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quinta-feira, 29 de abril de 2010

A Taxa Camarae

É CASO PARA DIZER: A ÚNICA DIFERENÇA DAQUELES TEMPOS PARA OS DIAS DE HOJE É QUE AGORA HÁ MENOS BUROCRACIA E NENHUMA EXPLORAÇÃO DO "PECADOR".
OU SEJA, É TUDO À FARTA E DE BORLA!!!

Um dos pontos culminantes da corrupção humana - outros tempos...

A Taxa Camarae é um tarifário promulgado, em 1517, pelo papa Leão X (1513-1521) destinado a vender indulgências, ou seja, o perdão dos pecados, a todos quantos pudessem pagar umas boas libras ao pontífice. Como veremos na transcrição que se segue, não havia delito, por mais horrível que fosse, que não pudesse ser perdoado a troco de dinheiro. Leão X declarou aberto o céu para todos aqueles, fossem clérigos ou leigos, que tivessem violado crianças e adultos, assassinado uma ou várias pessoas, abortado... desde que se manifestassem generosos com os cofres papais.

Vejamos o seus trinta e cinco artigos:
1. O eclesiástico que cometa o pecado da carne, seja com freiras, seja com primas, sobrinhas ou afilhadas suas, seja, por fim, com outra mulher qualquer, será absolvido, mediante o pagamento de 67 libras, 12 soldos.
2. Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, quiser ser absolvido do pecado contra a natureza ou de bestialidade, deve pagar 219 libras, 15 soldos. Mas se tiver apenas cometido pecado contra a natureza com meninos ou com animais e não com mulheres, somente pagará 131 libras, 15 soldos.
3. O sacerdote que desflorar uma virgem, pagará 2 libras, 8 soldos.
4. A religiosa que quiser alcançar a dignidade de abadessa depois de se ter entregue a um ou mais homens simultânea ou sucessivamente, quer dentro, quer fora do seu convento, pagará 131 libras, 15 soldos.
5. Os sacerdotes que quiserem viver maritalmente com parentes, pagarão 76 libras e 1 soldo.
6. Para todos os pecados de luxúria cometido por um leigo, a absolvição custará 27 libras e 1 soldo; no caso de incesto, acrescentar-se-ão em consciência 4 libras.
7. A mulher adúltera que queira ser absolvida para estar livre de todo e qualquer processo e obter uma ampla dispensa para prosseguir as suas relações ilícitas, pagará ao Papa 87 libras e 3 soldos. Em idêntica situação, o marido pagará a mesma soma; se tiverem cometido incesto com os seus filhos acrescentarão em consciência 6 libras.
8. A absolvição e a certeza de não serem perseguidos por crimes de rapina, roubo ou incêndio, custará aos culpados 131 libras e 7 soldos.
9. A absolvição de um simples assassínio cometido na pessoa de um leigo é fixada em 15 libras, 4 soldos e 3 dinheiros.
10. Se o assassino tiver morto a dois ou mais homens no mesmo dia, pagará como se tivesse apenas assassinado um.
11. O marido que tiver dado maus tratos à sua mulher, pagará aos cofres da chancelaria 3 libras e 4 soldos; se a tiver morto, pagará 17 libras, 15 soldos; se o tiver feito com a intenção de casar com outra, pagará um suplemento de 32 libras e 9 soldos. Se o marido tiver tido ajuda para cometer o crime, cada um dos seus ajudantes será absolvido mediante o pagamento de 2 libras.
12. Quem afogar o seu próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos [ou seja, mais duas libras do que por matar um desconhecido (observação do autor do livro)]; caso matem o próprio filho, por mútuo consentimento, o pai e a mãe pagarão 27 libras e 1 soldo pela absolvição.
13. A mulher que destruir o filho que traz nas entranhas, assim como o pai que tiver contribuído para a perpetração do crime, pagarão cada um 17 libras e 15 soldos. Quem facilitar o aborto de uma criatura que não seja seu filho pagará menos 1 libra.
14. Pelo assassinato de um irmão, de uma irmã, de uma mãe ou de um pai, pagar-se-á 17 libras e 5 soldos.
15. Quem matar um bispo ou um prelado de hierarquia superior terá de pagar 131 libras, 14 soldos e 6 dinheiros.
16. O assassino que tiver morto mais de um sacerdote, sem ser de uma só vez, pagará 137 libras e 6 soldos pelo primeiro, e metade pelos restantes.

17. O bispo ou abade que cometa homicídio põe emboscada, por acidente ou por necessidade, terá de pagar, para obter a absolvição, 179 libras e 14 soldos.
18. Quem quiser comprar antecipadamente a absolvição, por todo e qualquer homicídio acidental que venha a cometer no futuro, terá de pagar 168 libras, 15 soldos.
19. O herege que se converta pagará pela sua absolvição 269 libras. O filho de um herege queimado, enforcado ou de qualquer outro modo justiçado, só poderá reabilitar-se mediante o pagamento de 218 libras, 16 soldos, 9 dinheiros.
20. O eclesiástico que, não podendo saldar as suas dívidas, não quiser ver-se processado pelos seus credores, entregará ao pontífice 17 libras, 8 soldos e 6 dinheiros, e a dívida ser-lhe-á perdoada.
21. A licença para instalar pontos de venda de vários gêneros, sob o pórtico das igrejas, será concedida mediante o pagamento de 45 libras, 19 soldos e 3 dinheiros.
22. O delito de contrabando e as fraudes relativas aos direitos do príncipe contarão 87 libras e 3 dinheiros.
23. A cidade que quiser obter para os seus habitantes ou para os seus sacerdotes, frades ou monjas autorização de comer carne e lacticínios nas épocas em que está vedado fazê-lo, pagará 781 libras e 10 soldos.
24. O convento que quiser mudar de regra e viver com menos abstinência do que a que estava prescrita, pagará 146 libras e 5 soldos.
25. O frade que para sua maior conveniência, ou gosto, quiser passar a vida numa ermida com uma mulher, entregará ao tesouro pontifício 45 libras e 19 soldos.
26. O apóstata vagabundo que quiser viver sem travas pagará o mesmo montante pela absolvição.
27. O mesmo montante terá de pagar o religioso, regular ou secular, que pretenda viajar vestido de leigo.
28. O filho bastardo de um prior que queira herdar a cura de seu pai, terá de pagar 27 libras e 1 soldo.
29. O bastardo que pretenda receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagará 15 libras, 18 soldos e 6 dinheiros.
30. O filho de pais incógnitos que pretenda entrar nas ordens pagará ao tesouro pontifício 27 libras e 1 soldo.
31. Os leigos com defeitos físicos ou disformes, que pretendam receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagarão à chancelaria apostólica
58 libras e 2 soldos.
32. Igual soma pagará o cego da vista direita, mas o cego da vista esquerda pagará ao Papa 10 libras e 7 soldos. Os vesgos pagarão 45 libras e 3 soldos.
33. Os eunucos que quiserem entrar nas ordens, pagarão a quantia de 310 libras e 15 soldos.
34. Quem por simonia quiser adquirir um ou mais benefícios deve dirigir-se aos tesoureiros do Papa que lhos venderão por um preço moderado.
35. Quem por ter quebrado um juramento quiser evitar qualquer perseguição e ver-se livre de qualquer marca de infâmia, pagará ao Papa 131 libras e15 soldos. Pagará ainda por cada um dos seus fiadores a quantia de 3 libras.

No entanto, para a historiografia católica, o Papa Leão X, autor de um exemplo de corrupção tão grande como o que acabamos de ler, passa por ser o protagonista da «história do pontificado mais brilhante e talvez o mais perigoso da história da Igreja».
(Fonte: Rodríguez, Pepe (1997). Mentiras fundamentais da Igreja católica. Terramar - Editores, Distribuidores e Livreiros -
(1.ª edição portuguesa, Terramar, Outubro de 2001 - Anexo, pp. 345-348)
NOTA: Esta é a primeira vez que a Taxa Camarae do papa Leão X aparece na NET em português.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Relação direta

Agência FAPESP – Uma nova pesquisa, que investigou o crescente problema da poluição por nitrogênio, indica que as taxas globais de nitrogênio e de carbono no meio ambiente estão intimamente ligadas.
Segundo os autores, o estudo pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias para ajudar a mitigar problemas regionais que vão de corpos d’água contaminados a impactos na saúde humana. O trabalho foi publicado na edição da revista Nature.
A pesquisa observou que nitratos – uma forma do nitrogênio – no ambiente exibem uma relação consistente, não linear e inversa com o carbono orgânico. O acúmulo de nitratos em rios, lagos e oceanos é uma consequência do uso de fertilizantes artificiais e tem causado problemas ambientais.
Philip Taylor e Alan Townsend, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, verificaram que a proporção entre nitratos e carbono é resultado de processos microbianos que ocorrem em praticamente todos os ecossistemas.
Os pesquisadores analisaram dados de regiões tropicais, temperadas e polares, além de áreas conhecidas pela poluição por nitrogênio, como o golfo do México, o mar Báltico e a baía de Chesapeake (Estados Unidos).
“Desenvolvemos um novo modelo para explicar como e por que o carbono e o nitrogênio estão tão intimamente relacionados. Os resultados ajudam a explicar por que a presença de nitratos é tão elevada em alguns corpos d’água e reduzida em outros”, disse Taylor.
Apesar de o gás nitrogênio ser abundante na atmosfera, trata-se de uma forma não reativa e indisponível para a maior parte da vida no planeta. Mas, no início do século 20, entrou em cena um processo para transformar o nitrogênio em amônia, o principal ingrediente dos fertilizantes sintéticos usados na agricultura.
Atualmente são produzidos mais de 180 milhões de toneladas de fertilizantes por ano no mundo, sendo que a maior parte migra das plantações para a atmosfera, rios e oceanos.
O resultado é um conjunto de problemas ambientais que incluem o aumento de algas tóxicas, a “morte” de águas costeiras e sérios impactos na saúde humana – a presença de concentrações elevadas de nitratos na água consumida por humanos aumenta os riscos de desenvolver doenças como câncer, diabetes e Alzheimer.
“Em resumo, em locais em que a presença de carbono orgânico tem níveis suficientes, os nitratos são mantidos em níveis baixos. Ao usarmos dados disponíveis, poderemos fazer avaliações de quando e onde a poluição por nitratos pode se manifestar”, disse Townsend.
O artigo Stoichiometric control of organic carbon-nitrate relationships from soils to the sea (vol 464 | 22/4/2010 | doi:10.1038/nature08985), de Philip G. Taylor e Alan R. Townsend, pode ser lido na Nature em www.nature.com.

Esperteza vegetal

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Plantas como o mulungu (Erythrina velutina) – árvore nativa da Mata Atlântica – produzem sementes duras e coloridas muito utilizadas na fabricação de colares e pulseiras. Além de garantir o sucesso nas feiras de artesanato, as características das chamadas sementes miméticas fazem parte de uma complexa estratégia evolutiva de dispersão de sua espécie.
Um estudo realizado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP) demonstrou que o fenômeno de dormência tem um papel importante para o sucesso dessas estratégias de dispersão das sementes miméticas. O trabalho foi publicado na edição online e em breve aparecerá na versão impressa da revista Annals of Botany, uma das mais importantes da área.
O primeiro autor do estudo, Pedro Brancalion, concluiu em dezembro de 2009 seu doutorado na Esalq, com bolsa da FAPESP, sob orientação do professor Ricardo Ribeiro Rodrigues, do Departamento de Ciências Biológicas – coautor do trabalho e ex-coordenador do Programa Biota, da FAPESP. Os outros autores são Ana Novembre e Júlio Marcos Filho – ambos professores do Departamento de Produção Vegetal da Esalq.
De acordo com Brancalion, diversas espécies de plantas utilizam a estratégia de atrair animais para auxiliar na dispersão de suas sementes. Em geral, essas plantas possuem frutos carnosos, nutritivos e coloridos que estimulam o animal a comê-los. As sementes não são digeridas e acabam excretadas longe da planta mãe.
O grupo de plantas com sementes miméticas, no entanto, vale-se de uma espécie de “estelionato biológico”: elas produzem sementes coloridas que ludibriam o animal, atraindo-o sem, no entanto, oferecer nada de nutritivo.
“Essas plantas produzem apenas a semente, cuja dispersão é o que realmente lhes interessa e, com as cores, mimetizam a aparência do fruto. Elas aproveitam o serviço de dispersão oferecido pelo animal, mas não pagam por ele. E com isso economizam muito, pois a produção de frutos verdadeiros – sintetizando grande quantidade de lipídios, proteínas e açúcar – tem um preço muito elevado em termos de energia”, disse Brancalion à Agência FAPESP.
O “golpe” aplicado pelas plantas de sementes miméticas, no entanto, não é perfeito. Normalmente as aves – principais agentes de dispersão – percebem o engodo e, aos poucos, deixam de consumir as sementes miméticas.
“De forma geral, quem consome essas sementes são as aves jovens, que ainda não têm uma dieta muito especializada. Conforme ganham experiência de vida, percebem que não vale a pena comer aquelas sementes. Por conta disso, essas espécies de plantas têm taxa de remoção de sementes muito baixa”, explicou Brancalion, que atualmente é pesquisador do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Esalq.
A solução para aumentar a chance de ser consumida por aves “inexperientes” é deixar as sementes miméticas expostas durante longo tempo. Essa é justamente uma das características marcantes de tais espécies. Segundo o pesquisador, há relatos de sementes que ficam presas às árvores por até três anos. O longo tempo compensa a baixa taxa de remoção.
“No entanto, com essa estratégia surge outro problema: a semente precisa se manter viva, na árvore, por um tempo longo demais. Sabemos que a maior parte dessas plantas vive em climas tropicais – em ambientes muito quentes e úmidos, onde as condições de deterioração são muito fortes”, disse o pesquisador.
Dois pontos intrigavam os cientistas, motivando a pesquisa: como essas sementes miméticas evitam a deterioração por fungos em tais condições de calor e umidade e como evitam a predação ficando expostas por tanto tempo à ação de larvas, insetos e roedores, por exemplo.
“Essas sementes têm altas concentrações de alcaloides, que as torna muito tóxicas, podendo até matar um ser humano. Com isso elas evitam uma eventual predação. Mas não se tinha conhecimento, até agora, de como essas espécies combatiam a deterioração fisiológica, provocada pelas condições do ambiente. Esse foi o foco do meu trabalho”, explicou Brancalion.

Dormência e exaptação
A principal hipótese levantada pelos pesquisadores da Esalq era que as sementes se protegem da deterioração fisiológica por meio da dormência física – um fenômeno bastante comum entre espécies arbóreas, caracterizado pelo atraso da germinação provocado pela dureza do tegumento da semente, que impede a absorção de água.
“O artigo veio preencher uma lacuna no conhecimento sobre a estratégia evolutiva dessas espécies. Investiguei se a dormência de sementes atua para essas espécies como uma vantagem adaptativa para que consigam de fato superar, vivas, todo esse período sem dispersão”, afirmou.
Os pesquisadores investigaram se a dormência era uma adaptação – quando uma determinada característica é criada por meio da seleção natural para um fim específico – ou uma exaptação, isto é, uma característica que surgiu a partir de uma adaptação determinada para uma finalidade, mas que acaba servindo também para outros fins.
“A dormência de sementes ocorre em varias espécies e seria muita pretensão dizer que as sementes miméticas criaram essa característica para superar a deterioração fisiológica. Se a característica já existia nesse gênero de plantas, deve ter surgido para outra finalidade, mas, nessas espécies, adquiriu essa função”, explicou.
Os pesquisadores submeteram, então, sementes miméticas com dormência e sem dormência, de cinco espécies, a condições de envelhecimento acelerado – um método padrão de testes com sementes. “Colocamos as sementes em atmosfera úmida a uma temperatura de 41 graus Celsius por seis dias, simulando uma situação altamente favorável à deterioração. Assim, testamos se a dormência de fato protegia da deterioração”, disse.
As sementes que se mantiveram íntegras, sem superar a dormência, germinaram normalmente depois do tratamento. Já as sementes desprovidas de dormência foram deterioradas, segundo Brancalion.
“Em seguida testamos a hipótese de que a dormência é uma exaptação. Para isso, utilizamos o gênero Erythrina , que tem espécies com sementes miméticas e outras com sementes marrons. Fizemos os mesmos tratamentos e vimos que, mesmo com a semente marrom, a dormência também ajudava a proteger da deterioração”, disse.
Comparando a filogenia das duas espécies, os pesquisadores verificaram que a espécie de semente marrom era mais basal – isto é, mais antiga em termos evolutivos. “Em certo ponto da evolução deve ter ocorrido uma mutação pontual que gerou as sementes coloridas. Isso deve ter trazido uma vantagem seletiva, aumentando a taxa de dispersão dessas espécies”, disse.
O artigo Dormancy as exaptation to protect mimetic seeds against deterioration before dispersal (doi:10.1093/aob/mcq068), de Pedro Brancalion e outros, pode ser lido na Annals of Botany em http://aob.oxfordjournals.org/cgi/content/abstract/mcq068.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Voz destoante

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – No primeiro semestre de 1850, a revista Guanabara publicou três capítulos de Meditação, uma obra inacabada de Gonçalves Dias (1823-1864). O texto, escrito em prosa poética, é hoje praticamente desconhecido, apesar da notável importância histórica: pela primeira vez um escritor do romantismo criticava de forma implacável a sociedade, o Estado e, em especial, o sistema escravista.
Um estudo feito por Wilton José Marques, professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), abriu a discussão sobre esse texto pioneiro do poeta maranhense.
Os resultados da pesquisa – um pós-doutorado realizado com bolsa da FAPESP entre 2002 e 2003 no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – formaram a base para o livro Gonçalves Dias: o poeta na contramão, que acaba de ser publicado com apoio da Fundação na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.
De acordo com Marques, o que mais chama a atenção em Meditação, é o fato de escancarar as mazelas sociais do país de forma inédita entre os escritores canônicos românticos naquela época. O eixo central do livro nasceu a partir do texto As ideias fora do lugar, de Roberto Schwartz. Uma das teses do crítico, segundo Marques, sustenta que em meados do século 19 os escritores viviam quase exclusivamente dos favores do governo.
“Os intelectuais brasileiros viviam uma relação de dependência com o Estado. Essa política do favor explica por que a literatura nacional só passou a abordar criticamente o tema da escravidão quando o abolicionismo já dominava o debate nacional”, disse Marques à Agência FAPESP.
Segundo ele, quando Gonçalves Dias publicou Meditação, a literatura romântica praticamente não tinha referências explícitas à escravidão e a violência do sistema não transparecia em nenhuma obra. Os primeiros textos abolicionistas de Castro Alves (1847-1871), por exemplo, só entraram em cena a partir de 1863, quando a discussão já tomava as ruas.
“O texto de Gonçalves Dias é uma crítica ferrenha à escravidão e é incrível que seja tão pouco conhecido. Praticamente não há referências à sua existência. O meu livro procura preencher essa lacuna, discutindo a posição do intelectual em relação ao Estado e a forma como ele se insere na máquina estatal por meio de uma relação de favores”, disse Marques.
Apesar da virulência do texto, Gonçalves Dias não estava isento da “política do favor”. Em 1846, quando começou sua carreira literária e mudou-se para o Rio de Janeiro, o poeta tornou-se funcionário público, trabalhando como professor no Colégio Pedro 2º.
Com a economia baseada na escravidão, o trabalho livre praticamente não existia. O intelectual, assim, não tinha alternativa além de trabalhar e ser remunerado pelo Estado. Os escritores eram obrigados a se resignar a uma espécie de “cumplicidade cabisbaixa”.
“Em um país que tinha 70% da população analfabeta e os livros eram exclusividade de uma pequena elite, era natural que os escritores atuassem como funcionários públicos. Mas, apesar de se sujeitar a isso, Gonçalves Dias fez uma literatura que questionava o estado das coisas. A primeira expressão dessa contestação está em Meditação”, disse Marques.
Dedo na ferida
Gonçalves Dias estava consciente da própria situação de cooptado e acreditava que a dependência em relação ao Estado era danosa para a produção artística. Em uma carta da década de 1860, o poeta ressaltou que, “enquanto o literato precisar de empregos públicos, não poderá haver literatura digna de tal nome”.
Em sua análise, Marques discute como Gonçalves Dias estava na contramão das expectativas românticas, de valorização da natureza e do índio como “brasileiro autêntico”.
“Além de criticar a escravidão e fugir da corrente comum dos escritores canônicos do romantismo, ele, naquele texto, também criticou de forma virulenta a elite brasileira. Atacou a classe política – que acusou de se aproveitar do bem público para interesses particulares – e criticou a exclusão social”, apontou.
O poeta desferiu golpes não só contra as esferas do poder, mas principalmente contra as esferas do saber. “Em determinado momento ele defendeu que é preciso dar educação ao povo. A estrutura política do Império era excludente em vários aspectos, mas especialmente em relação à educação. Gonçalves Dias colocou o dedo nessa ferida sem rodeios”, afirmou.
Em seu livro, Marques levanta a hipótese de que uma parte particularmente contundente do terceiro capítulo de Meditação pode ter sido censurada. O trecho não foi publicado na versão de 1850 da revista Guanabara, mas reapareceu em uma publicação de 1868. < p> “Esse trecho retrata uma conversa noturna dentro de um palácio – que remete ao Palácio São Cristóvão – na qual políticos discutem o que fazer com o Brasil. Um deles questiona o que o Imperador pensará de tal debate. Um dos políticos levanta o véu da cama e diz: ‘o Imperador dorme’. O trecho remete ao período da regência, quando o Imperador era jovem demais para exercer o poder”, disse.
Em sua crítica à escravidão, Gonçalves Dias lançou mão principalmente de argumentos econômicos, segundo o professor da UFSCar. A entrada do Brasil na modernidade, para o poeta, só se daria por meio da implantação do trabalho assalariado.
“Gonçalves Dias não fez uma leitura humanista, como a de Castro Alves. Ele acreditava na superioridade racial dos brancos. Mas, em sua visão, a escravidão era um atraso por impedir a adoção de um modelo capitalista”, disse.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Há ainda direita e esquerda?

Diante de alguns argumentos que ainda subsistem sobre o suposto fim da divisão entre direita e esquerda, aqui vão algumas diferenças. Acrescentem outras, se acharem que a diferença ainda faz sentido.
Direita: A desigualdade sempre existiu e sempre existirá. Ela é produto da maior capacidade e disposição de uns e da menor capacidade e menor disposição de outros. Como se diz nos EUA, “não há pobres, há fracassados”.
Esquerda: A desigualdade é um produto social de economias – como a de mercado – em que as condições de competição são absolutamente desiguais.
Direita: É preferível a injustiça, do que a desordem.
Esquerda: A luta contra as injustiças é a luta mais importante, nem que seja preciso construir uma ordem diferente da atual.
Direita: É melhor ser aliado secundário dos ricos do mundo, do que ser aliado dos pobres.
Esquerda: Temos um destino comum com os países do Sul do mundo, vitimas do colonialismo e do imperialismo, temos que lutar com eles por uma ordem mundial distinta.
Direita: O Brasil não deve ser mais do que sempre foi.
Esquerda: O Brasil pode ser um país com presença no Sul do mundo e um agente de paz em conflitos mundiais em outras regiões do mundo.
Direita: O Estado deve ser mínimo. Os bancos públicos devem ser privatizados, assim como as outras empresas estatais.
Esquerda: O Estado tem responsabilidades essenciais, na indução do crescimento econômico, nas políticas de direitos sociais, em investimentos estratégicos como infra-estrutura, estradas, habitação, saneamento básico, entre outros. Os bancos públicos têm um papel essencial nesses projetos.
Direita: O crescimento econômico é incompatível com controle da inflação. A economia não pode crescer mais do que 3% a ano, para não se correr o risco de inflação.
Direita: Os gastos com pobres não têm retorno, são inúteis socialmente, ineficientes economicamente.
Esquerda: Os gastos com políticos sociais dirigidas aos mais pobres afirmam direitos essenciais de cidadania para todos.
Direita: O Bolsa Família e outras políticas desse tipo são “assistencialismo”, que acostumam as pessoas a depender do Estado, a não ser auto suficientes.
Esquerda: O Bolsa Família e outras políticas desse tipo são essenciais, para construir uma sociedade de integração de todos aos direitos essenciais.
Direita: A reforma tributária deve ser feita para desonerar aos setores empresariais e facilitar a produção e a exportação.
Esquerda: A reforma tributária deve obedecer o principio segundo o qual “quem tem mais, paga mais”, para redistribuir renda, com o Estado atuando mediante políticas sociais para diminuir as desigualdades produzidas pelo mercado.
Direita: Quanto menos impostos as pessoas pagarem, melhor. O Estado expropria recursos dos indivíduos e das empresas, que estariam melhor nas mãos destes. O Estado sustenta a burocratas ineficientes com esses recursos.
Esquerda: A tributação serva para afirmar direitos fundamentais das pessoas – como educação e saúde publica, habitação popular, saneamento básico, infra-estrutura, direitos culturais, transporte publico, estradas, etc. A grande maioria dos servidores públicos são professores, pessoal médico e outros, que atendem diretamente às pessoas que necessitam dos serviços públicos.
Direita: A liberdade de imprensa é essencial, ela consiste no direito dos órgãos de imprensa de publicar informações e opiniões, conforme seu livre arbítrio. Qualquer controle viola uma liberdade essencial da democracia.
Esquerda: A imprensa deve servir para formar democraticamente a opinao pública, em que todos tenham direitos iguais de expressar seus pontos de vista. Uma imprensa fundada em empresas privadas, financiadas pela publicidade das grandes empresas privadas, atende aos interesses delas, ainda mais se são empresas baseadas na propriedade de algumas famílias.
Direita: A Lei Pelé trouxe profissionalismo ao futebol e libertou os jogadores do poder dos clubes.
Esquerda: A Lei Pelé mercantilizou definitivamente o futebol, que agora está nas mãos dos grandes empresários privados, enquanto os clubes, que podem formar jogadores, que tem suas diretorias eleitas pelos sócios, estão quebrados financeiramente. A Lei Pelé representa o neoliberalismo no esporte.
Direita: O capitalismo é o sistema mais avançado que a humanidade construiu, todos os outros são retrocessos, estamos destinados a viver no capitalismo.
Esquerda: O capitalismo, como todo tipo de sociedade, é um sistema histórico, que teve começo e pode ter fim, como todos os outros. Está baseado na apropriação do trabalho alheio, promove o enriquecimento de uns às custas dos outros, tende à concentração de riqueza por um lado, à exclusão social por outro, e deve ser substituído por um tipo de sociedade que atenda às necessidades de todos.
Direita: Os blogs são irresponsáveis, a internet deve ser controlada, para garantir o monopólio da empresas de mídia já existentes. As chamadas rádios comunitárias são rádios piratas, que ferem as leis vigentes.
Esquerda: A democracia requer que se incentivo aos mais diferentes tipos de espaço de expressão da diversidade cultural e de opinião de todos, rompendo com os monopólios privados, que impedem a democratização da sociedade.

Emir Sader é jornalista.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A TIMIDEZ – APRENDA A VENCER…

“Classificado como um tipo de fobia, o problema pode se transformar numa doença quando atinge um grau avançado de evolução”

Medo de falar em público e inibição de se aproximar das pessoas são alguns dos principais sintomas de uma das coisas que mais atrapalham a vida social, profissional e até pessoal de um homem, que é a timidez. Classificada como um tipo de fobia social, em um grau brando a timidez tinge praticamente todos os seres humanos, de acordo com as circunstancias do dia a dia. Esta constatação é comprovada cientificamente.
Segundo o psicólogo Elinaldo Quirino, quando atinge um estágio avançado, a fobia social em questão se transforma em doença extremamente prejudicial aos cidadãos. Conforme o especialista, uma das principais causas da timidez é o sentimento de inadequação, que faz com que as pessoas no se achem interessantes o suficiente para serem aceites pelos grupos sociais. “O medo de ser rejeitado é muito forte nesses indivíduos. Eles preferem se afastar do cenário social para não passar pela possibilidade de serem rejeitados”, afirmou Quirino.
Coordenador do Centro Psicológico do Controle de Estresse na Paraíba, Brasil, Elinaldo Quirino explicou que geralmente a timidez ainda está relacionada a problemas de auto-estima. Ele ressaltou que pessoas que se auto-avaliam negativamente têm medo de se expor socialmente, sendo presas fáceis para a fobia social em foco. Enfatizou, no entanto, que o estado de timidez é um comportamento normal de auto-defesa e de preservação.
Elinaldo Quiroga observou que uma preocupação que o tímido deve ter é quando ele chega ao ponto em que deixa de ser um individuo funcional e, consequentemente, de interagir nos meios sociais.
Nesse momento a timidez no ser humano passa a ser um problema de ordem psicológica e que precisa ser tratada à base de terapias. “Quando há prejuízos em qualquer área da vida da pessoa, então é necessário o tratamento”, salientou o psicólogo.

MEDO DE FALAR EM PÚBLICO

O medo de falar em público, característico dos indivíduos tímidos, é o segundo maior tipo de medo que afeta as pessoas, segundo o psicólogo.o primeiro, conforme ele, é o medo da morte. De acordo com o psicólogo, a pessoa falando em público se expõe mais do que em qualquer outra situação. “Se expõe aos olhares e opiniões de idéias de aspetos físicos, intelectual e social, e inda tem a possibilidade de ser alvo de indagações dos ouvintes”, destacou.

TIMIDOS LEVAM DESVANTAGEM

O colunista social Bernardo Virginio considera-se uma pessoa tímida ao extremo. “Sou enlouquecidamente tímido”, confessou. Ele lembrou que, antes, pensava que o acanhamento fosse por questão de insegurança. “Hoje vejo que no me considero uma pessoa insegura. Agora, não sei de onde se desencadeou esse problema, que é uma coisa que independe à minha vontade”, afirmou.
Fábio Bernardo Virginio revelou que; se tiver de ir a um restaurante, uma festa, ou a outro qualquer evento, onde se concentre muita gente, procura chegar cedo ao ambiente para evitar ser alvo de olhares”. Segundo ele, se chegar ao local sem ser cedo corre o risco de não cumprimentar ninguém.
De acordo com o colunista, até mesmo quando conhece uma pessoa nova a reação de timidez se apresenta. Fábio Bernardo Virginio relata que fica sem saber como falar ou como se apresentar ao novo conhecido. Por conta desse jeito de ser, Bernardo salientou que já foi prejudicado algumas vezes na sua vida. “Quem é tímido leva desvantagem em cima dos ‘cascateiros’, que são pessoas que têm um poder de persuasão maior”, comentou.

ENCARANDO OS DESAFIOS

Fábio Bernardo Virginio tem consciência de que é preciso lutar contra a timidez. “É necessário se trabalhar isso para vencer, sobretudo diante de adversários”, enfatizou, acrescentando que, dentro das suas possibilidades e limitações, vem procurando trabalhar de forma pessoal para vencer a timidez.

DICAS:

1 - Participar de eventos sociais, mesmo que passivamente, a exemplo de ir a uma festa e ficar na sua como observador.

2 – Aproximar-se de pessoas procurando escutar mais do que falar, observando o comportamento delas, para verificar que quase todas são tímidas.

3 – Aceitar a timidez como uma coisa natural e não como um problema, lembrando que no mundo tem lugar para os tímidos.

4 – Mesmo sendo tímido, procurar interagir com as pessoas. Comece melhorando o seu relacionamento inter-pessoal com as pessoas mais acessíveis, ampliando para as menos acessíveis.

5 – Caso se sinta prejudicado,é importante procurar um profissional para trabalhar a timidez e buscar, através de técnicas específicas, vencer a timidez.

6 – Freqüentar cinemas, teatros, grupos de dança de salão, participar de atividades filantrópicas,praticar desporto, entre outras ações, para desinibir.

‘Edivaldo Lobo’

A SINDROME DO “QUANDO”

A maioria das pessoas diz assim:
“Quando eu me sentir bem comigo mesma eu vou fzer isso, vou fazer aquilo, etc”.
O caminho não é esse. Comece logo a fazer que o sentimento aparece.a o começar a fazer, as coisas começam a mudar dentro e fora de você.
Intenção sem ação só tem um nome: ilusão. Ouse fazer e o poder lhe será dado.
Vivemos num mundo de ilusões. Pensamos que os órgãos dos sentidos nos mostram a realidade, mas, na verdade, eles nos enganam.
Quanta ilusão!!!

ILUSÃO DOS SENTIDOS

- Pensamos que a Terra está parada quando, na verdade, ela gira a uma velocidade incrível.

- Temos a sensação de que a Terra é chata, quando, na verdade, ela é redonda.

- O sol parece girar em torno da Terra, quando o que acontece é o contrário.

Se nos iludimos com coisas em proporções gigantescas, como a Terra e o Sol, imagine com as sutilezas do cotidiano! Muitas vezes, pensamos que as coisas são como as vemos, mas isso acontece porque uma mesma realidade pode ser vista de diferentes modos, dependendo do que cada um traz dentro de si.

ILUSÃO DO PENSAMENTO

Esse tipo de ilusão nos leva a pensar que as coisas são como são e que nada as pode modificar. Devagar. Não tenha tanta certeza disso. Pessoas e coisas se modificam, inclusive você. Hoje, você certamente é uma pessoa bem diferente do que era há cinco ou dez anos e, em conseqüência, mudaram os seus pontos de vista.
Se, se mantiver pensando dessa forma, o principal prejudicado será você.

JULGAMENTO

É correto dizer “uma vez balconista, sempre balconista”, à jovem empresária que acabou de abrir a sua própria loja de perfumes? As pessoas mudam. Elas vão incorporando novos atributos ao longo da vida. A dona da loja, que já foi balconista, deve ter sido, antes, estudante, telefonista, estagiária, e muitas outras coisas.
Você, provavelmente, foi estudante, praticou algum tipo de desporto, teve mais do que um hobby, seguiu mais de uma carreira profissional... Enfim, você já fez algumas coisas diferentes na vida. Você acha correto que as pessoas julguem que você é apenas uma das coisas que já fez? Claro que não!
Esta leitura é mais uma das incorporações positivas n sua vida. Então, cuidado, porque o que sempre é não é tudo o que é.

‘Lair Ribeiro’

A MALDIÇÃO DE MIDAS

A lembrança é vaga, quase esvanecida, quem sabe apenas resgatada de alguma página da Crestomatia. Vem-me à memória a história do rei Midas que, após acumular riquezas tantas com o toque dos dedos a transformar tudo em ouro e, não sabendo mais onde entesourar os seus haveres, acaba morrendo de fome por falta do que comer.
A chamada pós-modernidade prece ter aprendido com o lendário rei essa desventurada arte de transformar em riqueza tudo quanto se move à sua volta.
O resultado aí está. A fome bate à nossa porta.
Nada nos falta. O sonho dura pouco porque a ficção está sempre a um passo da realidade. E tudo ameaça se transformar em ouro.
Além disso, a mulher desassistida de beleza ainda consegue encontrar a fonte da juventude na farmácia ao lado. No mesmo estabelecimento, o homem recupera a virilidade encapsulada em drágeas miraculosas.
Tudo se movimenta em direção ao prazer, deixando uma trilha de sangue e de fome pelos caminhos da história.
Os carros voam. As distâncias já não se contam mais em velocidades terrestres.
Os oráculos da pós-modernidade a tudo respondem sem medo de errar e atendem pelo nome de Google de Yahoo ou de Microsoft.
São os deuses da polis tecnológica.
Mas essas divindades não sabem nos dar de comer.
A escassez de alimentos no mundo sempre foi um fenômeno previsível, desde os tempos de Malthus. Há regiões inóspitas no planeta dispondo de menos de 10% de seu território de condições agricultáveis. Outras sujeitas a situações climáticas tão hostis que a produção de alimentos vira luxo.
No Brasil, a falta de comida é insulto dobrado. Terra não falta. O clima é dádiva da natureza. E, no entanto, ainda se morre de fome na terra de Canaã.
Sobre essa paisagem de tragédia graciliana, um silêncio ainda mais agressivo estende a sua mortalha.
Os governantes fazem pose de Midas, tocando as rochas de onde brota o ouro negro, abraçando os canaviais de onde poreja a seiva milionária que se transforma em ouro inflamável.
E nenhum deles ensina a plantar.
Todos querem colher o ouro da terra.
Um dia, a humanidade terá fome e só encontrará lingotes de ouro para comer. Um dia, a humanidade sentirá sede e só lhe darão petróleo para beber.

‘Luiz Augusto Crispim’

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Homo ou não???

Agência FAPESP – Uma nova espécie de hominídeo foi descrita por um grupo internacional de pesquisadores em dois artigos que ganharam a capa da edição desta sexta-feira (9/4) da revista Science.

Liderados por Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, a espécie, denominada Australopithecus sediba, foi classificada a partir de fósseis descobertos no sítio arqueológico Berço da Humanidade, a 40 quilômetros de Johannesburgo.

Os fósseis têm quase 2 milhões de anos e prometem provocar grande polêmica entre os cientistas. Para alguns, trata-se apenas de mais um australopiteco. Mas, para outros, o A. sediba seria forte candidato a ancestral imediato do gênero Homo.

“Sediba, que significa fonte natural em soto, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul, é um nome apropriado para uma espécie que pode ser o ponto a partir do qual o gênero Homo surgiu. Acredito ser essa uma boa candidata para a espécie de transição entre o Australopithecus africanus e o Homo habilis ou até mesmo o Homo erectus”, disse Berger.

Os fósseis, de um macho jovem e de uma fêmea adulta, foram depositados em uma mesma faixa sedimentar e, segundo os cientistas, em momentos (morte) próximos.

O formato avançado da pelve e dentes pequenos são algumas das características que tornam o A. sediba forte candidato a ancestral direto do gênero Homo. Segundo Berger, a nova espécie compartilha mais características com os primeiros Homo do que qualquer outra espécie de australopiteco descoberta até o momento.

A espécie tinha postura ereta e teria sido capaz de correr como um humano, de acordo com a análise feita. Tinha também braços longos, característicos dos australopitecos.

“Estimamos que eles tinham cerca de 1,27 metro, embora a criança certamente teria crescido mais. A fêmea pesava em torno de 33 quilos, e o macho, 27 quilos. Os cérebros são pequenos, quando comparados com o cérebro humano, mas seu formato aparenta ser mais avançado do que os dos australopitecinos”, disse Berger.

Os esqueletos parciais foram preservados grudados em um sedimento duro como concreto e exigiram quase dois anos de trabalho para serem extraídos e examinados. Análises e datações comparativas foram feitas em laboratórios na Suíça e na Austrália.

Os registros foram encontrados em uma caverna junto com fósseis de pelo menos 25 espécies de animais, entre as quais um tigre dente-de-sabre, hienas, cães selvagens, antílopes e um cavalo. Pela quantidade de animais, os cientistas sugerem que o local poderia ter funcionado como uma armadilha natural para aqueles que procuravam água.

Uma curiosidade é que o primeiro fóssil, um dos crânios, foi encontrado pelo filho de Berger, Matthew, então com 9 anos, que acompanhava o pai em uma expedição ao local.

Os artigos Australopithecus sediba: a new Species of Homo-like Australopith from South Africa (doi: 10.1126/science.1184944) e Geological setting and age of Australopithecus sediba from Southern Africa (doi: 10.1126/science.1184950), de Lee Berger e outros, podem ser lidos por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

DO ROMANCE

"Sob a perfeição de um romance, está subjacente uma sensação que me agrada de uma história em espiral. É uma dupla hélice: o desejo enrolado à volta da adoração. (...) É raro. E, naturalmente, condenado. Condenado à vulgaridade. A surpresa desaparece - como desaparece de um conto palavroso, por muito divertido que seja. Tal como o desejo. Mas no início, quando, inundados de prazer, ficamos espantados com o que acabámos de ver, o conto em espiral ainda está todo na nossa cabeça. Isso é romance."

Robert Dessaix, in Corfu, trad. Ana Teresa de Castro, ed. Gótica

quarta-feira, 7 de abril de 2010

HÁ MESMO CHUVA DE RÃS E SAPOS

Apesar de ser um fenômeno muito raro a “chuva” de rãs, sapos e outros pequenos animais como peixes e lagartixas; já foi registrada em vários lugares do mundo. Mas não comece a pensar em pragas bíblicas porque a queda do céu destes bichinhos desafortunados pode ser facilmente explicada cientificamente.
A causa na verdade é bem singela. As fortes correntes ascendentes de alta intensidade podem absorver ou empurrar para cima qualquer objeto ou animal que não tenha sido suficientemente precavido para procurar um refúgio. Por isto ninguém ouve falar em chuva de toupeiras ou coelhos, que procuram abrigo rapidamente em caso de tempestade.
Uma vez empurrados pra o núcleo da tempestade ou tornado as correntes ascendentes os mantêm dentro das nuvens, sendo fustigados por fortes correntes de ar até que a tempestade perca intensidade. Aí então, tudo o que tinha sido absorvido pela tempestade cede ante a gravidade e cai, criando uma verdadeira “chuva”.
Quando estudamos as correntes de ar que; se encontram dentro das tempestades vemos que não é estranho que isto aconteça, já que os ventos ascendentes podem chegar a 200 km/hora, capazes de lançar para o alto qualquer objeto que tenha sido absorvido. Este fenômeno, já matou vários praticantes de asa-delta que, por um excesso de confiança, voaram perto de mais de um tornado e acabaram sendo empurrados te ao “cume”, a mais de 11 mil metros de altura. A esta altura as temperaturas são tão baixas que qualquer ser vivo morre congelado. Alguns pilotos chegaram mesmo a tentar desprender-se da asa-delta para lançar-se em queda livre, mas os ventos eram tão intensos que eles foram empurrados para cima da mesma forma.

Como não fazer um artigo

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Os fundamentos da redação científica tiveram importantes transformações nos últimos anos, mas essas mudanças ainda não foram integralmente assimiladas por grande parte dos pesquisadores, que reproduzem – e muitas vezes ensinam – equívocos teóricos e conceituais que podem até mesmo retardar o avanço da ciência.
Essa é a opinião de Gilson Volpato, professor do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que em seu novo livro, Pérolas da redação científica, analisa criticamente 101 equívocos comuns – ou “pérolas”.
Volpato vem apresentando pelo país cursos sobre redação científica e publicou outros cinco livros sobre o assunto, sendo o mais recente desses Bases teóricas da redação científica ... por que seu artigo foi negado, lançado em 2007.
“Apresento quase um curso por semana sobre o tema, procurando ajudar pesquisadores a conseguir publicações em revistas internacionais de alto nível. Mas também há muitos que, de forma involuntária, têm feito o serviço contrário. Desenvolveu-se, no Brasil, uma cultura de publicação equivocada. Boa parte dos artigos nacionais, mesmo com tradução correta, será recusada em revistas importantes, por terem equívocos conceituais”, disse à Agência FAPESP.
Com a experiência acumulada nos cursos e em seu convívio com o meio acadêmico, Volpato decidiu produzir um inventário dos principais equívocos da redação cientifica. “A ideia foi abordar os erros mais gritantes. O resultado foi essa coleção de ‘pérolas’ da cultura nacional de publicação”, disse.
Na obra, o autor analisa os equívocos, faz conjecturas sobre suas origens, discute suas consequências na prática e oferece correções com base nos padrões internacionais de produção científica.
Segundo ele, os conceitos de comunicação no setor sofreram grande mudança a partir da década de 1990, que se acentuou ainda mais nos últimos dez anos, em parte por causa do advento da internet.
“Muitos pesquisadores cometem equívocos e alegam que estão apenas seguindo os procedimentos adotados por seus orientadores há 30 anos. Mas as coisas mudaram e a comunicação científica evoluiu. Os leitores vão se surpreender, pois muitas das pérolas descritas no livro irão corresponder exatamente ao que eles continuam ouvindo de seus orientadores”, afirmou.
A internet, segundo Volpato, subverteu a lógica das revistas científicas, causando impacto nas necessidades e objetivos dos artigos. “Antes o veículo era o foco. O assinante recebia uma determinada revista científica e ali entrava em contato com diversos artigos. Hoje ocorre o inverso. A pessoa faz uma busca por palavras-chave na internet e chega ao artigo diretamente. Eventualmente, o cientista fica conhecendo a revista por meio do artigo e não o contrário”, disse.
Se antes da internet o leitor precisava ir em busca dos autores, hoje os autores procuram chegar aos leitores. “Antigamente o leitor precisava ir heroicamente atrás dos poucos artigos disponíveis. Mas agora ele precisa fazer uma triagem dos milhares de artigos a que tem acesso. Com isso, a necessidade de se fazer uma comunicação eficiente é muito mais importante – e esse fato está mudando a estrutura dos artigos”, declarou.
Nessa nova lógica, os velhos hábitos de redação científica se transformam em “pérolas” recorrentes, segundo Volpato. Um dos equívocos, por exemplo, é acreditar que o número de referências bibliográficas implica qualidade científica. Outro, consiste em achar que todos os dados coletados no projeto devem fazer parte do texto.
“Vemos equívocos de todos os níveis. Um exemplo é achar que estudos quantitativos são mais robustos que os qualitativos. Outro é acreditar que a redação cientifica exige regras rígidas de estilo – ou que a voz passiva é característica do inglês científico. Achar que o título deve conter, necessariamente, o nome da espécie de estudo. Há também pérolas que são fruto do conservadorismo, como sustentar que introdução e justificativa são itens separados. Ou achar que revistas eletrônicas têm menos prestígio que as impressas”, destacou.

Textos em inglês
Para Volpato, a globalização das revistas científicas de alcance internacional está nivelando as publicações por cima. Essa consequência positiva, entretanto, deverá forçar também para cima o nível de exigência para aceitação dos artigos.
“A maioria das revistas brasileiras, mesmo as que estão na base ISI, é citada apenas por brasileiros. Poucas são, de fato, internacionais e temos que melhorar nosso nível. O primeiro passo, claro, é que a publicação seja em inglês. Temos que compreender que o fato de uma publicação ter alcance internacional tem uma consequência benéfica para a ciência: a seleção dos artigos é feita por pessoas de várias culturas e isso representa um crivo crítico de maior qualidade”, afirmou.
O livro, de acordo com Volpato, é direcionado para a redação científica em geral, incluindo todas as áreas das ciências biológicas, ciências da vida, humanas e exatas.
“O foco está no que chamamos de ciência empírica – que é aquela ciência que precisa de dados para ter conclusões. Portanto, não se aplica muito bem à filosofia, por exemplo. Mas poderá ser utilizado pela maior parte dos pesquisadores das outras áreas”, disse.
• Pérolas da redação científica
Autor: Gilson Volpato
Lançamento: 2010
Preço: R$ 36
Mais informações: www.bestwriting.com.br

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Astronomia


Um cientista grego de nome Aristarco, que viveu no século III a.C., acreditava que a Terra e todos os outros planetas giravam em volta do Sol. Não o podia provar, no entanto, e por isso foram muito poucos os que se mostraram dispostos a acreditá-lo.
Muitas centenas de anos passaram antes que se pudesse reunir um número suficiente de informações exactas sobre os planetas capaz de enfraquecer a convicção de que tudo girava em torno da Terra.
Em 1543 o astrónomo polaco Nicolau Copérnico publicou um livro em que renovava a tese de que os planetas descrevem órbitas à volta de um ponto situado perto do Sol, e não em torno da Terra. Ainda não se dispunha de observações capazes de demonstrar a verdade da teoria, mas desta vez a tese foi bem recebida pelos outros astrónomos. Embora o sistema copernicano continuasse a utilizar deferentes e epiciclos, tornou muito mais simples o cálculo de futuras posições dos planetas.
Menos de cem anos depois de Copérnico, o astrónomo alemão Johannes Kepler efectuou uma série de cálculos sobre a órbita de Marte. Em consequência disso, descobriu que se podia por de lado toda a complicada utilização de deferentes e epiciclos. Marte, descobriu Kepler, desloca-se em torno do Sol numa trajectória oval, chamada elipse; com certeza que os outros planetas se deverão mover da mesma maneira, foi a conclusão a que Kepler finalmente chegou.
Mas ninguém sabia ainda porque é que os planetas deveriam descrever elipses.
A resposta não seria descoberta antes de 1687, quando o inglês Isaac Newton descobriu a Lei da Gravitação Universal. Newton mostrou que a gravidade «exigia» que os planetas se deslocassem em círculos ou elipses à volta do Sol.
Finalmente tínhamos uma teoria que combinava todo o conhecimento que o homem até então alcançara sobre o Universo, e que também provava que todos os corpos celestes, sejam eles quais forem, se comportam de harmonia com as leis da Física.
Fora dado um gigantesco passo em frente na maneira de os homens conceberem a Astronomia.
Fonte: "Segredos do Cosmos", Colin A. Ronan, página 30, (1964)