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terça-feira, 29 de abril de 2008

AURORA

Aurora significa o despertar de uma nova moralidade. É a emancipação da razão diante da moral. Uma vez que a moralidade não é outra coisa que a obediência aos costumes, de qualquer natureza que estes sejam, Aurora quer romper essa maneira tradicional de agir e de se avaliar. Portanto, á medida que o sentido da casualidade aumenta, diminui a extensão do domínio da moralidade. De fato, a compreensão das ligações efetivas da casualidade destrói considerável número de causalidades imaginarias que foram sendo julgadas no decurso dos tempos como; fundamentos da moral. O poder libertador da razão tem em si a capacidade de desmistificar significados sociais instituídos pela tradição; o individuo, em sua atividade racional, se descobre como criador de novos valores. O individuo é capaz, portanto, de romper o elo histórico que une tradição e moralidade, opondo-lhe o binômio razão e afirmação de si. O mundo da tradição é essencialmente aquele em que os valores da autoridade são indiscutíveis. Para reverter essa situação, para conferir à humanidade um renovado status de independência e liberdade, nada mais decisivo que a loucura. Com efeito, num mundo submisso à tradição, idéias novas e divergentes, apreciações e juízos de valor contrário só puderam surgir e se enraizar apresentando-se sob a figura da loucura. “Quase em toda a parte, é a loucura que aplaina o caminho da idéia nova, que condena a imposição de um costume, de uma superstição venerada”, como diz o próprio Nietzsche.
Dentro dessa perspectiva, Aurora se configura realmente como um novo dealbar, como novos albores na história da individualidade num contexto social. Um novo ser se desenha. Uma nova forma de pensar, de agir e de se comportar. Um novo ideal de si diante do outro, um novo ideal de cada um diante da sociedade. Um novo tempo. Uma nova vida. É tudo o que o homem quer. Ser e ser ele próprio. Assumir o passado enquanto possa representar uma riqueza para o presente e uma projeção para um futuro livre, independente e dessacralizado das imposições, preconceitos e superstições do passado calcado na moralidade dos costumes. Isso significa também desmistificar a história, libertá-la do seu romantismo, de suas ilusões, das suas crenças e da sua submissão aos idéias impostos pela fé cega e pela religião. Isso significa ainda entrar em outro campo da ética e da estética. Ter outra visão do mundo e das suas antigas “conquistas”, como que mergulhar em nova perspectiva do possível real, do racional, derrotando o irracional, o irrazoável, tudo o que foi imposto pela ditadura do pensamento ultrapassado, da ideologia preconceituosa, da religião imposta, nova perspectiva que deveria levar a repensar a finitude humana fora de todo o enfoque teológico e; por conseguinte, levar a libertar toda a moralidade daquilo que ela representa, ou seja, o ônus dos costumes, de uma tradição milenar, de uma religião sufocante.
Com essas principais referencias, em Aurora, Nietzsche discute a historia dos costumes e da moralidade, a história do pensamento e do conhecimento, além de ressaltar os preconceitos cristãos que vararam a história da humanidade. A seguir, se concentra ema analisar a natureza e a história dos sentimentos morais, dos preconceitos filosóficos e dos preconceitos da moral altruísta. Continua depois estabelecendo o contraponto entre cultura e culturas ou civilização e civilizações, para ressaltar a intervenção do estado, da política e dos povos na história. Finalmente, parece divertir-se ao apresentar coisas essencialmente humanas e corriqueiras e pintar o universo do pensador. Como a aurora anuncia um novo dia, Aurora, para Nietzsche, é também um novo despertar para uma verdadeira vida – do homem e da humanidade inteira.


‘Ciro Mioranza’

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