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terça-feira, 10 de junho de 2008

EMBRIAGUEZ E NUTRIÇÃO

Os povos só são tão enganados porque procuram sempre um enganador, isto é um vinho excitante para os seus sentidos. Contanto que possam obter esse vinho, contentam-se com pão de má qualidade. A embriaguez lhes interessa mais que a alimentação – esta é a isca com que sempre se deixam pescar! Que significam para eles homens escolhidos em suas fileiras – mesmo que fossem os especialistas mais competentes – ao lado de conquistadores ilustres, de velhas e suntuosas casas principescas? Como mínimo seria necessário que o homem do povo, para ter sucesso, lhes abrisse a perspectiva de conquistas e de aparato: isso o levaria talvez a conseguir crédito. Os povos obedecem sempre e vão mais longe ainda, com a condição de poder embriagar-se! Não temos até mesmo o direito de lhes oferecer o prazer sem a coroa de louros, cuja força enlouquece. Mas esse gosto popularesco que considera a embriaguez mais importante que a nutrição não surgiu de modo algum das profundezas do populacho: foi, pelo contrário transportado e transplantado para crescer tardiamente com mais abundancia, embora tenha a sua origem nas inteligências mais altas, onde floresceu durante milhares de anos. O povo é o último terreno inculto onde pode ainda prosperar essa esplendorosa erva daninha. – Como! E é justamente ao povo que se gostaria de confiar a política? Para que nela alimente a sua embriaguez cotidiana?

‘Friedrich Nietzsche’

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