Total de visualizações de página

terça-feira, 10 de junho de 2008

HOMENS MELHORES

Dizem-me que nossa arte se dirige aos homens de hoje, ávidos, insaciáveis, indomáveis, desgostosos, atormentados e que lhes mostra uma imagem da beatitude, da elevação, da sublimidade, ao lado da imagem de sua feiúra: a fim de que possam de uma vez por todas esquecer e respirar livremente, talvez até mesmo extrair desse esquecimento um incentivo à fuga e à conversão. Pobres artistas, que têm semelhante público! Com tais segundas intenções, dignas do padre e do médico psiquiatra! Quanto mais feliz era Corneille (Pierre Corneille – 1606-1684 – poeta dramático francês) – “o grande Corneille”, como exclamava Madame de Sévigné (Marie de Rabutin-Cantal, madame de Sévigne – 1626-1926 – escritora francesa), com o tom da mulher diante de um homem completo – como era superior seu publico, para o qual ele podia fazer o bem com as imagens das virtudes cavaleirescas, do dever rigoroso, do sacrifício generoso, da heróica disciplina de si mesmo! Quão diversamente um e outro amavam a existência, não criada por uma “vontade” cega e inculta, que maldizemos porque não conseguimos destruí-la, mas como um lugar em que a grandeza e a humanidade são possíveis ao mesmo tempo e, onde; até mesmo a coação mais severa das formas, a submissão ao bom prazer principesco ou eclesiástico, não podem sufocar a altivez nem; o sentimento cavaleiresco nem a graça nem o espírito de cada individuo, mas são antes considerados como um encanto a mais e um estimulante cuja oposição reforça o domínio de si e a nobreza inata, o poder hereditário da vontade e da paixão!

‘Friedrich Nietzsche’

Nenhum comentário: