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quarta-feira, 4 de junho de 2008

O MUNDO DESCONHECIDO DO “SUJEITO”

Aquilo que os homens têm mais dificuldade em compreender é a sua ignorância sobre os mesmos, desde os tempos mais remotos até nossos dias! Não apenas em relação ao bem e ao mal, mas também em relação a coisas muito mais importantes! A antiga ilusão segundo a qual saberíamos perfeitamente e em todos os casos como se efetua a ação humana, continua viva. Não somente “Deus que vê os nossos corações”, não somente o homem que age e que reflete sobre a sua ação – mas também qualquer outra pessoa não duvida realmente de que compreende o fenômeno da ação em qualquer outra pessoa. “Sei o que quero e o que faço, sou livre e responsável dos meus atos, responsabilizo os outros por aquilo que fazem, posso nomear todas as possibilidades morais e todos os movimentos interiores que precedem uma ação; qualquer que seja a maneira pela qual vocês agem – nela me compreendo a mim mesmo e nela os compreendo a todos!” – Assim é que todos pensavam antigamente, é assim que todos pensam ainda. Sócrates e Platão que nessa matéria foram grandes céticos e admiráveis inovadores, eram, contudo, inocentemente crédulos quanto ao preconceito nefasto, a esse profundo erro, que afirma que “o justo entendimento deve ser seguido forçosamente pela ação justa”. Com esse principio eram sempre herdeiros da loucura e da presunção universais que pretendem que se conheça a essência de uma ação. “Seria terrível se a compreensão da essência do ato justo não fosse seguida pelo ato justo” – essa é a única forma que parecia necessária a esses grandes homens para provar esta idéia; o contrário lhes parecia inimaginável e insensato – e, no entanto, esse contrário responde à realidade nua e crua, demonstrada cotidianamente e a toda a hora, desde sempre! Não é essa precisamente a verdade “terrível” que o que se pode saber de um ato não basta nunca para realizá-lo, que a ponte que vai do entendimento o ato não foi estabelecida até hoje em nenhum caso! S ações não são nunca o que nos parecem ser! Custou-nos tanto aprender que as coisas exteriores não são o que parecem – pois bem, o mesmo deve ser dito em relação ao mundo interior! Os tos são realmente “qualquer coisa diferente” – no podemos dizer mais: e todos os atos são essencialmente desconhecidos. O contrário é e permanece a crença habitual; temos contra nós o mais antigo realismo; até aqui a humanidade pensava: “Uma ação é tal qual nos parece ser”. Relendo estas palavras me vem à mente uma passagem muito significativa de Schopenhauer que gostava de citar para provar que também ele permaneceu sempre agarrado, sem qualquer espécie de escrúpulo a este realismo moral: “Na realidade, cada um de nós é um juiz moral competente e perfeito, conhecendo precisamente o bem e o mal, santificado ao amar o bem e ao detestar o mal: “Na realidade, cada um de nós é um juiz moral; competente e perfeito, conhecendo precisamente o bem e o mal, santificado ao amar o bem e ao detestar o mal – cada um é tudo isso, uma vez que não são os seus próprios atos, mas atos estranhos que estão em causa, e que pode se contentar em provar ou desaprovar, enquanto que o peso da execução é levado pelas costas dos outros. Cada um pode, por conseguinte ter como professor o lugar de Deus.”

‘Friedrich Nietzsche’

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