivémos grande festa, entendendo que era o nosso exército. Como assim foi sem embargo de que Castilho [Stéphane Auguste de Castille] sustentava, e com apostas, que nem era o exército, nem havíamos de ser socorridos, o que dava grande escândalo a todos. O governador mandou continuar os fachos na torre.

[30] 2ª feira pela manhã se via que da linha da comunicação entre as baterias do inimigo saía formado um aproche, com que caminhava direito à estrada encoberta, pela parte do baluarte da Rainha. Este formavam de noite, e faziam o que lhe bastava para se cobrirem de alto e grosso, e de dia o engrossavam e trabalhavam cobertos.

Pela manhã veio um escravo branco e ferrado, que era tambor-mor, e cuidava que o nosso forte era quartel seu, e se veio meter nele. Este foi trazido ao governador e disse que no dia atrás tinha chegado ao exército D. Francisco de Guzmán, novo mestre de campo que vinha de Sevilha com nove companhias de infantaria, e que logo lhe mataram um moço que era o melhor sapateiro que havia na cidade.

Do quartel de S. Francisco Velho se passou para cá outro castelhano bem fardado, mas ao meu ver e ao de todos, falto de juízo. Outro se tomou para língua, de todos soubemos que entre os Duques de S. Germán e o de Osuna houvera diferenças e que chegaram [a] vir à espada, e foi porque o de Osuna disse que era ruim guerra atirar às casas da vila, que queria ganhar, e que rompesse a muralha e entrasse a praça, que a isso vinha; sobre estas tiveram outras razões, e a final a de Osuna foi que em Espanha, depois de El-Rei, só ele era e ninguém lhe precedia. Na noite deste dia trabucou o inimigo e lançou sete bombas, com o que arruinou quatro moradas de casas.

Maio 1 - Vendo o governador que o inimigo caminhava para nós, mandou fazer no parapeito e segundo friso da estrada encoberta duas cortaduras, com as quais deixava cortado o ângulo dela por aquela parte, e mais atrás daquelas mandou fazer outras. Vendo também que havia na praça moradores necessitados que não tinham que comer, lhes mandou dar racção como aos soldados, a cento e sessenta e cinco deles.

2 - Quarta-feira trabucou o inimigo de noite e de dia e lançou grande quantidade de bombas, quatro delas arruinaram quatro moradas de casas em que caíram; entre estas deu uma em casa de Francisco de Magalhães Galego, e fez uma disforme ruína, e lhe queimou todo o móvel de sua casa, que era muito e bom.

Pelas duas horas da tarde mandou o governador fazer uma surtida ao inimigo naquele novo aproche com que vinha caminhando. Foi por cabo o alferes reformado João Domingos, e levou trinta infantes e alguns aventureiros, da cavalaria foram doze cavalos, e por cabo o furriel Domingos Pereira. Saíram pela estrada e com toda a fúria se arrojaram ao trincheirão que estava ainda tão singelo, que os cavalos passaram todos da outra parte.

Estava o inimigo bem descuidado deste dano, e quando advertiu nele já não teve tempo para mais que fugir, o que não puderam fazer mais que até dez; os demais todos morreram e com eles o sargento-mor Palacios, cabo de tanto porte que ainda o dia que saímos rendidos vi que os castelhanos choravam a perda deste soldado. Só ele se pôs em defesa com mais dois, que também morreram. E o capitão e oficiais da companhia que ali guarnecia, que tinha 75 soldados, deles trouxeram um para língua, que nos informou de tudo, e ao depois o soubemos de outros, que [se] passou assim. Os nossos vieram sem dano, só o alferes que foi cabo trouxe três feridas, mas de pouco porte, e o sargento Castelão uma picada em um braço [picada: ferida provocada por um pique].

O sentimento obrigou ao inimigo a se despicar, e o quis fazer dando-nos um assalto na noite deste dia. Tinha já dado meia-noite, quando pela parte do baluarte da Rainha avançou com um grosso de infantaria, entre espanhóis e estrangeiros, e para melhor os obrigar trazia por detrás deles alguma cavalaria. Chegaram a pegar nas estacas e a atirar com pedras; ao depois de gastar, de parte a parte, os tiros e granadas que ali havia, chegou a durar a briga sem tiros muito tempo. Desta parte lhe tomaram os nossos algumas picas [piques] e chuços, em que lhe pegavam e tiravam das mãos. Durou o combate por esta parte duas horas, em que de ambas partes se pelejou furiosamente.

Activou-se o inimigo e retirou mortos e feridos, e só ficaram bem poucos, que por ser mui perto de nós deixaram muitas armas no campo. Quis refazer-se para segunda, mas os seus soldados o não quiseram fazer, sem embargo dos gritos, ameaças e afrontas que lhes diziam.

Logo que se retirou de todo, se deu pelo muro uma salva, e viva[s] a Sua Majestade, que Deus guarde, com que o inimigo tornou a avançar pela parte de São Lázaro, aonde me eu achei. Saiu da sua linha e quartel do olival de João Cabelos e com grande algazarra veio para nós, mas tão devagar que parecia os traziam ao Inferno, e com partirem muitos, e por detrás deles um batalhão de cavalaria, chegaram a nós já poucos, ainda que os oficiais bem brazonavam. Eu vi uma só manga de mosqueteiros e o batalhão. Outros dizem que da outra banda vinha outra manga. Chegaram perto da estacada coisa de dez passos, e naquela distância continuaram para baixo até ao Ferragial do Azoche. Receberão a carga de tão perto, e ao depois muitos tiros, com o que se retirou, e retirou os mortos, se bem naquela noite todo[s] os sentimos vir entre o trigo e carregar deles, de sorte que até as selas e freios dos cavalos retiraram. Esta avançada durou menos de meia hora.

3 - Quinta-feira intentou o Du Four contraminar o muro da estacada coberta pela parte do aproche, e tendo rota a parede não pôde obrar coisa alguma, porque a terra o não consentia por ser solta e movida de poucos dias, e assim tornou a mandar tapar o buraco.

O sargento-mor Gil Lourenço Cabeça saiu com gente da terra a cortar trigos para faxinas, e para o que não bastaram se cortou arvoredo dos quintais e hortas de dentro da vila. O inimigo chegou assim o aproche à escarga da estrada encoberta. Mandou o governador fazer uma cortadura no ângulo da estrada encoberta, por dentro do fosso, para que o que carretavam a faxina os meninos e mulheres, que eu vi conduzir, por que os homens não perdessem de trabalhar.

Neste dia, logo à noite, intentou o inimigo outro assalto por donde o primeiro [tinha sido feito], mas não chegou perto, só tratou de retirar os mortos que lhe tinham ficado ali no dia atrás.

[4 de Maio] 6ª feira, manhã, pelas dez horas do dia foi visto o nosso exército, marchava para [a] praça, fez caminho direito ao Castelo Velho, que é um outeiro que está um quarto de légua da vila. O inimigo queimou as barracas do quartel de São Francisco o Velho e marchou com todo o poder para o quartel do olival de João Cabelos, que era então o da Corte, e ficava fronteiro àquela parte por onde marchava o nosso exército. Deste quartel mandou pôr duas peças pequenas para o outro de Vale das Éguas, aonde tinha feito um fortezinho no meio da sua linha exterior, e com a infantaria e cavalaria guarneceu a sua linha desde Ladra até o ribeiro de Figueira, repartindo a infantaria em esquadrões, que arrimava singelos à linha, e a cavalaria em batalhões singelos em três esquadrões.

Nesta forma esperou o inimigo os nossos dentro da sua linha; era esta uma trincheira feita de terra e faxina, de altura bastante para se poder pelejar detrás dela, e de grossura ordinária, como os quartéis da campanha. Pela parte de fora tinha um fosso ou sanja de largura ao parecer de cinco palmos, e altura de pouco mais; isto tinha pela parte, que eu as vi quando vim rendido; as outras partes deviam ser como esta, porque da praça lhe não vimos maior vulto por outras partes do que por aquela.

[5] Sábado pelo meio-dia marchou o nosso exército direito à praça pela banda de Castelo Velho; e porque o inimigo tinha guarnecido a atalaia daquele outeiro com vinte cinco mosqueteiros, mandou um troço de mosquetaria que avançassem a ela, o que fizeram com valor e entraram a atalaia e forte, e mataram só três dos que estavam à defesa e aos mais deram quartel.

Daí foi o nosso exército para o sítio da Carvoeira, que dista desse outros dois tiros de mosquete, aonde o inimigo tinha outra atalaia guarnecida; e os que estavam à defesa dela pediram que, para satisfação dos seus, lhe dessem lugar a que dessem duas cargas sem bala e que eles estavam rendidos, o que se lhes concedeu, segundo me informaram, e eram outros vinte cinco mosqueteiros; guarneceu o nosso exército estas atalaias.

Logo que o nosso exército chegou a Amora, se pôs em forma de batalha, e foi uma formosa vista; e estando nesta forma, e ao parecer que querendo acometer, começou de chover água grossa e continuou até noite; neste tempo se afastou pouco atrás o nosso exército, e se meteu no Vale da Amoreira, e aí se aquartelou. Do baluarte de cima do Calvário se atirou ao inimigo, ao quartel de João Cabelos, e deu na pólvora que logo ardeu e foi grande quantidade dela que se queimou, e com ela voaram mais de trinta homens, excepto os que ficaram tostados.

[6] Com a grande chuva esteve a guerra em calmaria o dia de domingo, até que pela tarde atirou o inimigo algumas peças ao nosso exército desde o olival de João Cabelos, e com as peças que tinha levado para Vale das Éguas atirava à vila. Eram as balas umas de dez libras, e as duas de sete; do nosso campo se lhe atiravam também com outras peças, mas a chuva tornou a continuar como até então.

7 - Ainda segunda-feira chovia como dantes, e os nossos tratavam e ir fazendo o seu quartel no sítio referido; e em tanto tornou o inimigo a guarnecer e trabalhar nos seus aproches, e esforçava as cargas de mosquetaria que deles dava contra a praça. Os tiros de artilharia de campo a campo continuavam. Este dia se passou para a praça um soldado castelhano, e por noite teve o inimigo arma [ou seja, houve uma situação de alerta] pela parte [do baluarte] da Rainha.

[8] - Terça-feira pela dez horas do dia saiu a cavalaria do inimigo do quartel de Vale Mimoso e marchou por dentro da sua linha para o de João Cabelos, e foi sair pelo ribeiro de Ramapalhos direito a Janela Ladra. Já fora da linha foi caminho direito às Calçadas, e daí se formou em batalha ao longo do ribeiro abaixo, algum tanto afastado dele, e levou consigo uma pouca de mosquetaria, que formou junto do batalhão do corno direito, e assim fez frente para a nossa gente. Os nossos destoutra parte so ribeiro se formaram, e assim estiveram grande tempo sem haver mais que uma bem travada escaramuça entre os batedores, com o que se recolheu o inimigo às suas linhas.

Pela tarde avançaram dois batalhões ao rastilho da porta do Calvário, foram rebatidos e com perda de dois cavalos que logo ficaram, afora os que levaram feridos. Lançaram fama que minavam pela parte do seu ataque, o que se achou pelo contrário. Neste dia choveu muita água, o mesmo fez quinta-feira, que passou sem cousa de que se deva falar. [A narrativa apresenta aqui alguma confusão: como veremos na próxima parte, a quinta-feira seguinte foi dia de azáfama - o autor talvez tenha querido escrever "quarta-feira", mas mesmo nesse dia registou um episódio curioso, como teremos ocasião de ver.] (continua)

«Relação de tudo o que passou em Oliuença e no Campo do Cerco e tomada da praça pellos Castelhanos. Abril anno de 1657», de autor anónimo,
Este texto corresponde à transcrição (com ortografia actualizada) de um manuscrito anónimo existente na Biblioteca Nacional, secção de Reservados, agora somente disponível em microfilme (FR 970), cujo título é Relação de tudo o que [se] passou em Oliuença e no Campo do Cerco e tomada da praça pellos Castelhanos. Abril anno de 1657.


Por Jorge P. de Freitas