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sábado, 14 de junho de 2008

PERIGO NA INOCÊNCIA

Os inocentes são eternas vitimas, pois sua inocência os impede de distinguir entre a medida e o exagero, de se mostrarem a tempo prudentes diante de si mesmos. É assim que as jovens inocentes, isto é, ignorantes, se habituam a prazeres afrodisíacos freqüentes e, mais tarde, esses prazeres lhes fazem cruelmente falta quando os maridos adoecem ou envelhecem antes da idade; é justamente porque, cândidas e confiantes, imaginam que as relações freqüentes são a regra e um direito que elas são levadas a uma necessidade que as expõe mais tarde às tentações mais violentas e pior ainda. Mas, para se situar num ponto de vista mais geral e mais elevado: aquele que ama um ser humano ou uma coisa, sem conhecê-lo, torna-se presa de qualquer coisa de que não gostaria se pudesse vê-la. Por toda a parte onde a experiência, as precauções, os movimentos prudentes são necessários, o inocente sofre mais cruelmente, pois deve beber cegamente a borra e o veneno mais secreto de uma coisa. Consideremos as praticas de todos os príncipes, das igrejas, das seitas, dos partidos, das corporações: não se emprega sempre o inocente como isca preferida nos casos mais difíceis Neoptolemo para roubar o arco e as setas, dos partidos, das corporações: não se emprega sempre o inocente como isca preferida nos; casos mais difíceis e mais desacreditados? – Como Ulisses utiliza o inocente Neoptolemo para roubar o arco e as setas do velho eremita doente de Lemnos. – O cristianismo, com seu desprezo do mundo, fez da ignorância uma virtude, talvez porque o resultado mais freqüente dessa inocência parece ser, como o indiquei, a falta, o sentimento da falta, o desespero, portanto, uma virtude que leva ao céu pelo desvio do inferno: pois, somente então as sombras do portal da salvação cristã podem se abrir, somente então a promessa de uma segunda inocência póstuma se torna eficaz: - é uma das mais belas invenções do cristianismo!

‘Friedrich Nietzsche’

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