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quarta-feira, 4 de junho de 2008

VALOR DA CRENÇA NAS PAIXÕES SOBRE-HUMANAS

A instituição do casamento mantém obstinadamente a crença que o amor, embora seja uma paixão, é, contudo, suscetível de durar enquanto paixão, a crença que o amor duradouro, o amor por toda a vida pode ser considerado como a regra. Por essa tenacidade de uma nobre crença, mantida apesar das refutações tão freqüentes que são quase a regra e que fazem dela por conseguinte, uma ‘pia fraus’, expressão latina que significa “piedosa fraude”, a instituição do casamento conferiu ao amor uma nobreza superior. Todas as instituições que concederam a uma paixão a crença em sua duração e a tornaram responsável por essa duração, contra a própria essência da paixão, reconheceram-lhe uma nova ordem: doravante aquele que é prisioneiro de uma paixão no vê mais nisso, como outrora, uma degradação ou uma ameaça, mas, pelo contrário, se sente elevado por ela perante si próprio e diante dos seus semelhantes. Pensemos nas instituições e nos costumes que fizeram do abandono fogoso de um instante uma fidelidade eterna, do prazer da cólera a eterna vingança, do desespero o luto eterno, da palavra súbita e única o compromisso eterno. Por semelhantes transformações, muita hipocrisia e mentira cada vez mais foram introduzidas no mundo: cada vez também, e a esse preço somente, um conceito sobre-humano que eleva o homem.

‘Friedrich Nietzsche’

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