Total de visualizações de página

sábado, 14 de junho de 2008

O EMBELEZAMENTO DA CIÊNCIA

Da mesma forma que a arte dos jardins rococó nasceu de sentimento: “a natureza é feia, selvagem, aborrecida – pois bem! vamos embelezá-la!” – igualmente nasceu do sentimento: “a ciência é feia, árida, desesperada, difícil, aborrecida – pois bem! vamos embelezá-la” – provoca sempre e de novo alguma coisa que se chama filosofia. Esta quer o que querem todas as artes e todas as obras poéticas: divertir, antes de qualquer outra coisa. Mas ela quer isso em conformidade com um orgulho hereditário, de uma maneira superior e mais sublime, diante dos espíritos de elite. Criar para ela uma arte dos jardins, cujo encanto principal seria, como para os espíritos “mais vulgares”, criar uma ilusão visual (por meio de templos, de perspectivas, de grutas, de labirintos, de cascatas, para utilizar metáforas), apresenta a ciência em resumo com todas as espécies de luzes maravilhosas e repentinas, incorporar nisso algo de bastante vago, de desrazão e de sonho, para que possamos ali passear “como na natureza selvagem”, mas sem custo e sem aborrecimento – esta não é uma ambição modesta: aquele que está possuído por ela, sonha mesmo em tornar supérflua a religião, religião que, para os homens de outrora, apresentava a forma suprema da arte do divertimento. – Doravante isso segue seu curso para atingir um dia o seu ponto culminante: já hoje começam a ser ouvidas vozes hostis à filosofia, vocês que gritam: “Retorno à ciência, à natureza e ao natural da ciência!” – anunciando talvez uma época que vai descobrir a beleza mais poderosa, justamente nas partes “selvagens e feias” da ciência, da mesma maneira que só depois de Rousseau nós descobrimos o sentido da beleza do alto das montanhas e dos desertos.

‘Friedrich Nietzsche’

Nenhum comentário: