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sábado, 14 de junho de 2008

DAS VIRTUDES DO FUTURO

Por que razão, quando mais compreensível se tornou o mundo, mais foi diminuída toda a espécie de solenidade? Teria sido porque o medo foi tão frequentemente o elemento fundamental dessa veneração que se apoderava de nós diante de tudo o que nos parecia desconhecido, misterioso, e nos levava a nos prosternar e pedir graça diante do incompreensível? E pelo fato de nos termos tornado menos receosos, não teria o mundo perdido para nós o seu encanto? Ao mesmo tempo nossa disposição ao temor, nossa própria dignidade, nossa solenidade, nossa própria aptidão a aterrorizar no teriam diminuído? No estimaremos talvez menos o mundo e a nós mesmos, desde que temos, a respeito dele e ao nosso, pensamentos mais corajosos? Viria talvez um momento, no futuro, em que essa coragem do pensador tivesse crescido tanto que tivesse o supremo orgulho de se sentir superior aos homens e ás coisas – em que o sábio, sendo o mais corajoso seria aquele que se visse a si mesmo e a existência completa abaixo dele? – Esse gênero de coragem que não se afasta de uma excessiva generosidade tem até agora feito falta à humanidade. Ah! Os poetas não queriam tornar-se novamente o que foram talvez outrora: visionários que nos dizem algum coisa daquilo que é possível! Hoje, que lhes retiramos das mãos e que é necessário sempre mais lhes retirar de suas mãos o real e o passado – pois já passou o tempo em que inocentemente se cunhava moeda falsa! – deveriam nos dizer alguma coisa daquilo que toca as virtudes do futuro! Ou das virtudes que não existirão nunca na terra, embora possam existir em alguma parte do mundo – as constelações purpúreas e as imensas vias lácteas do belo! Onde estão vocês, astrônomos do ideal?

‘Friedrich Nietzsche’

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