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terça-feira, 10 de junho de 2008

SOBRE A GRANDE POLÍTICA

Qualquer que seja a parte que tomem, na grande política, o interesse e a vaidade dos indivíduos como dos povos, a força mais viva que os impele a avançar é a necessidade de poder que; não somente na alma dos soberanos e dos poderosos, mas também, e não em mínima parte, nas camadas inferiores do povo, brota de tempos em tempos de fontes inesgotáveis. O momento volta sempre onde as massas estão prontas a sacrificar a sua vida, sua chega sempre um momento em que a massa está disposta a arriscar a sua vida, sua fortuna, sua consciência, sua virtude para obter esse prazer superior e para reinar, como nação vitoriosa e tiranicamente arbitraria, sobre outras nações (ou pelo menos pra imaginar que reinam). Então os sentimentos de prodigalidade, se sacrifício, de esperança, de confiança, de audácia extrema, de entusiasmo brotam com tal abundancia que o soberano ambicioso ou previdente com sabedoria pode tomar o primeiro pretexto para uma guerra e substituir á sua justiça a boa consciência do povo. Os grandes conquistadores sempre tiveram nos lábios a linguagem patética da virtude: estavam sempre rodeados de massas que se encontravam em estado de exaltação e somente queriam ouvir discursos exaltados. Estranha loucura dos juízos morais! Quando o homem experimenta um sentimento de poder, ele se julga e se declara bom: e é justamente então que os outros, sobre os quais é obrigado a desencadear o seu poder, o declaram mau! – Hesíodo (Hesíodo – século VIII a.c. – poeta grego), em sua fabula das idades do homem, descreveu duas vezes seguidas a mesma época, aquela dos heróis de Homero, e é assim que de uma só época fez duas: vista por aqueles que foram submetidos ao domínio terrível, á espantosa pressão desses heróis aventureiros da força ou que deles haviam ouvido falar os seus antepassados, essa época aprecia como má: mas os descendentes dessas gerações cavaleirescas veneravam nela um bom velho tempo, quase feliz. É por isso que o poeta não conseguiu ter outra saída senão aquela que apresentou – pois tinha provavelmente em torno dele ouvintes dos dois tipos!

‘Friedrich Nietzsche’

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