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sábado, 14 de junho de 2008

CEGUEIRA DOS PENSADORES EM RELAÇÃO ÀS CORES

Os gregos viam a natureza de maneira diferente da nossa, pois, devemos admitir que seu olho era cego para o azul e para o verde e que viam, em vez do azul, um castanho mais carregado, em vez de verde, um amarelo (designavam, pois, com a mesma palavra, a cor de uma cabeleira escura, aquela do mirtilo e aquela dos mares meridionais, e ainda, pela mesma palavra, a cor das plantas verdes e da pele humana, do mel e das resinas amarela: de modo que os seus maiores pintores, como foi demonstrado, não puderam reproduzir o mundo que os cercava senão pelo preto, pelo branco, pelo vermelho e pelo amarelo). – Como lhes devia parecer diferente a natureza e mais próxima do homem, pois aos seus olhos as cores do homem predominavam igualmente na natureza e esta, por assim dizer, se banhava no éter colorido da humanidade! (O azul e o verde despojam a natureza da sua humanidade mais que qualquer oura cor). Foi por esse defeito que se desenvolveu a facilidade infantil, peculiar dos gregos, de considerar os fenômenos da natureza como deuses e semi-deuses, isto é, de vê-los sob forma humana. – mas que isso sirva de símbolo a outra hipótese. Todo o pensador pinta seu mundo particular dele e as coisas que o cercam com menos cores do que as que existem, e é cego a algumas. Não é apenas um defeito. Graças a essa aproximação e a essa simplificação, ele empresta às coisas harmonias de cores extremamente que têm um grande encanto e que podem produzir um enriquecimento da natureza. Talvez seja mesmo por essa via somente que a humanidade aprendeu a usufruir do espetáculo da vida: graças ao fato de que a existência lhe foi inicialmente apresentada com uma ou duas tonalidades e, por conseguinte, de uma forma mais harmoniosa: ela se habituou, por assim dizer, com esses tons simples, antes de passar a nuances mais variadas. Ainda hoje, certos indivíduos se esforçam para sair de uma cegueira parcial para chegar a uma vida mais rica e a uma diferenciação maior; fazendo isso, não encontram somente novos prazeres, mas são forçados também a abandonar e perder alguns antigos.

‘Friedrich Nietzsche’

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