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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Dilemas do crescimento sustentável

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – A continuidade do crescimento econômico é compatível com o que se convencionou chamar de sustentabilidade? O progresso social sempre dependerá do crescimento econômico? As análises usadas para se avaliar essa relação estão baseadas em convenções ultrapassadas, criadas quando nem se percebia a existência do aquecimento global?
Essas e outras questões estão no centro das discussões do livro Mundo em Transe: Do aquecimento global ao ecodesenvolvimento, do economista e especialista em desenvolvimento sustentável José Eli da Veiga.
O livro, que chega durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), que esta a decorrer em Copenhague, na Dinamarca, está centrado principalmente na discussão do aquecimento global, mas também discute a transição para a economia de baixo carbono e a questão do monitoramento do ecodesenvovimento.
Segundo o autor, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), a transição para uma economia de baixo carbono já avançou mais do que se imagina.
“Esse processo começou há mais de 35 anos com a Dinamarca, que tomou a decisão política de reduzir a dependência do petróleo desde a primeira grande crise energética, na década de 1970, buscando alternativas que não comprometessem seu desenvolvimento”, disse à Agência FAPESP.
Mas, segundo Veiga, a questão é que, apesar de ter avançado muito também em outros países, a redução de emissão de carbono não resolve o problema, uma vez que “as emissões continuam aumentando”.
Na visão do autor, o que estimula as nações a se engajarem na transição ao baixo carbono é a visão de que o combate ao aquecimento global criará uma nova era de progresso e prosperidade.
“A descarbonização foi apenas relativa, pois, como se sabe, não resultou em movimento ao baixo carbono em termos absolutos. As emissões globais oriundas do uso de energias fósseis são cerca de 60% superiores às de 1980 e 80% acima das de 1970. Pior: são 40% superiores às de 1990, o ano base do Protocolo de Kyoto”, indicou.
O dilema, segundo Veiga, é que se de um lado houve redução do consumo de carbono por meio de inovações tecnológicas, de outro a escala da economia continua aumentando, anulando a redução que se obteve por meio do avanço tecnológico.

Segurança energética
O livro está dividido em quatro capítulos que “podem ser lidos separadamente, como se fossem ensaios autossuficientes”, segundo Veiga, mas que envolvem um encadeamento lógico fundamental.
Além da transição para o baixo carbono e da relação entre crescimento e sustentabilidade, o autor avança na discussão sobre o conceito de “decrescimento versus condição estável”. De acordo com o docente da USP, por mais que possa ser reduzida a intensidade de carbono da economia global, isso não aliviará a já excessiva pressão humana sobre os ecossistemas.
“Outro ponto que discuto é que não é óbvia a possibilidade de compatibilizar essa exigência de sustentabilidade ambiental com o anseio por mais crescimento econômico. A necessidade de superar o crescimento se coloca de forma inteiramente diferente segundo o grau de desenvolvimento atingido”, analisou.
Segundo Veiga, o pano de fundo na discussão em torno do aquecimento global não pode se limitar à pauta “altruísta”, segundo a qual os países deveriam ter um “compromisso ético com as próximas gerações por um mundo melhor”.
“Isso é importante e legítimo, mas tento inverter essa lógica. Tento mostrar que conta mais o problema da segurança energética no mundo hoje. E, em segundo lugar, que essa questão da segurança energética exige uma transição para energias renováveis e que isso é uma mostra de novas oportunidades para outra etapa do capitalismo. Esses dois problemas eminentemente econômicos pesam mais”, afirmou.
No último capítulo, Como monitorar o ecodesenvolvimento, o autor mostra como se mensura o desempenho econômico, a qualidade de vida e de como “não se mede ainda a sustentabilidade ambiental”.
“Será necessário monitorar o desenvolvimento sustentável com indicadores menos toscos que o Produto Interno Bruto e o Índice de Desenvolvimento Humano”, destacou.


Mais informações: www.autoresassociados.com.br

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