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sábado, 14 de junho de 2008

NÓS, AERONAUTAS DO ESPÍRITO

Todas essas ousadas aves que voam para espaços distantes, sempre mais distantes – virá certamente um momento em que não poderão ir mais longe e vão pousar sobre um mastro ou sobre um árido recife – bem felizes ainda por encontrarem esse miserável refúgio! Mas quem teria o direito de concluir disso que diante delas não se abre uma imensa via livre e sem fim e que voaram para tão longe quanto é possível voar? Entretanto, todos os nossos grandes iniciadores e todos os nos precursores acabaram por parar e o gesto da fadiga que pára não é das atitudes mais nobres e mais graciosas: isso vai acontecer tanto para mim como para ti! Mas que me importa e que te importa! Outras aves voarão mais longe! Este pensamento, essa fé que nos anima, toma seu impulso, rivaliza com elas, voa sempre mais longe, mais alto, se lança diretamente para o ar, acima da nossa cabeça e da impotência da nossa cabeça e do alto do céu vê na imensidão do espaço; vê agrupamentos de aves bem mais poderosas que nós e que se lançaram na direção para a qual nos lançamos, onde tudo ainda é só mar, mar, e sempre mar! – para onde então queremos ir? Queremos ultrapassar o mar? Para onde nos arrasta essa poderosa paixão que para nós conta mais que qualquer outra paixão? Por que esse vôo perdido nessa direção, para o ponto até agora todos os sóis declinaram e se extinguiram? Dir-se-á talvez um dia que nós também, dirigindo-nos sempre para o oeste, esperávamos atingir uma Índia desconhecida – mas que era nosso destino encalhar diante do infinito? Ou então, meus irmãos, ou então?

‘Friedrich Nietzsche’

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