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sábado, 31 de maio de 2008

A SINCERIDADE DA LOUCURA

Sequer havia necessidade de dizê-lo. Eu me revelo, como já se disse, com o meu rosto de meus olhos e, se alguém quisesse me tomar por Minerva ou pela Sabedoria, eu o haveria de desiludir sem palavras, por um só olhar que é o espelho menos mentiroso da alma. Não uso disfarce, não dissimulo no rosto o que não sinto no coração. Sou sempre igual a mim mesma. Não ponho a mascara, como aqueles que pretendem representar um papel de sábios e andam desfilando como macacos vestidos de púrpura e como asnos com pele de leão. Que se vistam com disfarces quando quiserem, que as suas orelhas sobressalentes revelarão sempre um Midas oculto.
Na realidade, é uma espécie ingrata de homens, conquanto pertencentes à minha clientela, espécie que se envergonha publicamente do meu nome, mas ousa aplicá-lo a outros como ofensa. Esses são os mais loucos, os morotatoi [arquiloucos, superloucos], que querem passar por sábios, como se fossem Tales (Tales de Mileto [636-546 a.c.], matemático e filosofo, um dos sete sábios da antiga Grécia). Não deveríamos portanto, chamá-los morosophoi, sábios loucos?

‘Erasmo de Rotterdam’


E SER LOUCO É...

Ser louco é ser São, e conseguir pensar livremente, sem que alguém nos possa materializar idéias, pré-concebidas, deturpando assim aquilo que realmente pensamos...
Sim, ao contrario do que muitos possam imaginar um verdadeiro “Louco” realmente pensa. Pensa até muito mais do que um cidadão dito normal. Um louco não mente, diz aquilo que realmente sente e pensa. Não vai dizer que está bom, quando lhe dói a cabeça, só para agradar a quem o está a escutar. Não vai deixar de gritar, apenas porque alguém quer silencio, não vai dizer que a Sogra é boa gente, quando ela não passa de uma “filha da puta”, não vai dizer quer a vizinha é bonita e simpática quando na realidade todos estão a ver que é feia como a noite dos trovoes e antipática como um fiscal das finanças....
Um louco, verdadeiramente louco, é aquilo que de mais verdadeiro se pode encontrar no planeta, e apenas lhe chamam louco, porque têm inveja de não conseguir ser como ele; verdadeiros, frontais, e então são dissimulados, escondem-se por detrás de capas ridículas, são os tais sábios que Erasmo tão bem retrata, e que não passam mesmo de uma imensa clientela de faz de contas... que se armam em Sãos...
Quando escutamos a seguinte frase
“O tipo diz tudo que nem um louco...”
... não estamos mais do que a ouvir a realidade, e ao invés do que se possa pensar, a escutar um elevado elogio, pois ser louco é ser eu próprio, sendo verdadeiro, e totalmente frontal... sendo louco (para os outros) obviamente.
Há como é bom ser louco!!!

‘João Massapina

sexta-feira, 2 de maio de 2008

SIGNIFICAÇÃO DA LOUCURA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Se, apesar desse formidável jogo da “moralidade dos costumes”, sob o qual viveram todas as sociedades humanas, se durante milênios antes da nossa era e mesmo no curso desta até os nossos dias. (nós mesmos vivemos num pequeno mundo de exceção e, de algum modo, na zona má) – idéias novas e divergentes, avaliações de juízos de valor contrários nunca deixaram de surgir. Isso só ocorreu porque estavam sob a égide de um salvo-conduto terrível: quase em toda a parte, é a loucura que aplana o caminho da idéia nova, que levanta a proibição de um costume, de uma superstição venerada. Compreendem por que foi necessária a assistência da loucura? De qualquer coisa que fosse tão terrificante e tão incalculável, na voz e nos gestos, como os caprichos demoníacos da tempestade e do mar e, por conseguinte, tão dignos como eles do temor e do respeito? De qualquer coisa que levasse como as convulsões e a baba do epilético, o sinal visível de uma manifestação absolutamente involuntária? De qualquer coisa que parecesse imprimir ao alienado o sinal de alguma divindade, da qual ele parecesse ser como a máscara e o porta-voz? De qualquer coisa que inspirasse, mesmo ao promotor de uma idéia nova, a veneração e o temor dele próprio e não já remorsos, e que o impelisse a ser o profeta e o mártir dessa idéia? – Enquanto em nossos dias nos dão sem cessar a entender que o gênio possui, em lugar de um grão de bom senso, um grão de loucura, os homens de outrora estavam muito mais perto da idéia de que lá onde houver loucura, há também um pouco de gênio e de sabedoria – qualquer coisa de “divino”, como se murmurava ao ouvido. Ou melhor, afirmava-se mais claramente: “Por meio de loucura, os maiores benefícios foram derramados sobre a Grécia”, dizia Platão, filosofo grego, numa citação do livro Fedro, com toda a humanidade antiga. Avancemos ainda um passo: a todos esses homens superiores, impelidos irresistivelmente a romper o jugo de uma moralidade qualquer e a proclamar leis novas, não tiveram outra solução, se não eram realmente loucos, que se tornarem loucos ou simular a loucura – Isso vale para todos os inovadores em todos os domínios e não somente naqueles das instituições sacerdotais e políticas: - até mesmo o inventor da métrica poética teve de se impor por meio da loucura, segundo relata Platão na sua obra Íon. Até épocas bem mais tranqüilas, a loucura permaneceu como uma espécie de convenção entre os poetas: Sólon recorreu a ela quando inflamou os atenienses para a reconquista de Salamina, segundo que narra Plutarco, historiador grego, da vida de Sólon. – “Como alguém se torna louco quando não o é e quando não tem a coragem de fingir que o é”.
Quase todos os homens iminentes das antigas civilizações se entregaram a esse espantoso raciocínio; uma doutrina secreta, feita de artifícios e de indicações da inocência e mesmo da santidade de tal intenção e de tal sonho. As fórmulas para se tornar “homem-medicina” entre os índios, santo entre os cristão da Idade Média, “anguécoque” entre os groenlandêses, “pajé” entre os brasileiros são, em suas linhas gerais, as mesmas; o jejum além dos limites, a prolongada abstinência sexual, o retiro no deserto ou no cimo de uma montanha ou ainda no alto de uma coluna ou também “a permanência num salgueiro velho à margem de um lago” e a ordem de não pensar em outra coisa senão naquilo que pode desencadear o êxtase e a desordem do espírito. Quem ousaria, portanto, lançar um olhar no inferno das angustias morais, as mais amargas e as mais inúteis, onde provavelmente definharam os homens mais fecundos de todos os tempos! Quem ousaria escutar os suspiros dos solitários e dos transviados: “Ah! Dêem-me ao menos a loucura, poderes divinos! A loucura para que termine finalmente por acreditar em mim mesmo! Dêem-me delírios e convulsões, horas de claridade e de trevas repentinas, aterrorizem-me com arrepios e ardores que jamais mortal algum experimentou, cerquem-me de ruídos e de fantasmas! Deixem-me uivar, gemer, rastejar como um animal: contando que adquira a fé em mim mesmo! A dúvida me devora, matei a lei e tenho por lei o horror dos vivos por um cadáver; se não sou mais do que a lei, sou o último dos réprobos. De onde vem o espírito novo que está em mim, se não vem de vocês? Provem-me, portanto, que eu lhes pertenço! Só a loucura a mim o demonstra”. E muitas vezes esse fervor atingia o seu objetivo: na época em que o cristianismo dava amplamente prova da sua fecundidade multiplicando os santos e os anacoretas, imaginando assim que se afirmava a si mesmo, havia em Jerusalém grandes estabelecimentos de alienados para os santos naufragados, para aqueles que haviam sacrificado o seu último grão de razão.

Friedrich Wilhelm Nietzsche

Da loucura nasceu sempre a razão...
Bom, não é bem assim, mas tem algum fundo de veracidade, se pensarmos, que todas as grandes descobertas da humanidade, passaram inicialmente por estágios de grande desconfiança, e de clara afirmação de insanidade mental dos seus mentores.
Veja-se, por exemplo, o dia em que alguém afirmou que a terra era redonda, e as cabecinhas pensadoras daquela época, sobretudo os religiosos que entendiam, que toda e qualquer verdade tinha quer ser exclusivamente a sua, vieram dizer, e afirmar para tudo e todos eu era mentira.
Claro que nessa época, para eles a terra era plana, e tinha uma extensão sem fim.
Melhor ainda, tinha fim, realmente assim que colocavam os pés dentro de água, pensavam que ali era o principio do fim, pois dali para diante seria só água.
Com as descobertas marítimas, a coisa evoluiu, mas pouco, diga-se, pois passaram a acreditar que afinal o fim não era na água, mas para lá da água...
Como sempre surgiam os dogmas, sobre o que existia para além da água!
Quando vieram apresentar a teoria de que a terra girava, então foi o fim, e o gênio dessa descoberta; bom! Coitado, teve que dizer que a verdade era mentir, e que estava mesmo louco.
Pronto, surgiu assim mais um louco, entre tantos gênios loucos.
Mas ninguém pense que a importância da loucura, era para certos setores religiosos, só importante na Idade Media, pois que mesmo nos dias de hoje, se pode chamar de loucos, indiretamente, entre muitos outros, os cientistas.
Se alguém responsável vem a terreno dizer que é importante, algo tão simples como a utilização do preservativo masculino, para evitar a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis, tais como a AIDS, isso é desde logo entendido como loucura, pois que o sexo, é o dos anjos, e só pode e deve ser feito, por estes, o resto é reprodução, e sempre feito entre o casal, que nunca por nunca pode pular a cerca, para dar uma saltada a satisfazer os seus apetites mais naturais com a vizinha, ou ...
Como a vizinha é pura e casta, e claro só vai ter relações com aquele vizinho, vira anjinho, branquinho, com asinhas, e tudo bem!
O que acontece no interior das sacristias, por esse mundo afora, é dentro do principio da maior santidade possível, e jamais pode ser atido como pecado...
Para os religiosos, já no tempo em que dizem que o cristo andou á pregar na terra, isso era só santidade, e veja-se por exemplo, Maria Madalena, só existe quando convêm, pois quando se torna incomoda é escondida...
Mas quem será mesmo que está sentada(o) ao lado direito do Cristo nas reproduções da última ceia?...
Para todos aqueles que não são cegos, mas podem ser tidos por loucos; é uma mulher, para os outros, que não querem ver pelos seus próprios olhos, é simplesmente mais um dos apóstolos...
Então como eu não sou cego, prefiro ser louco, e dizer o que realmente lá esta...
Observem bem, não é mesmo a Maria Madalena?!
Porque será que para a maioria das religiões, a mulher é considerada um ser inferior?
Mais uma vez prefiro ser tido por louco e considerar que somos iguais em importância para a humanidade.
Então não será precisamente por essa igualdade de importância que existem homens e mulheres?
Porque será que a humanidade esta contaminada com uma enormidade de doenças sexualmente transmissíveis?
Resposta, por exemplo, da igreja católica:
Porque não se mantiveram castos e puros, e em obediência a uma e um só relação, e outras razões dignas de um folhetim para passar na hora infantil das TV’s do terceiro mundo, que apontam como as causadoras de todo o mal que vem ao mundo.
Digo eu:
Porque a humanidade vive aceleradamente, busca a compensação do tesão diário, do estresse, e para isso não olha a meios para atingir os seus fins. O sexo é para muitos uma compensação para toda a vida que levam, e se não se tomam certos cuidados e se respeitam alguns limites, pois os risco que se correm, podem levar a esse tipo de acidentes, tal como um condutor que não respeita a velocidade limite recomendada, ou mesmo um padre que jurando abstinência sexual, como acontece em todo o lado, exemplo mais recente nos EUA, ultrapassa os seus limites, e muitas vezes até para além do que esta consignado como normal.
Logo, esses passam também a entrar no mundo da loucura.
Quem não respeita regras ou convenções, é louco!
Quem tem idéias fora do comum, é louco!
Quem não cumpre as regras estabelecidas, e veste uma blusa encarnada no dia das blusas amarelas, é louco!
Quem anda calçado na praia, é louco!
Quem anda descalço no meio do alcatrão da avenida, é louco!
Quem beija a esposa em público, e lhe diz alto e bom som: Te Amo, é louco, pois isso é para se dizer em casa...
Quem é anti, anti, anti sistema é louco!
Mas afinal quem neste Mundo é realmente são da ‘cuca’? Quem não é nem um pouquinho louco?
Nietzsche já adivinhava a importância da loucura, em tudo o que o mundo viria a viver após ele. Estávamos a falar de loucura cientifica, pois vamos continuar:
O homem chegou um dia á Lua!
Pois nessa época, já eu era vivo, e sobretudo; os padres, afirmavam que era mentira, tratava-se de uma montagem feita em estúdio, feita só para apoiar as idéias de uns loucos, que queriam explorar o espaço...
Os cientistas evoluíram no estudo das células tronco, e outras descobertas sensacionais. Mas para alguns isso é trabalho de loucos, e deve ser banido, parado, destruído.
A humanidade esta bem assim, até já evoluída demais para o seu gosto.
São todos uns loucos!!!
Porque será que do macaco quadrúpede, e que não dobra os polegares, chegamos até aqui?
Porque será que somos agora bípedes?
Porque será que dobramos os polegares?
Porque será que ninguém começou a exterminar á muitas centenas de anos os primeiros loucos?
Quem sabe a humanidade ficasse lá bem atrás no tempo, sem nada do que temos hoje, e vivesse hoje numa caverna aquecida com uma simples fogueira. NÃO...
Como isso seria possível, se ninguém ia arriscar descobrir o fogo, pois seria loucura!
Sabem: olho para o que Nietzsche escreveu sobre a loucura, e sinceramente, acho que ele tinha razão, em querer uivar, gemer, gritar, e ser lá bem no fundo do seu ser um verdadeiro louco...
Eu gosto de ser louco!
Adoro ser louco!
Mas deixo um pergunta no ar:
Se eu sou louco, e gosto de ser louco, então como é ser ou ficar maluco?
É que; diz-se, que um maluco, não é mais do que um doido, alguém que parece apalermado, ou extravagante.
Um louco é alguém que perdeu a razão, um alienado, temerário, estróina, brincalhão, travesso, apaixonado, furioso, e ate mesmo uma planta da família das Plumbagináceas, que também chamam de queimadeira.
Sendo assim, e uma vez que eu, por exemplo, tenho um pouco de todos estes estados descritos acima, exceto me sentir planta, então eu sou realmente um Louco.
Que maravilha! Eu sou louco!
Divinal!
Então e como é que é não ser louco?
Será um tipo que é sempre certinho, nunca perde a paciência com nada, tem medo de tudo, ou não tem medo de nada, não brinca com absolutamente nada, não faz nem nunca fez travessuras, não se apaixona, nem tem sentimento algum.
Caracas!!!...
De repente, ao ver as varias situações, descobri o que é não ser louco:
É ser assim como uma pedra!
Está correto, sim! Então tanto eu sou Louco como o Nietzsche foi felizmente um dia um grande e saudável louco!
Viva a loucura na construção da humanidade, sem ela hoje nem poderia ter escrito todas estas loucuras, bem amalucadas e bem doidas, que espero sinceramente que algum maluco saudável como eu goste...
Sabem como sou louco, descobri que a loucura foi uma criação de alguns loucos, que abraçaram a religião para se considerarem sãos da ‘Cuca’, mas que lá bem no fundo talvez que sejam um tudo nada só, um pouquinho; menos loucos que eu.
Mas realmente eu prefiro ser assim como sou, LOUCO...
Tem sido graças aos loucos e as suas loucuras que hoje estamos ainda aqui!

‘João Massapina’

CONCEITO DA MORALIDADE DOS COSTUMES

Se compararmos a nossa maneira de viver com aquela da humanidade durante milhares de anos, constataremos que nós, homens de hoje, vivemos num época muito imoral: o poder dos costumes enfraqueceu de uma forma surpreendente e o sentido moral sutilizou e se elevou de tal modo que podemos muito bem dizer que se volatilizou. É por isso que nós, homens tardios, tão dificilmente penetramos nas idéias fundamentais que presidiram à formação moral e, se chegarmos descobri-las, rejeitamos ainda em publicá-las, tanto nos parecem grosseiras! Tanto aparentam caluniar a moralidade! Veja-se, por exemplo, a proposição principal: a moralidade não é outra coisa (portanto, antes de tudo, nada mais) senão a obediência aos costumes sejam eles quais forem; ora, os costumes são a maneira tradicional de agir e de avaliar. Em toda a parte onde os costumes não mandam, não há moralidade; e quanto menos a vida é determinada pelos costumes, menos é o cerco da moralidade. O homem livre é imoral, porque em todas as coisas quer depender de si mesmo e não de uma tradição estabelecida: em todos os estados primitivos da humanidade, “mal” é sinônimo de “individual”, “livre”, “arbitrário”, “inabitual”, “imprevisto”, “imprevisível”. Nesses mesmos estados primitivos da humanidade, sempre segundo a mesma avaliação: se a ação é executada, não porque a tradição assim o exija, mas por outros motivos (por exemplo, por causa da sua utilidade individual) e mesmo pelas razoes que outrora estabeleceram o costume, a ação é classificada como imoral e considerada como tal até mesmo por aquele que a executa: pois este não se inspirou na obediência para com a tradição. E o que é a tradição? Uma autoridade superior à qual se obedece, não porque ordene o útil, mas porque ordena. – Em que esse sentimento da tradição se distingue de um sentimento geral do medo? É o temor de uma inteligência superior que ordena, de um poder incompreensível e indefinido, de alguma coisa que é mais que pessoal – há superstição nesse temor – Na origem, toda a educação e os cuidados do corpo, o casamento, a medicina, a agricultura, a guerra, a palavra e o silencio, as relações entre os homens e as relações com os deuses, pertenciam ao domínio da moralidade: esta exigia que prescrições fossem observadas sem pensar em si mesmo como individuo. Nos tempos primitivos, tudo dependia, portanto, do costume e aquele que quisesse se elevar acima dos costumes devia tornar-se legislador, curandeiro e algo como um semi-deus: isto é deveria criar costumes – coisa espantosa e algo perigosa! – Qual é o homem mais moral? Em primeiro lugar, aquele que cumpre a lei com mais freqüência: por conseguinte, aquele que, semelhante ao brâmame, em toda a parte e em cada instante conserva a lei presente no espírito de tal maneira que inventa constantemente ocasiões de obedecer a essa lei. Em seguida, aquele que cumpre a lei também nos casos mais difíceis. O mais moral é aquele que mais se sacrifica aos costumes; mas quais são os maiores sacrifícios? Respondendo a esta pergunta, chega-se a desenvolver várias morais distintas; contudo, a diferença essencial continua sendo aquela que separa a moralidade do cumprimento mais freqüente da moralidade do cumprimento mais difícil. Não nos enganemos acerca dos motivos dessa moral que exige como sinal da moralidade o cumprimento de um costume nos casos mais difíceis! A vitória sobre si próprio não é exigida por causa das conseqüências úteis que tem para o individuo, mas para que os costumes, a tradição apareçam como dominantes, apesar de todas as veleidades contrarias e todas as vantagens individuais; o individuo deve se sacrificar – assim o exige a moralidade dos costumes. Em compensação, esses moralistas que, semelhantes aos sucessores de Sócrates, recomendam ao individuo o domínio de si e a sobriedade, como suas vantagens mais especificas, como a chave mais pessoal da sua felicidade, esses moralistas constituem a exceção – e se vemos as coisas de outro modo é porque simplesmente fomos criados sob a influencia deles: todos seguem uma via nova que lhes vale a mais severa reprovação dos representantes da moralidade dos costumes – eles se excluem da comunidade, uma vez que são imorais, e são, na acepção mais profunda do termo, maus. Da mesma forma que um romano virtuoso da velha escola considerava como um mau todo o cristão que “aspirava, acima de tudo, à sua própria salvação”. – Em toda a parte onde existe comunidade e, por conseguinte, moralidade dos costumes, reina a idéia de que a punição pela violação dos costumes recai em primeiro lugar sobre a própria comunidade: esta pena é uma punição sobrenatural, cuja manifestação e limites são to difíceis de captar para o espírito, que os analisa como um medo supersticioso. A comunidade pode obrigar o individuo a reparar, em relação a outro individuo ou à própria comunidade, o dano imediato que é a conseqüência do seu ato. Pode igualmente exercer uma espécie de vingança sobre o individuo porque, por causa dele – como uma pretensa conseqüência do seu ato – as nuvens divinas e as explosões de cólera divina se acumularam sobre a comunidade – mas ela considera, no entanto, acima de tudo, a culpabilidade do individuo como culpabilidade própria dela e suporta a sua punição como sua própria punição: “os costumes estão relaxados”, assim geme a alma de cada um, “uma vez que tais atos se tornaram possíveis”. Toda ação individual, toda a maneira de pensar individual fazem tremer; é totalmente impossível determinar o que os espíritos raros, escolhidos, originais tiveram de sofrer no curso dos tempos por serem assim sempre considerados como maus e perigosos, mais ainda, por se terem sempre eles próprios considerado assim. Sob o domínio da moralidade dos costumes, toda a forma de originalidade tinha má consciência; o horizonte dos melhores tornou-se ainda mais sombrio do que deveria ter sido.

Friedrich Wilhelm Nietzsche

A Morte, Moralidade, Costumes e Cultura...

A moralidade dos costumes parece numa primeira abordagem, que não entronca diretamente com a importância da Cultura, com as mais diversas, possíveis e imaginarias formas de Cultura existentes no Mundo de hoje. E que sempre assim foi. No entanto, na minha, opinião, nada mais errada essa forma de pensamento, pois que costumes e cultura é uma visão muitas vezes radical e exata da origem do pensamento e ação de cada comunidade.
Veja-se, por exemplos, varias situações, por mim próprio; já observadas, e que considero como mero costume cultural, mesmo que eu a titulo pessoal possa ou não entender, que são moralmente consideradas como boas, obviamente aos meus olhos, que são produto de uma determinada moral, de uma determinada relação fixa de costumes, no fundo de uma determinada Cultura de formação de matriz genética.
Passei pela Guiné-Bissau, á alguns anos, numa incursão ao norte daquele País africano, com múltiplas etnias e religiões, ex-colônia ultramarina portuguesa. No meio de uma picada perdida no meio do mato, um conjunto de casas de adobe cobertas de colmo, e uma festa enorme de homens, mulheres e crianças, com um corpo de alguém, enrolado em tecidos garridos, voando sobre as suas cabeças, passando de mão em mão. Para um europeu, parecia o festejo de algum titulo desportivo, com o treinador a ser festejado, atirado ao ar. Nada mais errado. Era um funeral. Alguém importante, já idoso na pequena comunidade tinha falecido, e estavam a festejar a sua partida para, o que consideravam a imortalidade, junto dos seus deuses, e antepassados que tinham merecido o mesmo destino. Pois podia, como pude ficar perplexo, com tamanha manifestação, mas tive que de acordo com a minha moralidade, os meus costumes e a minha cultura, acabar por aceitar que aquela era a forma de celebrar a Morte, para eles claro. Eles que tem uma formação moralista diferente da minha, para eles que tem uma formação cultural diferente da minha, para eles que tem costumes tão diferentes dos meus, e nalguns casos tão próximos.
Uma vala estava aberta na porta da casa, e seria lá que iria ser finalmente depositado. o corpo, após o ritual que para aqueles moralistas era fundamental ser cumprido na totalidade, com todas as honras, que eles entendiam como necessárias. Mais uma imoralidade aos meus olhos, enterrar alguém junto da porta de casa, onde todos os dias, a todas as horas alguém que queira entrar em casa, tem que pisar o local, que a uns quantos palmos de terra abaixo tem os restos mortais de alguém.
Mas será assim tão imoral?
Pos para nós pode realmente ser, mas para eles seria imoral enterrar o seu ente querido num cemitério, ou cremar o corpo.
Informaram-me, que até poderia ter sido enterrado no meio da sala da casa da família, dependia da sua importância, na hierarquia familiar.
E daí?
Ë um corpo, só mais um corpo, de alguém, que por uma questão de moralidade cultural, é depositado, onde a formação cultural especifica, determina.
Parar para pensar!
A cultura no meio da qual geneticamente nasci tem como decisão tida por moral, que após a morte o corpo seja depositado, sete palmos abaixo do chão, num local apropriado para isso, a que chamam de cemitério. Mas essa mesma cultura não pensou sempre assim, pois á algumas dezenas de anos, fazia questão de enterrar os seus mortos no interior das igrejas, ou depor os corpos em criptas, e também nem sempre foi assim, pois que muito mais para trás no tempo, quase que era ponto de honra enterrar os mortos debaixo de pedras levantadas ao alto, a que chamavam antas, e antes... antes, e antes...
E agora pergunto; e depois?
É a evolução. É a tal criação de costumes de que fala Nietzsche, que leva anos e anos a consolidar...
Eu por exemplo quero ser cremado!
E daí?
Os Indianos também assim gostam de partir, mas eu nem sou Indiano!
E daí?
Opções pessoais. Para mim moralmente esse deve ser o meu destino, no momento de transformação e assim abreviar transformações que levariam muito mais tempo, e com outros destinos finais da minha matéria orgânica.
O meu pai decidiu não ser enterrado, nem cremado, nem nada que lhes possa, passar agora facilmente pela cabeça, neste preciso momento. Ou seja; simplesmente, em vida, determinou doar o seu corpo á Faculdade de Ciências Medicas de Lisboa, e assim foi feito, no momento próprio, no ido ano de 1994.
Faleceu, e o seu corpo foi entregue. O destino dado ao mesmo, não me perguntem, pois que não sei.
Como não tenho o culto dos mortos, para mim, o seu destino foi aquele que escolheu, ou seja; ajudar a ciência. Ponto final!
Alguns vão dizer: mas que imoralidade!
E eu pergunto: Isso é imoralidade uma decisão cultural?
É imoralidade respeitar a vontade de alguém em vida?
Nada disso. É até muito moral, pois essa era a sua vontade, tal como a minha de ser cremado, ou a sua de ser enterrado...
E á alguns anos, se no alto mar, um marinheiro, ou outro tripulante morria, no meio de uma viagem, o seu corpo, não era devidamente preparado, e lançado ao mar?!
Este assunto da moralidade, mesmo que a moralidade fúnebre é algo tão grandioso de se discutir, que ficaria aqui horas e horas a teclar origens e superstições sobre o assunto, para se tentar chegar a uma decisão, que nunca será unânime, pois cultura e moralidade, dão como resultado final os tais de costumes, de que tanto Nietzsche fala como sendo a razão, das razoes múltiplas de se analisar a moralidade e a imoralidade das mais variadas formas.
O combate com o que hoje é imoral, com a criação de costumes, que o transformam em algo moralmente aceite, é assim como a história das saias curtas, a mostra o joelho, ou até muito mais, e dos jeans. São culturas que nascem de costumes que se enraízam...
Num outro relato de desafio entre moralidade ou costumes, sendo que no fundo é simplesmente algo cultural, e aproveitando os bons e variados exemplos, que podemos constatar em África, onde existem os mais variados costumes, moralismos e culturas; dizer que nos idos anos 70 passei uma temporada em Moçambique, mais ao sul geograficamente do que a Guiné-Bissau, e que não muito longe do Songo, próximo de Tete, existia um importante representante de uma comunidade que tinha mais de 80 mulheres, ninguém conseguia contabilizar quantos filhos, e já até netos, e por ai fora, atendendo já á sua proveta idade. Toda aquela gente vivia um redor da sua casa, e ele em vez de alimentar aquela gente toda, era sim, alimentado e sustentado por toda aquela gente, pois que as mulheres serviam para sustentar a casa e a família. Nenhuma tinha aparentemente ciúmes da outra, e todas viviam para o mesmo objetivo, manter a comunidade viva, e atuante, e claro alimentar o “Soba”.
Um dia visitei essa comunidade, e em sinal de amizade, o cavalheiro, mesmo atendendo á minha ainda juvenil idade, disse para eu escolher uma das suas filhas ou netas, que ela seria minha.
Dirão vocês: Mas que grande promiscuidade, que grande imoralidade!
Direi eu, mas que grande demonstração cultural, que para eles é tão normal, como para nós ocidentais, o fato de só estar culturalmente e moralmente enraizado ter uma única mulher, com quem se casa, procria, etc.
Agora o espanto pode ainda ser maior, para alguns, pois que no meio da própria sociedade ocidental, vive um respeitável e culturalmente importante povo, chamado de “Ciganos”. E não são eles que têm como ponto de honra que um cigano deve casar com uma cigana, e vice versa, para manter a raça, e até por questões econômicas, para que a riqueza não se espalhe para fora da sua gente. E que quando isso não acontece, podem chegar ao ponto de matar o contaminador da sua moralidade, ou no melhor dos casos; excomungar o mesmo da família “Cigana”?
Não são eles também que exigem que uma viúva, não volte mais a casar, e vista roupas de cor negra para o resto da vida, para além de não mostrar o cabelo, e ter que andar de lenço, e outras exigências, que cada ramo da grande família Cigana toma como lei?
Não são eles também que, á sua maneira choram os mortos de modo especial, e que fazem ponto de honra, se possível, colocar os mesmos em Jazigos fúnebres, e passar ali muitos dos dias da sua existência, chegando ao incrível, de até fazerem ali refeições, como se fora a nova casa do ente querido falecido?
Não são eles também que comprovam publicamente se uma noiva, esta pura no momento de contrair matrimonio?
E se isso não se comprovar, pela prova da virgindade, com o sangue no momento do ato, ela será definitivamente desprezada?
E isso é exigência de moralidade, ou pura e simplesmente fazer cumprir uma tradição, um conjunto de tradições, que vem a ser transmitidas e preservadas de geração em geração?
Agora algo que vai mesmo mexer com a sensibilidade de alguns, e os deixar a pensar, sobre moralidade, cultura e costumes.
Como muitos sabem, no decorrer da IIª Guerra Mundial, uma das idéias força, entre muitas outras para dominar o Mundo, do ditador Adolfo Hitler, era o apuramento da raça Ariana. Para o efeito deu meios para que se desenvolvessem inúmeras experiências, e até chegou ao ponto extremo de proceder a procriação especifica, de militares com mulheres do norte da Europa, como se as mulheres fossem simples galinhas para serem chocadas para darem á luz varões com determinada cor e crista. Ao mesmo tempo tentou exterminar os Judeus, e outras determinadas castas, como homossexuais, e outros cidadãos que considerava nefastos para o seu projeto de purificação.
Tudo isto, é na realidade a lógica que Nietzshe nos tenta colocar como caminho, para entender a boa e má moralidade.
E dirão vocês, mas isso era uma questão de moralização, feita á sua imagem, á imagem do Adolfo.
Na realidade isto sim era aos olhos de qualquer um, uma imoral serie de atitudes, que como bem podem ver, nada tinham de cultural, ou de costume.
No entanto, veja-se, seguindo o raciocínio de Nietzsche, Hitler tentou á sua maneira criar costumes, que a maioria não autorizou que se tornassem como moralmente normais, e tiveram o fim de todos nós conhecido.
Agora imagine que; a IIª Guerra Mundial, não tivesse terminado com a vitória das Forças Aliadas. Imagine que Adolfo Hitler tinha vencido a guerra e levado avante, esse seu projeto de criação de uma serie de costumes, entre os quais o de apuramento da raça, como se o humano fosse um cachorro.
Imagine só, que Nietzshe teria toda a razão do mundo, e alguém teria criado costumes, muito diferentes daqueles com que vivemos nos dias de hoje.
Ou seja: Hoje passados todos estes anos, por certo a humanidade seria compota simplesmente de Brancos Arianos.
Agora eu ainda lhe pergunto:
A história, esta escrita assim desta forma, porque foi assim que realmente acabou por acontecer, mas ao longo da humanidade, quantas e quantas vezes já se criaram costumes, afinal aqueles com que a humanidade vive, em cada canto, nos dias de hoje. Uns homens a viver com dezenas de mulheres, outros a sepultar os seus mortos no meio da sala de casa, outros a casar com uma única mulher, uns a comer carne de cão, ou de gato, e outros a comer lagosta ou carne de suíno, e tantos outros costumes que realmente são; moralistas aos olhos de uns e profundamente imorais aos olhos de outros, dependendo de quem observa cada costume.
Digo eu: cada Cultura...
Diria Nietzsche que depende do moralismo e dos costumes...
Mas não será rigorosamente a mesma coisa???

João Massapina