Obsessão pela felicidade
A busca pela felicidade é algo saudável.
Mas alguns pesquisadores começam a alertar que, pouco a pouco, essa  busca está se transformando em uma obsessão muito pouco saudável.
Na verdade, a busca pela felicidade já está sendo comparada a uma  obsessão religiosa - aquela visão fundamentalista, presente em todas as  religiões, em todos os tempos.
Felicidade agora
Depois de um milênio e meio da chamada "cultura ocidental", nem  Católicos e nem Protestantes viam a felicidade como algo a ser  alcançado. O objetivo sempre fora livrar-se do pecado original, ganhar a  salvação e ser feliz só depois da morte.
Mas veio o Iluminismo e, com ele, a noção de que a felicidade era  algo para o presente e para esta vida corporal. Não seria necessário  esperar pela morte para obter a felicidade - sem contar o risco de não  se conseguir alcançá-la.
Renúncia e desprendimento logo deram lugar a outras "virtudes", que deveriam permitir cada vez mais momentos de felicidade.
Mas o filósofo francês Pascal Bruckner aponta é que, embora esse seja  um bom objetivo, as pessoas estão se tornando infelizes em nome de sua  busca pela felicidade.
"A felicidade se tornou um bem a ser vendido. O capitalismo exige que  nós compremos, e, se temos que comprar, temos que buscar nossa  satisfação nas compras. É por isso que as maiores lojas e empresas  colocam a palavra felicidade em suas campanhas de marketing: 'estamos  trabalhando pela sua felicidade', e por aí afora," afirmou ele em um  artigo publicado na revista New Scientist.
Felicidade volátil
Esta cultura do consumo vem misturando a felicidade com tudo,  incluindo perfumes, cremes, xampus, mas também com a busca por saúde,  que logo se transforma em uma busca sem fim pela longevidade e até por  uma obsessão por uma inalcançável juventude eterna.
O problema é que a felicidade parece se esvair com o momento da  compra. E a última crise financeira mostrou que a maioria das pessoas  sequer consegue arcar com suas contas - débitos em parte assumidos em  busca da felicidade.
"Mas você não pode comprar a felicidade ou construí-la como uma casa,  ou pedi-la como faz com um prato em um restaurante. Ela é muito mais  caprichosa e difícil," diz Bruckner.
Caminho para a felicidade
Para ele, o maior obstáculo à felicidade são as próprias pessoas, que  precisam se reeducar para atingir seus ideais, vencendo os tabus  criados pela sociedade consumista - cujo único compromisso é o próprio  consumo.
"O fato de que a depressão seja uma das doenças mais prevalentes hoje  deve-se provavelmente ao fato de que a felicidade tornou-se o único  horizonte: a depressão emerge quando você não consegue ser feliz, é um  colapso interno," afirma.
Como não alcançam a felicidade, em vez de parar e repensar seus  objetivos ou suas táticas, as pessoas tentam procurá-la com um afinco  cada vez maior, transformando a busca pela felicidade uma tarefa em  tempo integral.
"As pessoas estão sempre se perguntando, 'Será que sou realmente  feliz?', 'É isto que eu estava procurando?' Em vez disso, elas deveriam  assumir uma visão mais relaxada: a felicidade vem e vai," propõe o  escritor.
O que é felicidade
Para ele, felicidade é um momento de encantamento, quando as pessoas  abandonam suas preocupações e sentem alcançar um estado mental diferente  daquele do dia-a-dia.
"O que me faz feliz? Uma boa noite de sono, ter ideais, um bom  projeto. Se você tem uma paixão, ela torna sua vida mais fácil, mesmo  que você tenha dúvidas ou momentos de tristeza. Ter a felicidade como  único objetivo torna as pessoas malucas, é muito difícil, e você não vai  saber quando chegou lá porque não há uma definição precisa de  felicidade," diz Bruckner.

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