Total de visualizações de página

terça-feira, 13 de julho de 2010

Que cultura?

O realizador David Lynch está entre a espada e a parede: de um lado está uma Hollywood sem dinheiro e do outro um Estado que encolhe os ombros. Para fazer filmes, Lynch teve de apelar à criatividade: está a pedir aos seus fãs que financiem o seu trabalho.
É um caminho que não cativaria muitos dos criadores portugueses. Voltaire dizia, com um espírito um pouco tortuoso, que a arte da medicina consistia em entreter o paciente enquanto a natureza curava a doença. Ressalvando-se o óbvio exagero, poderia dizer-se que alguns políticos acreditam que a sua grande arte é entreter o eleitor, enquanto o Estado e o mercado resolvem o problema.

Claro que chegamos rapidamente à conclusão que "entretenimento" é uma palavra que ocupou definitivamente o território daquilo que antigamente considerávamos actividades sérias. A ministra da Cultura, por exemplo, entretém os eleitores quando, num gesto típico de um actor, mostra grande satisfação pela demissão de um director-geral do ministério que tutela. Já nada é impossível neste meio pequenino.

O Ministério da Cultura é, desde há muito tempo, um labirinto de contradições e paradoxos. Especialmente desde que Manuel Maria Carrilho fez da dádiva e do subsídio a mãe de todas as políticas culturais indígenas. Ultimamente, sem dinheiro no mealheiro, o ministério tornou-se uma inexistência, porque já nem tem dinheiro para distribuir mel. Ninguém parece entender que este modelo faliu. Nele, uma ministra finge que o é e alguns cidadãos julgam ter direito ao subsídio eterno. Tudo isto é um filme de série Z.


"Fernando Sobral"

Nenhum comentário: