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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

ADEUS ÀS ARMAS


Há 90 anos terminava a Iª Guerra Mundial e começava a preparação das conversações de paz em Paris. Um tratado que, de resto, humilharia a Alemanha e seria, mais tarde, explorado pela propaganda nazi. Esta efeméridade é comemorada em quase toda a Europa, excepção feita a Portugal, também país beligerante. E que perdeu mais soldados em Moçambique do que na batalha de La Lys, na Flandres (comemorada anualmente a 9 de Abril).
Quatro anos de guerra mudaram o mundo e começaram a transformá-lo naquilo que é hoje. Uma transformação a que Portugal, arrastado para o conflito a partir de 1916, por causa das colônias africanas, não ficou imune: precipitava-se a crise da Iª Republica que morreria a 28 de Maio de 1926, com o pronunciamento de Gomes da Costa, ironicamente, o chefe do Corpo Expedicionário Português na Flandres.
A Europa sai enfraquecida do conflito mundial, enquanto os EUA se reforçam. A revolução triunfa na Rússia, que passa do czarismo, quase feudal, para o primeiro regime comunista do mundo.
A guerra chega a África e as tropas coloniais são mobilizadas para combater, não só à porta de casa, como na Flandres. Senegaleses, argelinos e malgaxes morreram aos milhares para defender a França metropolitana. Com isso estavam lançadas as primeiras sementes do nacionalismo africano. Quatro impérios desapareceram de cena: o alemão, o austríaco, o russo e o turco.
O poder de fogo da metralhadora gerou a guerra de trincheiras. Os gases, os aviões armados e o tanque de guerra surgiram para tentar quebrar o impasse na frente européia. Londres e Paris sofrem bombardeamentos aéreos.
Com os homens mobilizados, as mulheres entram, de vez, no mercado de trabalho. não é só a guerra que é global, as pragas também: uma mutação do vírus vai matar cinco vezes mais do que as balas.

Avião

Os aviões, todos biplanos, excepto o famoso triplano Fokker celebrizado pelo Barão Vermelho, mais ágil mas mais lento, começaram pela observação do campo de batalha. Não tardou que transportassem bombas e metralhadoras. Graças a uma invenção francesa que rapidamente se generalizou, o tiro foi sincronizado com as hélices passando a ser frontal.

Dirigível

Pouco mais lentos, mais bem armados, com maior capacidade de carga e raio de acção que os aviões, os balões dirigíveis alemães pretendiam ser os reis do céu. A prática não confirmou a teoria. Dos 88 Zeppelins construídos, perderam-se 60 durante a guerra, metade dos quais em acidentes. Ainda assim, bombardearam Paris e Londres, em 1915, causando centenas de mortos e inaugurando um século marcado pelos ataques aéreos a civis.

Tanque

Foi a solução tecnológica para acabar com a guerra das trincheiras, proporcionando protecçao e poder de fogo à infantaria durante os assaltos. Em 1918, surgiu o Renault FT-17, Frances, ágil, eficaz e com uma tripulação de dois homens. As lagartas de perfil baixo e a peça colocada numa torreta rotativa tornaram-se universais em todos os blindados fabricados daí em diante.

Primórdios do blindado

Os britânicos foram os primeiros a usar os taques, embora com sucesso limitado, na ofensiva de Somme em 1916. esse primeiro modelo, o Mark 1, britânico (sete homens, 30 toneladas), era pesado e lento.

Submarino

Poucos anos antes da guerra, sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, escrevera um conto em que uma pequena potência levava o império britânico à rendição graças a um bloqueio submarino. Os submarinos alemães não andaram longe desse objectivo mas o torpedeamento sistemático de navios neutrais, como o paquete norte-americano “Lusitânia”, contribuiu para a entrada dos EUA na guerra. O U139 (100 metros de comprido, duas peças de 105 mm e seis tubos de torpedos) a 14 de Outubro de 1918, afundou o caça-minas “Augusto de Castilho” ao largo dos Açores.

Metralhadora

Embora inventada em 1862, foi nesta guerra que o seu uso se generalizou. Montada sobre tripé, alimentada por fita e operada por dois ou três serventes, o seu poder de fogo (dez tiros por segundo) acabou com os assaltos frontais. A guerra de movimento, sucedeu o intricheiramento geral, até porque também a artilharia se tornou mais numerosa, potente e precisa.

Gás

Os alemães usaram cilindros de cloro em 22 de Abril de 1915, na frente de Ypres, causando 4.000 baixas britânicas quando o vento levou a nuvem tóxica até às suas trincheiras. Seguiu-se, em Dezembro, na mesma frente, o fosgénio, mais activo e sem cheiro. Em Julho de 1917 os alemães usaram yperite ou gás de mostarda (dicloroetimina) com efeito vesicante (actuando, também, através da pele), disparada pela artilharia. O uso do equipamento protector era incómodo e tirava mobilidade aos combatentes. 20 mil mortos na Frente Ocidental.

MITOS E CURIOSIDADES

Facada nas costas


A propaganda nazi explorará, a partir de 1923, o mito da traição por, após a abdicação do imperador Guilherme II, o Governo republicano ter pedido a paz quando, supostamente, o exército alemão ainda podia combater. Na verdade, logo em Setembro de 1918 o marechal Ludendorff, comandante supremo, pressionara o imperador para pedir a paz, perante a superioridade aliada.

Gripe pneumônica

Se a Grande Guerra matou dez milhões esta epidemia causou cinco vezes mais vitimas em todo o mundo (Outubro de 1918 a 1919). As más condições sanitárias ligadas à guerra não explicam tudo: esta mutação do vírus gripal vitimava, também, adultos jovens e vigorosos. Em Portugal matou entre 60 a 150.000 pessoas. O pintor vanguardista Amadeu de Sousa-Cardoso foi uma delas.

Táxis de Paris

O transporte de reservas para a frente do Marne (Setembro de 1914) a bordo dos taxis salvou Paris? De facto, teve mais importância simbólica que táctica. Em 1916, para defender Verdun, o general Pétain criou a primeira auto-estrada da história entre esta praça-forte e Bar-le-Duc (40 quilomêetros de sentido único para evacuação de feridos e reabastecimento.

Ataque alemão ao Funchal

Um submarino alemão bombardeou o Funchal e torpedeou navios aliados no porto a 3 de Dezembro de 1916, registando-se 33 tripulantes mortos, mais oito civis portugueses. A 12 de Dezembro de 1917; novo canhoeiro atinge a sé, ferindo o padre que celebrava a missa e matando cinco pessoas. Em 1918; outro submarino atacou ao largo de Aveiro, sendo perseguido por hidroaviões franceses da base de São Jacinto.

Mortos em África

Morreram mais soldados portugueses em África (5.000) que na Flandres (2.100) – derrota do Corpo Expedicionário a 9 de Abril de 1918, em La Lys. O grosso das perdas (4.700) foi no norte de Moçambique e no Tanganica (Tanzânia), contra o lendário general alemão Von Lettow, cuja rendição só ocorreu semanas depois do fim oficial do conflito. No sul de Angola houve 300 mortos.

Fogo sobre Paris

Os piores bombardeamentos à capital francesa ocorreram, não no começo da guerra, quando o inimigo esteve ás portas da cidade, mas em 1918, durante a derradeira ofensiva alemã. Nessa altura o supercanhão alemão montado sobre carris, conhecido como “Grande Berta” disparou a 110 quilometros de distancia em Sait-Gobain, matando 88 pessoas na igreja de Sait-Gervais.

‘Rui Cardoso e Jaime Figueiredo’