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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Deslinguísticos

Mia Couto, um inteligente fabricador de mitos “deslinguísticos”


Ele um dia pensou:

“Vou desrevelar o meu povo, o povo a que eu despertenço, vou criar um universo de anedotário poético, vou desapontar sofrimento, e ansiedade e grotesco, vou destrancar malvadezas dos homens que pilharam as terras e as subjugaram com cruelvadez, vou mitificar um universo de risota e dor, vou mostrar toda a minha empatia, vou seguir na esteira de Gabriel Garcia Marquez na mitificação, Vergílio Ferreira e outros, talvez franceses, na desconstrução verbal do estilo “nouveau roman”, vou ser astuto e subtil e inteligente, como poeta, como prosador, como linguista. E serei célebre.”

E todos os que o leram e lêem, abrem os olhos de espanto, as bocas de riso, as almas de encanto.

Pela originalidade, sim, do discurso de alianças verbais e semânticas, ou de incorrecções gramaticais que, traduzindo influências lusófonas, insidiosamente pretende troçar dessa lusofonia que os portugueses não conseguiram promover totalmente nas terras que lhes pertenceram por direitos de descoberta e de conquista.

Como fizeram outrora, Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Visigodos, Árabes, nas invasões progressivas aos solos distantes das suas pátrias, levando comércio e criando civilização nessa Península Ibérica que também o foi da gente lusa.

Mia Couto sabe que pode torpedear esses aventureiros lusos de outrora, pois encontrou campo aberto, no solo nacional dos lusos de agora, para o acolher com ternura, na concordância com os ódios anticolonialiatas, e com os afectos africanistas.

Sendo branco de coloração, a desempatia pelo branco da colonização é claramente sugerida na meigice arteira com que descobre a raça negra da sujeição, e da altivez também e da revolta. Também no grotesco da caricatura, e na poeticidade dos seus vários mitos.

E tudo isso lhe fornece prémios. E fama. Talvez merecidos.

Mas o encanto e a admiração que sinto, transforma-se em desprezo. Pelo simples facto da sua coloração exterior branca.

Fosse ela negra e admiraria as capacidades indiscutíveis da imaginação e do discurso, Viriato moderno no ataque ao intruso “Romano”.

Assim, sinto o desprezo pela traição aos da sua raça.

Berta Brás

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