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sábado, 14 de junho de 2008

OS TIRANOS DO ESPIRITO

A marcha da ciência já não é contrariada, como o foi durante muito tempo, pelo fato acidental de que o homem vida aproximadamente setenta anos. Outrora se pretendia chegar ao topo do conhecimento durante esse espaço de tempo e os métodos de conhecimento eram apreciados em função desse desejo universal. As pequenas questões e experiências especiais eram consideradas desprezáveis, buscava-se o caminho mais curto, acreditava-se, uma vez que todo esse mundo terreno parecia organizado em função do homem, que a perceptibilidade das coisas estava também adaptada a uma medida humana do tempo. Tudo resolver de imediato e com uma só palavra – esse era o desejo secreto: o problema era representado sob o aspecto do nó górdio ou do ovo de Colombo; estava-se persuadido que era possível, no domínio do conhecimento, atingir o objetivo, á maneira de Alexandre ou de Colombo e elucidar todas as questões com uma só resposta: “Há um enigma a resolver”: assim é que a vida se apresentava aos olhos do filosofo; era preciso primeiro encontrar o enigma e condensar o problema do mundo na formula mais simples. A Ambição sem limites e a alegrai de ser o “decifrador do mundo” preenchiam os sonhos do pensador; nada lhe parecia valer a pena neste mundo se não fosse encontrar o meio de tudo conduzir a bom termo para ele! A filosofia era assim uma espécie de luta suprema pela tirania do espírito – ninguém duvidava que esta não fosse reservada a alguém muito feliz, sutil, inventivo, audacioso e poderoso – a um só! – e muitos, o último entre eles Schopenhauer, imaginaram que eram esse só e único. – Disso resulta que, em resumo, a ciência ficou até agora para trás em conseqüência da estreiteza moral de seus discípulos e que doravante é preciso entregar-se a ela com uma idéia diretriz mais elevada e mais generosa. “Que importa eu!” – Isso é que se encontra gravado sobre a porta dos pensamentos futuros.

‘Friedrich Nietzsche’

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